Durante investigação que levou à prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, o Ministério Público Federal encontrou indícios de que ele lavava dinheiro mesmo depois de deixar o cargo, em 2014.
O esquema de “branqueamento de capitais” seria feito por meio de uma empresa criada por Cabral, que prestaria serviços nunca entregues, usados como fachada para ocultar movimentações ilegais.
Segundo despacho do juiz da 7ª Vara Criminal do Rio, Marcelo da Costa Bretas, em que autoriza a prisão cautelar de Cabral, a empresa Objetiva Gestão e Comunicação Estratégica “estaria promovendo contratações fictícias, com o fim de legitimar ingressos de recursos financeiros espúrios em seu patrimônio, típica atividade de lavagem de dinheiro”.
Os indícios foram obtidos pela quebra do sigilo bancário, telefônico e eletrônico de Cabral, assim como de sua secretária pessoal, Luciana Rodrigues.
Os procuradores apresentaram à Justiça um e-mail de Luciana para Branislav Kontic, assessor do ex-ministro do da Casa Civil e da Fazenda Antônio Palocci, solicitando um modelo de contrato padrão para prestação de serviços de consultoria.
Palocci e seu assessor são réus em processo de lavagem de dinheiro da 13ª Vara Federal de Curitiba, no âmbito da Lava Jato. O ex-ministro foi preso no fim de setembro.
O contrato teria termos vagos e imprecisos a respeito da prestação de serviços da empresa, o que seria indício, segundo a Procuradoria, de irregularidade.
Logo após sua criação, a Objetiva firmou contrato com uma empresa chamada Creações Opção, de Gustavo Mohammad, para prestação de serviço de “assessoramento estratégico” por seis meses, sob o valor mensal de R$ 60 mil.
Segundo os procuradores, os aportes de valores, contudo, extrapolaram o período da vigência do contrato e chegaram à quantia de R$ 675.720,00, conforme informações obtidas através da quebra de sigilo bancário do ex-governador.
“O contrato de assessoria tem conteúdo genérico e não apresenta deveres objetivos da contratada, utilizando termos vagos e imprecisos, o que configura indício de constituir-se em contrato de fachada utilizado para ocultar eventual origem ilícita dos proveitos disfarçados de pagamentos por serviços. Além disso, as notas ficais emitidas pela empresa Objetiva sequer identificam o serviço prestado”, afirma denúncia do MPF.
Segundo a Procuradoria, o modelo de utilização de empresa de fachada é o mesmo utilizado por diversos investigados na Lava Jato e também por Carlos Miranda e Carlos Bezerra, apontados como operadores da propina do esquema que vigorou no Estado do Rio.
A investigação chegou às evidências com base na movimentação de dinheiro da Creações a uma terceira empresa, a Trans-Expert Vigilância e Transporte de Valores. A empresa é investigada pela Polícia Federal no âmbito da Operação Farejador, como sendo uma instituição financeira clandestina.
A empresa, que teria como gestor David Sampaio, policial civil que ocupa atualmente cargo de assessor parlamentar na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), estaria guardando dinheiro em espécie para o ex-secretário de obras de Cabral, Hudson Braga.
A Procuradoria identificou que a empresa guardava dinheiro de Braga, repassava à Creações, que contratava a Objetiva, empresa de Cabral. David Sampaio e Gustavo Mohammad tiveram mandado de condução coercitiva cumprido nesta quinta-feira (17). A reportagem não conseguiu contato com suas defesas.
“Como se vê, a empresa Trans-Expert, por meio de seu gestor, David, possui atividade suspeita que aponta para uma possível utilização de seus serviços para a lavagem de dinheiro através da internalização de dinheiro em espécie nas contas da empresa Creações Opção, posteriormente repassada à Objetiva, de Sérgio Cabral”.
A reportagem procurou a assessoria de Sérgio Cabral, que ainda não se pronunciou sobre a prisão. Seu advogado não deu declarações à imprensa até a tarde desta quinta (17).
Folhapress