A jornalista Fabiana Pulcineli, do Jornal O Popular, considera que o debate político no Estado está “pobre”, diante das questões que poderiam ser levantadas. Em artigo publicado no Jornal nesta segunda-feira (17), ela afirmou que o Estado vive um momento de “acúmulo de problemas nas gestões públicas, com inversão de prioridades, falta de políticas públicas e de planejamento e má qualidade na prestação de serviços à população”.
Para ela, esse cenário poderia ser aproveitado para que soluções e caminhos fossem apontados. No entanto, segundo a opinião da jornalista “o debate no meio político goiano está centrado na troca de ataques, nas acusações rasas, em frases feitas e clichês que não discutem de forma madura e propositiva as possíveis formas de superar as dificuldades”.
Leia o artigo completo abaixo, também disponível no Jornal O Popular, para assinantes:
“CENA POLÍTICA
17/03/2014
Pobreza do debate
Difícil apontar na história política recente do Estado de Goiás um momento de tamanho acúmulo de problemas nas gestões públicas, com inversão de prioridades, falta de políticas públicas e de planejamento e má qualidade na prestação de serviços à população.
Difícil apontar hoje um setor da administração pública que tem apresentado resultados positivos e garantido a satisfação do cidadão goiano. No Estado e na capital, os desempenhos dos governos são reprovados pela maioria da população, resultado do descontentamento com os rumos das administrações.
Em meio a essa insatisfação e à cobrança por revisão de atos e comportamentos, seria natural que os grupos políticos do Estado se preocupassem, ainda mais em período de pré-campanha, em aprofundar a discussão sobre setores prioritários do governo e sobre soluções para os problemas do Estado. Seria natural que, tanto os atuais gestores como os candidatos, se mostrassem antenados a tudo isso.
Até agora, no entanto, o debate no meio político goiano está centrado na troca de ataques, nas acusações rasas, em frases feitas e clichês que não discutem de forma madura e propositiva as possíveis formas de superar as dificuldades.
Hoje, em vez de reconhecerem suas falhas e gargalos e tentar atuar de forma conjunta em várias áreas para resolvê-los, as gestões da capital e do Estado querem disputar quem tem mais contratempos. Ficam na torcida para que o outro lado enfrente mais obstáculos, sofra mais desgastes, como se isso fosse mais importante do que a satisfação do cidadão.
Um fala das dificuldades financeiras do outro, quando ambos deveriam buscar soluções para o grave problema do crescimento da folha e da falta de recursos para investimentos em seus próprios governos. Gastam mais energia trocando ataques do que investindo na melhoria de suas gestões.
Prefeitura e governo querem disputar, por exemplo, se o melhor ou o mais rápido é o VLT ou BRT, quando deveriam estar discutindo como integrar o sistema e melhorar a vida do usuário do transporte coletivo de Goiânia. Disputam quem recebe mais verba do governo federal ou quem termina primeiro um viaduto em vez de centrar esforços em elaborar projetos, ter força para garantir mais verbas e planejar um sistema que pense a capital de forma global. É assim também no debate sobre saúde e transporte coletivo – um jogando o problema para o colo do outro, tentando se eximir de responsabilidades.
Vão dizer que isso faz parte do jogo político. Até faz, mas não pode haver tamanha contaminação do debate. De forma excessiva, essas picuinhas apequenam as discussões de questões técnicas e só prejudicam o cidadão.
Os pré-candidatos colocados até agora também apontam a tendência de uma campanha eleitoral pouco produtiva para a discussão das questões de Estado. Não se tem visto a preparação de um debate que aprofunde, que evolua, que pense de forma mais ampla, que demonstre visão.
O pré-candidato do maior partido de oposição no Estado fala mais do dinheiro que já doou ou que pode doar e gastar em campanhas eleitorais do que das propostas que tem para o Estado. Questionado sobre propostas, solta um monte de senso comum e frases elaboradas pela equipe de marketing, sem explicar o que de fato pretende fazer se conseguir sentar-se à cadeira do Executivo.
O grupo governista segue preso ao passado, ressaltando o que já fez nas gestões anteriores, sem refletir sobre uma gestão que prioriza mais a publicidade do que a solução dos problemas e que tem dificuldades em demonstrar reciclagem de ideias. Qual será o grande projeto para uma nova gestão?
Outros dois parecem pensar que basta dizer que fizeram boas gestões em cidades do interior para ganhar confiança do eleitorado, como se fosse possível comparar seus feitos com a realidade do Estado.
A oposição por aqui prefere, por exemplo, fazer pressões políticas junto ao governo federal para barrar empréstimos ao Estado em vez de discutir tecnicamente as condições de arcar com os financiamentos, se os resultados são benéficos para o Estado, se o destino dos recursos é adequado, se há fiscalização, se vão melhorar a prestação de serviços. Não. Preferem choramingar às portas do Planalto que o dinheiro não poderia sair.
Política mesquinha e pobre, que ajuda a explicar parte dos problemas acumulados. A continuar assim, a descrença do eleitor só tende a aumentar.”