As bruscas movimentações na base de sustentação ao governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que agitaram os bastidores da sucessão em Goiás na semana que se finda, reforçam um dos mandamentos da política. Nesta seara não há amigos perenes, inimigos perenes, mas interesses perenes.
Aos fatos: tudo começa com a escolha pessoal de Caiado, de forma antecipada, o futuro candidato a vice-governador, uma das figuras emergentes do MDB, Daniel Vilela, contra quem o próprio Caiado disputou a última eleição para governador, e cujo o resultado das urnas demorou, por algum tempo, para fechar as feridas. Quem não se lembra que Daniel, no primeiro ano novo governo, mandava recados diretos para o governador: “Caiado, se não der conta, pede para sair”.
Na recente diáspora, atenção para dois personagens, hábeis articuladores políticos, dois líderes que sempre frequentaram os círculos mais influentes de poder no Estado: Sebastião Tejota, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), pai do vice-governador Lincoln Tejota e Jovair Arantes, ex-deputado federal, por anos considerado um dos cabeças do Congresso.
Embora adote um estilo reservado, a verdade é que Tejota não gostou da fritura exposta a que o filho foi submetido pelo governador, ao simplesmente descartá-lo do segundo posto hierárquico do estado, para viabilizar o acordo com o MDB.
Jovair, que circula com desenvoltura nos bastidores da política, viu como real a possibilidade de catapultar o filho, Henrique Arantes, ao importante posto de presidente da Assembleia Legislativa, com a ida Lissauer Vieira (PSD) para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), justamente no lugar de Tejota.
Seria uma articulação do tipo “todos ganham, ninguém perde”. Tejota voltaria à política como candidato à deputado estadual e herdaria as bases de Lissauer. O filho do conselheiro, Lincoln Tejota, seria indicado pelos deputados para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), com a aposentadoria do conselheiro Valcenor Braz.
A mosca na sopa é que Valcenor não tem tempo para aposentadoria integral, a não ser que as regras fossem alteradas, com o jogo em andamento. Uma emenda prepararia o terreno para uma “contagem especial” do tempo, aproveitando os cargos comissionados que ocupou antes de ir para o TCM. Mas, Valcenor não escondeu o temor de ter a aposentadoria questionada, por que é nula de pleno direito toda lei que atente contra o princípio constitucional da impessoalidade. E, este é o caso.
Nesse ínterim os deputados, capitaneados por Lissauer, aceleraram a indicação do deputado Humberto Aidar (MDB) para o Tribunal de Contas dos Municípios, o que na prática tirou o emedebista do comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ele, um aliado incondicional de Caiado.
A indicação foi consolidada essa semana. No mesmo dia, atendendo a um pedido do próprio Aidar, Lissauer teve um encontro com o governador em palácio. Oficialmente, a visita era apenas para apresentar as credenciais do novo conselheiro, mas não foi.
O governador atuou para colocar água fria na fervura e teria sinalizado que apoiaria firmemente a candidatura de Lissauer a deputado federal ou mesmo se ele pretendesse assumir vaga de conselheiro no TCE. O que se falava nos bastidores é que Caiado teria sido surpreendido com a movimentação silenciosa, mas potencialmente explosiva em sua base.
Em função da entrada direta do governador, a articulação entrou em compasso de espera. É preciso aguardar os próximos acontecimentos, ver como os atores vão se comportar. Seja lá o que acontecer no futuro, mais do que nunca prevalecerá a chamada “perspectiva de poder”. No cruel mundo da política, os fins justificam os meios e não há espaços para amadores. Política é movimento. Uns ganham terreno, outros perdem.