Em dois aspectos que já foram pontos fortes das gestões anteriores, o governador Marconi Perillo (PSDB) se vê hoje extremamente fragilizado: na relação com o funcionalismo e na articulação política da base aliada. Nos dois casos, as crises se intensificam e a junção delas pode representar uma barreira de peso ao projeto de reeleição.
Na semana passada, Marconi se irritou com servidores que fizeram manifestações em evento da Agrodefesa. Interrompeu discurso de auxiliar e ameaçou cortar gratificações autorizadas pelo governo. O rompante foi na mesma semana em que professores da rede estadual protestavam contra projeto de lei de reposição salarial, que não incluiu retroatividade a janeiro a todos os níveis, e em que integrantes da UEG cobravam as melhorias já tão prometidas em 14 anos.
No discurso, Marconi tem abordado um ponto que ajuda a explicar parte da insatisfação dos servidores. O tucano ressalta o passado e não acena para o futuro. Diz que passou a pagar o funcionalismo em dia quando assumiu o governo em 1999. Quer reconhecimento por algo que já não está mais em pauta três governos depois e que não faz parte mais da realidade.
É certo que é impossível atender as reivindicações de todas as categorias, mas o governo mostra que perdeu força no diálogo e na credibilidade que tinha com o funcionalismo. Enquanto nos dois governos anteriores Marconi contou com apoio de sindicatos e associações, agora o afastamento é cada vez maior. E o governo ainda não soube lidar com essa perda. Não consegue agir para reverter (ou ao menos minimizar) a situação.
Planejamento, definição de prioridades, diálogo, estudos técnicos, transparência e cumprimento de compromissos poderiam resgatar a confiança das categorias e reduzir os desgastes com servidores. Mas a gestão parece travada, tanto em relação às dificuldades de apresentar resultados como nos entraves políticos provocados pela disputa interna cada vez mais acirrada.
Aí entra o segundo aspecto de perda de força no governo. Na prática, o que vem ocorrendo é exatamente o contrário do que o governador falou em discurso ontem, em evento do PSDB. “Temos uma base muito harmoniosa, que discute tudo e resolve os problemas internamente. As coisas acontecem naturalmente, fluem. Ninguém impõe nada. As coisas sempre são conduzidas democraticamente.”
As lideranças políticas da base têm exposto cada vez mais as insatisfações e as trocas de ataques. Mostram que não têm havido discussões e soluções internamente. Falta gestão política. Os excessivos compromissos feitos por Marconi na campanha de 2010, as dificuldades de resultados do governo e as articulações para 2014 elevaram a temperatura entre aliados e atrapalham o andamento de projetos.
Na semana passada, o deputado federal Armando Vergílio (PSD) falou do descontentamento com auxiliares do governo que terminou com a saída de seu aliado Sílvio Sousa da Secretaria Metropolitana. Comentou que as divergências poderiam atrasar ainda mais ou até inviabilizar o projeto do VLT em Goiânia, o que mostra que as crises afetam a administração.
Sílvio saiu, mas e os demais secretários ou grupos em guerra?
Nos sucessivos episódios de fogo amigo, Marconi se mostra imobilizado, em dificuldades de firmar posição e colocar um ponto final nas crises.
Por conta das brigas e pressões, o governo não consegue implantar projetos ou promover mudanças, como a redução de comissionados, prometida há quatro meses, e que poderia garantir recursos para outras áreas prioritárias. O funcionalismo, por exemplo.
COM QUEM ANDAS
Não há provas de que o governo patrocinou a arapongagem (ou tentativa de) mostrada pela revista Carta Capital. Mas o casal acusado de articular os grampos atuou sempre em sintonia com auxiliares da comunicação do governo, cumpria ordens de assessores do governador e recebia elogios do perfil de Marconi nas redes sociais. Os métodos e o estilo na internet foram sempre aplaudidos pelo governo. A associação, então, é inevitável. Que sirva de alerta para a necessidade de uma comunicação mais profissional, técnica e de alto nível.