Os procuradores da operação Lava Jato no Paraná atuaram nos bastidores para influenciar na decisão do juiz que iria substituir Sergio Moro, diz reportagem do Intercepet Brasil.
Com mensagens de áudio e de texto, às quais o Intercept teve acesso, membros do Ministério Público Federal (MPF), com o aval do então coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol, criaram uma estratégia para emplacar um nome que ficaria no lugar de Moro, que acabou deixando a operação para se tornar ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro.
Segundo o Intercept, Dallagnol fez uma lista com todos os nomes que poderiam, legalmente, assumir a vaga de Moro e começou a trabalhar para tentar impedir que juízes que não fossem preferidos dos procuradores não assumissem a vaga. Na reportagem do Itercept, o juiz responsável pela Lava Jato atualmente no Paraná, Luiz Antonio Bonat, relutava aceitar substituir Moro, mas que acabou sendo convencido, segundo a reportagem. “Aí ontem os juízes estavam preocupados e conseguiram fazer, conseguiram convencer o número 1 da lista, o que é ótimo para nós, assim, simbolicamente, a aceitar o desafio de ir para a 13ª”, diz Dallagnol em áudio que o Intercept teve acesso.
Antes de Bonat aceitar disputar a vaga deixada por Moro, Dallagnol, de acordo com a reportagem, enviou uma mensagem aos seus colegas pedindo que todos começassem a visitar as pessoas que “seria bom que assumisse a 13ª Vara”. “Caros, vamos visitar as pessoas que seria bom que assumissem a 13ª Vara para convencê-las. Vou levantar nomes bons e vou convidar quem puder pra irmos estimular rs “Isso é cr’tico para nosso futuro”, narrou Dallagnol.
Deltan também colocou uma lista no grupo de mensagens que eles participavam no Telegram com os nomes de possíveis juízes que poderiam se candidatar à vaga e foi destacando algumas características destes nomes. Logo depois, o procurador Januário Paludo escreveu sobre a lista e comentou que o juiz Eduardo Vandré (colocado na lista como “péssimo” por Dallagnol) era “pt e não gostava muito de batente”. Já sobre Bonat, Paludo diz que “é ótimo, mas não tem pique”. Sobre a escolha de Bonat, Deltan Dallagnol disse que não teria problema de ele ser escolhido, mas que deixasse outros “trabalharem por trás dele” como juízes assessores.
Ainda de acordo com a reportagem do Intercept Brasil, mensagem de voz enviada por Deltan informa que juízes federais alinhados à Lava Jato “estavam preocupados” com a possibilidade de que o juiz Schattschneider ficasse com a vaga de Moro, e, por isso, conseguiram convencer Bonat a se inscrever de última hora, “por amor à camisa”. Julio Guilherme Berezoski Schattschneider era o segundo da lista, o primeiro era Bonat. Na mensagem não é possível identificar quais juízes Dallagnol se refere.
Todos os citados na reportagem do Intercept foram procurados pela reportagem, mas ninguém quis fazer declarações a respeito do assunto. O texto original das mensagens disponibilizadas na reportagem do Intercept (mesmo com erros) foi mantido na íntegra.