Milhares de pessoas participaram de um protesto nesta segunda-feira (14) na fronteira entre a faixa de Gaza e Israel, que deixou ao menos 52 palestinos mortos após confronto entre tropas israelenses e os manifestantes, que criticavam a mudança da embaixada americana para Jerusalém.
Segundo as autoridades palestinas, mais de 2.000 pessoas ficaram feridas, sendo 770 por ferimentos a bala, 86 em estado grave. Entre os mortos, pelo menos seis têm menos de 18 anos. Não há informações sobre vítimas israelenses.
Segundo a agência de notícias Associated Press, é o maior número de mortos em um mesmo dia em confrontos entre Israel e palestinos desde 2014.
Com isso, este é o dia mais mais violento desde que os palestinos iniciaram uma onda de protestos há sete semanas -no dia 30 de março, foram 23 mortos e mais de mil feridos. Ao todo, já são 94 mortos no período.
Chamados de “a grande marcha de retorno”, os atos têm como principal alvo o aniversário de 70 anos da fundação de Israel, que ocorre nesta segunda (14) de acordo com o calendário gregoriano (a comemoração ocorreu em abril no calendário judaico). A data será comemorada em Jerusalém exatamente com a transferência da embaixada americana para a cidade.
Os palestinos planejam o maior de seus protestos para esta terça (15), quando relembram a “Nakba” (tragédia), como chamam a criação de Israel, quando cerca de 700 mil deles fugiram ou foram expulsos da região.
Outro alvo dos protestos é o bloqueio feito por Israel e Egito contra a faixa de Gaza. Ele foi imposto em uma tentativa de minar o poder do Hamas, grupo islâmico considerado terrorista por Tel Aviv e Washington e que controla a região desde 2007.
Na prática, porém, a facção conseguiu manter o controle sobre a faixa de Gaza, embora o bloqueio tenha piorado a condição de vida dos cerca de 2 milhões de moradores do local.
Nesta segunda, alto-falantes foram usados nas mesquitas para convocar os palestinos a se juntarem ao ato, que seguiu o roteiro dos anteriores. Ele começou de forma pacífica, com os manifestantes se reunindo próximos da fronteira entre a faixa de Gaza e Israel, mas logo descambou em violência quando grupos menores tentaram furar a cerca que delimita a divisa.
As tropas israelenses responderam abrindo fogo nos manifestantes, que começaram então a queimar pneus e a jogar pedras nos soldados.
O governo israelense disse que tomou todas as medidas para impedir que o ato atrapalhe as festividades pela mudança da embaixada. Autoridades americanas como Ivanka Trump e seu marido, Jared Kushner, assessor da Casa Branca para o Oriente Médio, vão participar da cerimônia nesta segunda.
“Minha recomendação para os moradores de Gaza: não fiquem cegos por Sinwar [líder do Hamas], que está mandando suas crianças para se sacrificarem sem utilidade. Nós vamos defender nossos cidadãos de todas as maneiras e não vamos permitir que a fronteira seja cruzada”, disse o ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman.
Segundo o Exército israelense, a segurança foi reforçada nas cidades próximas da fronteira, para impedir que manifestantes que consigam furar a cerca cheguem até Jerusalém.
O premiê palestino Rami Hamdallah criticou a a decisão de fazer a mudança de embaixada na véspera da “Nakba”. “Escolher um dia trágico na história palestina mostra uma grande insensibilidade e desrespeito pelos princípios centrais do processo de paz”, disse ele.
A OLP (Organização para a Libertação da Palestina), grupo rival do Hamas e responsável por comandar a Cisjordânia e a Autoridade Palestina, convocou uma greve geral para esta terça em “homenagem aos mártires” que morreram nesta segunda.
Embora Jerusalém seja oficialmente a capital de Israel, a maior parte da comunidade internacional mantém suas embaixadas em Tel Aviv e defende que o futuro da cidade deve fazer parte das negociações de paz entre israelenses e palestinos.
O presidente americano Donald Trump, porém, rompeu com essa tradição e anunciou em dezembro que faria a mudança da embaixada para Jerusalém, decisão que foi alvo de críticas não só dos líderes palestinos, mas também de diversos aliados europeus e da Rússia, para quem a transferência pode intensificar a violência na região.
O Congresso dos EUA aprovou uma lei em 1995 que previa o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e a transferência da embaixada, com prazo final em maio de 1999; no entanto, o texto permitia o adiamento da transferência por seis meses, e todos os presidentes desde então vinham adiando a mudança a cada meio ano. Em dezembro do ano passado, porém, Trump reconheceu a cidade como capital de Israel. (Folhapress)