Em sua sexta edição, o Lollapalooza Brasil começa a exibir sua cara. Direcionado a um público muito jovem, opta por bandas emergentes, que têm repertório de hits recentes e fazem apresentações vigorosas, com poucas pausas. O público quer pular e dançar.
Diversas atrações se encaixam nesse modelo. No domingo (26), segundo e último dia do evento, dois nomes evidentes foram os galeses do Catfish and The Bottlemen e os irlandeses do Two Door Cinema Club. No sábado, o perfil define os americanos do Cage the Elephant.
A banda escalada para encerrar o festival, Strokes, era assim em seu surgimento nos EUA na década passada.
Começando o show debaixo de chuva, que parou após 15 minutos, o grupo priorizou o repertório do primeiro álbum, “Is This It” (2001), seu melhor trabalho.
Reforçando a fama de “difíceis”, os músicos usaram uma iluminação que deixava o palco numa penumbra. A banda errou o andamento de algumas músicas e houve intervalos estranhos entre os números. Um show irregular, salvo pelos hits.
Destinado a multidões, o festival ainda usa um nome de peso para garantir a venda de ingressos. Neste ano, o nome foi mesmo de peso.
O Metallica, que fechou a programação no sábado, teve grande responsabilidade pelo público de 100 mil pessoas que foi a Interlagos, recorde na história do Lolla Brasil para um único dia -em 2014, a banda Muse se apresentou no festival para um público de 90 mil, número igualado neste domingo.
A expectativa para os dois dias era de 180 mil. O total superou em 20 mil o público de 2016 e foi o maior das últimas quatro edições, todas em Interlagos -as duas primeiras, promovidas pela extinta Geo, foram no Jockey.
CRIVO
No line-up, houve espaço para atrações pop que passaram pelo crivo da indústria fonográfica, gente jovem vencedora de Grammy.
Foi o caso da dupla nova-iorquina The Chainsmokers, que se apresentou no sábado, e do cantor canadense The Weeknd, que mostrou no domingo um show priorizando seu último álbum, “Starboy”. Abriu com a faixa-título, para todo mundo cantar junto, e conseguiu bons momentos, como na sombria “Party Monster”.
Aos poucos, o festival vai trazendo levas de garotas pop a cada ano. Em edições anteriores, teve Marina and the Diamonds, St. Vincent e Halsey. Desta vez, a dinamarquesa Mø e a sueca Tove Lo cumpriram o papel de arrastar ao autódromo meninas vestidas como elas.
A participação brasileira na escalação teve nomes que poderiam conviver sem solavancos com esse perfil jovem e pop, como Céu e Suricato. Criolo e BaianaSystem deram um verniz político, abrindo espaço para o já habitual “Fora, Temer”.
Além do Metallica, que empolgou todas as faixas etárias, o público tiozão minoritário teve alento com os americanos do Rancid, na estrada da fúria desde o início dos anos 1990, e a “new wave” inglesa do Duran Duran, que jogou o público em 1981.
Correndo por fora, no sempre lotado palco Perry’s, a música eletrônica seguiu forte. O público recebeu com empolgação o emergente brasileiro Haikaiss e o astro holandês Martin Garrix.
Com moleques e veteranos nos palcos, o Lollapalooza ganha popularidade, mas a escalação fica rendida aos sucessos recentes. Não é um festival para se descobrir coisas novas. Quem vem já mostrou seu valor pop.