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Brasil
| Em 3 meses atrás

Projeto que facilita porte de armas, relatado por Vanderlan, será analisado nesta terça no Senado

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O projeto de decreto legislativo (PDL) que facilita a posse de armas está na pauta do Plenário do Senado Federal desta terça-feira (27). O PDL 206/2024 anula trechos do Decreto 11.615, de 2023, assinado no ano passado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para diminuir a circulação de armas de fogo. Na semana passada, os senadores aprovaram a urgência na votação, acelerando a tramitação.

O projeto teve parecer favorável do relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o senador goiano Vanderlan Cardoso (PSD), em agosto. Caso aprovado, o PDL segue para promulgação.

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De autoria do deputado federal goiano Ismael Alexandrino (PSD-GO) e de outros deputados, o texto anula disposições do decreto que regula o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826,de 2003).

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Entre outras coisas, o PDL autoriza a coleção de armas automáticas de qualquer calibre e de semiautomáticas de longo alcance com calibres restritos. Além disso, também libera armamentos similares aos usados pelas Forças Armadas e ainda remove da lista de restrições as armas de pressão com calibre superior a seis milímetros. Confira abaixo!

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Clubes de tiro perto de escola ficam autorizados se projeto passar

Um dos pontos que o PDL cancela é a vedação para que clubes de tiro desportivo fiquem a menos de um quilômetro de distância em relação a instituições de ensino. Para Vanderlan, cabe às prefeituras regulamentar a localização desses estabelecimentos. 

O senador destacou em seu parecer que “a competência para regulamentar a localização de estabelecimentos é municipal, conforme os artigos 30 e 182 da Constituição Federal. A medida invade a competência municipal e prejudica a segurança jurídica das entidades já estabelecidas, inviabilizando a continuidade de suas atividades, além de não ter qualquer justificativa técnica de melhoria da segurança pública”. 

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Também há mudanças em relação às armas de gás comprimido ou por ação de mola (airsoft) acima de seis milímetros. Artefatos desse tipo, com calibre superior a seis milímetros, são de uso restrito das Forças Armadas ou de pessoas e instituições autorizadas pelo Exército e precisam de certificado de registro para atirador desportivo que use esse tipo de arma. As duas medidas são suprimidas do decreto pelo PDL 206/2023.

Decreto afrouxa vários pontos

Outra exigência do decreto que o PDL exclui são os limites para a prática de tiro desportivo, um número mínimo de treinamentos (8, 12 ou 20) e de competições (4, 6, 8) a cada 12 meses conforme os diferentes níveis de prática. Também é retirada do decreto do governo a proibição de se destinar arma de fogo restrita para atividade diferente daquela declarada na compra. Para Vanderlan, a proibição impede a transferência de armas entre acervos e o colecionismo de armas, citou a Agência Senado na segunda-feira (26).

O texto da Câmara também determina que as armas de fogo históricas e as que fazem parte de acervo de coleção não precisam mais ser declaradas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esses registros são de responsabilidade da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército. O mesmo vale para a certificação de arsenais expostos por museus.

O projeto também exclui do decreto presidencial as definições de arma de fogo histórica; de arma de fogo de acervo de coleção; e de atirador desportivo. Conforme destaca a Agência Senado, o texto também anula a proibição de colecionar armas de fogo automáticas de qualquer calibre ou longas semiautomáticas de calibre de uso restrito cujo primeiro lote de fabricação tenha menos de 70 anos. 

Críticas à bancada da bala

Em entrevista ao portal Congresso em Foco nesta terça, o membro do conselho de administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) Roberto Uchôa, destaca que o decreto presidencial enfrenta resistência no Congresso desde sua publicação no ano passado. “Desde a entrada em vigor do decreto 11.615/23, a bancada da bala e parlamentares ligados à pauta armamentista tentam revogá-lo total ou parcialmente”, afirmou ao portal.

Além disso, ele critica a falta de diálogo e aprimoramento legislativo, reconhecendo que o decreto carece ser aperfeiçoado, mas não da forma como está ocorrendo. O especialista aponta um conflito entre a vontade da maioria que elegeu Lula e os interesses dos parlamentares. Nessa linha, o decreto também foi avalizado em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), e isso foi ignorado no Congresso.

Litígios à vista

Outra questão importante que Uchôa aponta, é que a proibição de clubes de tiro próximos a escolas pode levar a um grande número de litígios judiciais, caso não seja bem administrada. A esse respeito ele sugere como saída discutir as mudanças com o governo, parlamentares e representantes dos clubes.

Uchôa também critica outras alterações propostas pelo PDL, como o fim da exigência de habitualidade e o controle sobre armas de pressão. Ele acredita que essas mudanças podem enfraquecer os mecanismos de controle e beneficiar aqueles que não desejam que o governo rastreie a circulação das armas.

Outra instituição que o Congresso em Foco cita, o Instituto Igarapé, também avaliou as mudanças propostas pelo PDL. A instituição considera que elas “poderiam ajudar a distinguir entre atiradores amadores e profissionais e melhorar o controle sobre armamentos e munições”. O motivo seria a baixa fiscalização sobre o setor.

“A análise do Instituto revela que as fiscalizações do Exército a clubes e acervos de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) são inferiores a 4%, e muitos clubes de tiro operam sem requisitos mínimos de segurança, frequentemente próximos a escolas”, publicou o CF.

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Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.