União das oposições é inviável
Lideranças de PMDB/PT e da chamada ‘Terceira Via’ descartam união dos dois grupos no primeiro turno. Embate PT e DEM é o principal entrave
Marcelo Tavares – Repórter de Política (Tribuna do Planalto)
A corrida para o Palácio das Esmeraldas em 2014, ao que tudo indica, terá mais do que dois agrupamentos principais, como ocorreu em 2010. Isso porque a possível união de toda oposição contra a atual gestão do governador Marconi Perillo (PSDB) é descartada pelas principais lideranças dos dois grupos opositores – PMDB/PT e a chamada ‘Terceira Via’. Apesar de reconhecerem que a união seria “desejável”, os vários obstáculos devem impedir que ela se concretize. O principal empecilho é o fato do DEM e o PT terem resoluções partidárias que não permitem a aliança das duas siglas, que têm posições ideológicas totalmente diferentes.
Na semana passada o assunto foi bem comentado depois de declarações do deputado estadual Luis Cesar Bueno (PT) ao jornal O Popular, de que seria possível uma união de toda oposição para fazer frente ao candidato da situação, que provavelmente será o governador Marconi Perillo. Segundo o parlamentar, a interpretação do seu comentário ocorreu de forma incorreta e que quando ele fez as declarações, considerou apenas os partidos oposicionistas que compõem a base da presidente Dilma Rousseff (PT), como é o caso do PSB, mas descartando o DEM, que em Goiás integra a Terceira Via e que, segundo Bueno, não faz oposição ao governo estadual.
Em entrevista à Tribuna, Bueno disse que para que haja um começo de diálogo a fim de debater a união da oposição em nível estadual é preciso que os partidos cumpram dois critérios: serem de oposição ao governador Marconi Perillo e serem situação ou da base da presidente Dilma Rousseff. “Em política é preciso ser coerente. Seria muita incoerência uma aliança entre o DEM e o PT. Quem aqui (na Assembleia Legislativa), que é do DEM, faz oposição ao governo estadual? Ninguém”, ressalta o deputado, que completa: “está descartado qualquer possibilidade de aliança com o DEM”.
Apesar do discurso de que a união com o DEM é impossível, pelo menos em um cenário de primeiro turno, Bueno não descarta uma aliança com os demais partidos que compõem a Terceira Via. Segundo ele, o PT e o PMDB vão sentar à mesa com todos os partidos da corrente que fazem oposição a Marconi Perillo. Para Luis Cesar Bueno, Ronaldo Caiado – principal líder do DEM em Goiás – é oposição a atual gestão, mas é uma voz isolada no partido. “Ele faz oposição ao Marconi, mas na Assembleia ninguém faz. Então não podemos falar que o DEM é oposição ao governo”, declara.
O integrante do PT não se mostra reticente com relação aos encontros com os outros partidos da Terceira Via e acredita que um diálogo com dos demais partidos do grupo alternativo é possível já que, para ele, o sentimento dos membros das siglas que compõem a Terceira Via por derrotar Marconi Perillo, em trabalhar um projeto que saia vencedor em 2014, é muito maior que “o amor por Ronaldo Caiado”.
O presidente regional do PT em Goiás, Valdi Camárcio, também acredita que é bastante difícil ocorrer uma aliança da oposição justamente pela falta de incompatibilidade entre o partido e o DEM. “Temos um histórico de parceria com o PSB, mas em Goiás o partido está com o DEM, então é muito difícil ocorrer, em primeiro turno, uma aliança. Já houve busca de diálogo com o Vanderlan, para dizermos que gostaríamos de aprimorar as discussões, mas ele disse que não haveria conversa se o PT não estivesse disposto a dialogar com o DEM”, frisa Valdi. “Não podemos falar que não tem jeito, de jeito nenhum, mas essa possibilidade é bem remota”.
Sem diálogo
A impossibilidade de uma total união da oposição em Goiás para 2014 se reforça ainda mais com as argumentações do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), que diz que o principal agora para o seu grupo é alavancar o sentimento forte que está surgindo pela Terceira Via na disputa ao Palácio das Esmeraldas. “Isso que temos que levar para frente”. O parlamentar também não se mostra muito favorável à aliança ampla ainda no primeiro turno, devido aos estranhamentos com membros do PT. “Como se fala em conversa e esquecer que o Mauro Rubens vai para TV me agredir publicamente? As coisas quando devem ser tratadas, devem acontecer com respeito e formalidade e isso exige que sejam feitas dentro de um clima respeitoso”, cobra.
O ex-prefeito de Senador Canedo e presidente regional do PSB, Vanderlan Cardoso, também não vê possibilidades de uma união total das oposições. Ele conta que em uma reunião na sexta, 13, que contou com presença de Ronaldo Caiado e Jorcelino Braga (PRP), eles bateram o martelo: “Ficou definido o que já estava acertado. A Terceira Via vai lançar candidato em 2014 e as pessoas que quiserem participar do grupo, aqui há espaço para colocar suas candidaturas”.
Cardoso acha que a união PT-DEM é irreal. “Esta questão de união da oposição fica inviável em virtude do PT não se compatibilizar com o DEM e vice-versa. Temos que ser realista, é muito difícil composição da forma que está ai hoje”, analisa. “O momento é muito bom para a terceira via. O eleitor quer mudanças e não aceita a forma que o Estado vem sendo governado nos últimos anos”, cutuca.
Um dos representante da Terceira Via na Assembleia Legislativa, o deputado Simeyzon Silveira (PSC) também faz coro ao não acreditar em uma aliança ampla da oposição no primeiro turno para o governo do Estado. Segundo ele, o que mais atrapalha é a falta de disposição por parte de PMDB/PT de discutir o processo sem impor um nome para a cabeça de chapa. “Eles não querem sentar e discutir o nomes. Querem vir com um nome pronto para nós apoiarmos”, reclama. Simeyzon também vê como empecilho a relação entre PT e DEM.
Tentativa
Mesmo diante dos discursos de impossibilidade de união das oposições no primeiro turno, há integrantes do grupo que observam que há espaço e tempo para chegarem à união de todo o grupo. “Há oito meses para se trabalhar com as articulações nacionais e chegar a uma solução. DEM e PT têm bons interlocutores com as lideranças nacionais que podem chegar a consenso”, diz um membro da ‘Terceira Via’.
A deputada federal Iris Araújo (PMDB) também adota um posicionamento muito favorável à união das oposições, mesmo havendo dificuldades de junção entre o DEM e o PT. “Um bom diálogo e conversa franca podem superar as possíveis divergências”, diz a deputada, argumentando que uma força concentrada em nome de um único objetivo é bem mais consistente. “Não posso falar pelo PT e nem pelo PMDB, mas da minha parte e outros líderes do meu partido não há dificuldades de conversar e discutir essa aliança”, ressalta.
O vereador Carlos Soares (PT) também acredita na união de todos. Diz que a aliança contribui para a construção de uma chapa mais competitiva. “As oposições têm que ter responsabilidade para discutir um projeto de interesse para Goiás. Com isso teríamos uma boa disputa”, afirma. Soares defende que, para isso se consolidar, irá depender do diálogo e das lideranças partidárias se abstiverem de vaidades, sem que alguém queira ser o “Salvador da Pátria”.
Soares reconhece que a resolução que proíbe a aliança do DEM e PT é um dificultador, mas afirma que ainda não há nada definido sobre candidatos. “Se o PT e o DEM ficam de fora da cabeça de chapa porque não apoiarmos o candidato de outro partido”, ressalta o vereador. Nessa hipótese as candidaturas de um nome do PMDB (Júnior Friboi ou Iris Rezende) e do PSB (Vanderlan Cardoso) são reforçadas. “No caso do candidato não ser nem do DEM e nem do PT a resolução não tem valor. Não estaríamos coligados e sim apoiando um mesmo projeto”, explica o vereador.
Caiado diz que discutir unidade é perda de tempo
O deputado Ronaldo Caiado diz que o processo de discutir uma aliança maior só deve acontecer a partir do segundo turno e que agora cada um escreve seu traçado. “Quando chegarmos lá (segundo turno), vamos ver como avançamos nas alianças e coligações”, defende. O deputado também argumenta que outro motivo para não entrar em uma chapa única da oposição é que o objetivo da Terceira Via não é exclusivamente tirar o governo tucano do poder. “Nós temos uma estratégia e um plano inovador, que nada tem haver com os últimos 32 anos (em que o PMDB, PSDB e PP estiveram no poder). Não vou entrar em um projeto só porque sou contra o PSDB”, afirma.
Para Caiado, agora não é hora de perder tempo com articulações que não têm chances de prosperar e que a preocupação de seu grupo deve ser em mostrar o projeto e mensagem que a Terceira Via tem para Goiás. “É uma proposta diferente dos últimos 32 anos e que não tem vínculo com essas estruturas que estão no poder nesse período. Não temos porque nos vincular a essas forças no primeiro turno porque a sociedade que está indo às ruas rejeita essa prática”, sublinha.
Apesar do discurso, Ronaldo Caiado diz que o seu posicionamento não representa toda as agremiações que integram a Terceira Via e que em sua opinião o que deve ser feito agora é os vários partidos que estão no grupo trabalharem para suas ampliações e que, após chegarem ao segundo turno, pensem em uma recomposição de forças, mas sem perder aquilo que é o principal da Terceira Via – uma proposta diferente de projeto de governo. “Na próxima reunião do grupo vou defender continuarmos como Terceira Via para não nos envolvermos em situações em que percamos o foco”.
Quem também acredita que uma discussão de aliança mais ampla deva acontecer somente no segundo turno é o membro da executiva do PMDB, Kid Neto, embora ele cite que o desejável fosse que ela ocorresse já no primeiro turno. Sabendo das complicações que essa aliança provocaria, porém, ele já descarta a possibilidade. “Se se manter o quadro que já está aí, isso só favorece o governo”.
Mesmo não sabendo dizer se é possível ou não a união entre as oposições, a deputada Iris Araújo tem pensamento diferente de Kid Neto e Caiado, e defende que as discussões e costura de aliança, se tiverem chance de acontecer, teriam que ser discutidas agora. “Pra mim a eleição deve ser liquidada já no primeiro turno”, dispara. (M.T.)