O pequeno investidor tem uma oportunidade de conseguir ganhos maiores ao proteger seu patrimônio da inflação em meio à turbulência causada pela nova crise política, que atingiu em cheio o governo Michel Temer. A rentabilidade de papéis da dívida pública retornou a patamares que não eram registrados desde o final do ano passado, quando o governo começava a apresentar suas propostas de reformas.
Nesta quinta-feira (18), a remuneração do título Tesouro IPCA+, que paga a inflação e mais uma taxa de juros prefixada, voltou a ser de 6% ao ano, muito acima dos 4,99% do dia anterior. O ganho se manteve no começo desta sexta, mas à tarde recuou para 5,7%. O novo patamar, ao redor de 6%, não era visto desde dezembro do ano passado.
Foi no começo de dezembro que o presidente Michel Temer apresentou sua proposta de reforma da Previdência. Também naquele mês o governo anunciou medidas microeconômicas, como a liberação do saldo das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Depois da perspectiva de que as reformas econômicas poderiam, de fato, avançar, o mercado passou a prever queda ainda mais acelerada da Selic (taxa básica de juros da economia). O Banco Central indicou que os juros cairiam mais, e a rentabilidade dos títulos públicos recuou de forma mais intensa.
Hoje a Selic está em 11,25% ano ano. Antes das revelações de que Temer se reuniu com Joesley Batista, da JBS, a expectativa era de que a taxa terminasse o ano em 8,5%, segundo o Boletim Focus. Agora o mercado começa a falar em uma queda mais lenta dos juros, mas ainda não há uma revisão formal de expectativas.
No caso dos títulos prefixados, o ganho saltou de 9,19% para acima de 10% nos papéis com vencimento em 2020 e acima de 11% nos papéis mais longos.
No entanto, especialistas dizem que investir nesse momento é especular e isso envolve riscos.
“Qualquer movimento agora é especulativo. É uma oportunidade? É. Vale comprar a 6%? Vale. Mas para ganhar os 6% tem que esperar e tem que ser dinheiro novo”, sugere Marcia Dessen, diretora da Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros) e colunista da Folha de S.Paulo.
Isso porque o agravamento da crise pode levar a uma reversão de expectativas econômicas e novas altas de juros. Nesse caso, o atual patamar poderia ser menos atrativo do que parece hoje.
Para o professor William Eid Jr., professor da FGV, o maior objetivo do brasileiro ao investir ainda é proteger o dinheiro da inflação, mesmo que o cenário de inflação alta hoje pareça distante.
O índice oficial de preços hoje está em 4,08% no acumulado em 12 meses, abaixo do centro da meta, que é de 4,5% ao ano.
Por isso, investimentos em títulos como Tesouro IPCA+ ou fundos de renda fixa atrelados a índices podem ser bons investimentos.
RISCOS
Investimentos em títulos com componentes prefixados, como são o Tesouro Prefixado e o Tesouro IPCA+, são arriscados especialmente se o poupador precisar dos recursos antes do vencimento do título.
Em caso de alta da taxa de juros, o investimento se desvaloriza. Se precisar resgatar o valor antes, essa pessoa pode receber menos que o aplicado.
Eid Jr. e Dessen afirmam que, em meio a turbulência, o melhor é não sacar nenhum investimento. Novas aplicações, para aproveitar a alta de remuneração só devem ser feitas com dinheiro novo, como o das contas inativas do FGTS.
E quem quiser adotar a postura mais conservadora possível deve deixar o dinheiro em investimentos que acompanhem taxas de juros, como Tesouro Selic e Fundos DI, concluem. (Folhapress)