Ganhou força nas bancadas do PSDB na Câmara e do Senado, nesta quarta-feira (7), a movimentação para um desembarque do governo de Michel Temer. Senadores e deputados do partido, que é o principal aliado do PMDB no governo, se reuniram separadamente para avaliar o quadro político.
“Conversei com os senadores e a maioria deles defende a saída do governo e a entrega dos ministérios, mantendo o apoio à agenda [reformas]”, disse o líder da sigla na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).
“Alguns acham que não é o momento de sair. Mas há uma unanimidade, ou são quase todos, que acham que o Michel Temer não consegue terminar o governo.”
As declarações foram dadas logo após reunião da bancada de deputados. Outros tucanos relataram haver divisão, mas mesmo alguns dos que defendem a manutenção do apoio a Temer afirmam que a tendência é a de que o partido saia da base do governo.
O PSDB fará uma reunião “estendida” na próxima segunda-feira (12) para debater o assunto.
O encontro ocorreria nesta quinta (8), mas acabou sendo adiado para aguardar a conclusão de um julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode resultar na cassação de Temer.
Mesmo a atual expectativa de absolvição da chapa Dilma-Temer no tribunal não deve alterar a tendência de desembarque.
O presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), disse nesta quarta que “não vai parar de ter fato novo” contra Temer e que segunda é o “limite” para essa decisão.
O partido vem adiando há quase um mês a decisão sobre sua permanência. Os tucanos têm hoje quatro ministérios: Relações Exteriores, Cidades, Secretaria de Governo e Direitos Humanos, e correspondem à segunda maior sigla da base, ficando atrás apenas do PMDB de Temer.
Tasso, que até então vinha se mantendo como defensor da manutenção do partido no governo, deu sinais de que a posição pode ser revista. Após um almoço com a bancada do partido no Senado, afirmou que a legenda “não precisa ter cargo e ministérios para continuar apoiando as reformas”.
Um tucano disse à reportagem que ao permanecer como principal aliado do Palácio do Planalto, o PSDB pode “perder o bonde da história”.
De acordo com um dos presentes, o movimento de desembarque, que era mais forte entre os deputados, “ganhou” o presidente do partido. A decisão dele de chamar para a reunião dirigentes estaduais também reforça o movimento pró-saída.
O recuo do governo sobre Temer ter viajado em um jatinho particular para a Bahia em 2011, também pesou na visão de tucanos.
Na terça (6), o Palácio do Planalto negou a afirmação do empresário Joesley Batista, de que ele emprestou um avião para a família do presidente viajar ao litoral baiano.
Inicialmente, o Palácio disse que a viagem havia sido feita em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira). No dia seguinte, admitiu que o presidente voou em uma aeronave particular. Contudo, disse desconhecer o proprietário do avião.
DENÚNCIA
Nos bastidores, tucanos dizem o desembarque é um “caminho natural” e que forçar os parlamentares a permanecer na base pode implicar em alto custo político.
Para um tucano, que falou à reportagem em condição de anonimato, seria sacrificar o partido exigir dos deputados que votem de forma contrária a um eventual recebimento de denúncia de Temer, por exemplo.
A visão se deve ao fato de que a PGR (Procuradoria-Geral da República) deve apresentar em breve o pedido de uma investigação penal contra o presidente. Neste caso, como previsto à Constituição, é necessária a aprovação da Câmara por dois terços dos deputados.
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