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Prioridade é garantir financiamento adequado, diz futuro reitor da UFG

O recém-eleito e futuro reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), professor Edward Madureira, afirmou nesta terça-feira (8) que entre as prioridades da sua próxima gestão está a tentativa de tirar a instituição da crise gerada pelo governo federal com cortes no orçamento e congelamento de gastos por 20 anos.

“Uma das prioridades é garantir o financiamento adequado. Esse será o desafio dos quatro anos de gestão, como conseguir ao final do ano com a universidade funcionando em sua plenitude e as contas em dia. Mas temos muitos desafios. A Universidade cresceu muito e precisamos de uma reestruturação interna, e essa reestruturação está sendo pensada”, disse.

Segundo Edward Madureira, a sociedade precisa saber o que está acontecendo com a educação de nível superior e ajudar a lutar contra os cortes. “Acho que o quadro talvez seja um dos piores da Universidade. Teremos que discutir, mobilizar a Andifes, a sociedade para tomar conhecimento do que está acontecendo e o que está sendo feito com a ciência e educação brasileira, que por sinal é a única alternativa para a gente construir um país melhor”.

De acordo com o reitor, a saída será fazer novas parcerias com o setor privado, além de tentar cada vez mais uma aproximação com o governo estadual e prefeituras. “Mas não podemos, em momento algum, eximir o governo federal da responsabilidade do financiamento em educação”, ressaltou.

Veja entrevista concedida ao Diário de Goiás:

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Leia entrevista concedida ao Diário de Goiás:

Qual o futuro da UFG diante da crise financeira?

Acho que o quadro talvez seja um dos piores da Universidade. A Universidade cresceu, pratica uma inclusão cada vez maior das pessoas, uma inclusão e cotas e é claro que os curso se elevam. Os estudantes chegam e não têm a menor condição de se manter. Só o recurso gasto com assistência estudantil é muito significativo e os cortes tendem a inviabilizar o funcionamento da Universidade. Teremos que discutir, mobilizar a Andifes, a sociedade para tomar conhecimento do que está acontecendo e o que está sendo feito com a ciência e educação brasileira, que por sinal é a única alternativa para a gente construir um país melhor.

A expectativa que as pessoas têm com a sua volta poderá ser cumprida?

Acho que a comunidade universitária e as pessoas estão preparadas. Durante nossa campanha, a gente tomou cuidado de não criar nenhum tipo de ilusão na comunidade universitária. Os cortes de quase 50% nos recursos já mostra a dificuldade que teremos, mas não vejo que isso seja motivo para que a gente deixe de lutar, de buscar alternativas. É preciso que a Universidade dê visibilidade para aquilo que ela faz e o que pode fazer. A gente precisa convencer os governos de que é um equívoco fazer isso com um patrimônio que foi construído com tanta dificuldade. Essas 63 universidades hoje no país fazem um diferencial não só na formação, mas na produção de conhecimento e é preciso sensibilizar. É preciso ter criatividade, fazer parcerias, aproximar dos governos estadual e municipais, aproximar da iniciativa privada e da sociedade, que talvez a gente consiga enfrentar toda essa crise. Mas não podemos, em momento algum, eximir o governo federal da responsabilidade do financiamento em educação. É impossível administrar uma Universidade, e sei que o professor Orlando faz o melhor que ele pode. Ele já disse que algumas contas públicas não poderão ser pagas durante o ano.

A obra de Aparecida de Goiânia será paralisada?

Sim. É um câmpus que foi repactuado em 2011, um projeto arrojado, que contou com um empenho muito forte do ex-prefeito de Aparecida, Maguito Vilela. A gente conseguiu fazer um câmpus voltado para as engenharias e hoje a Universidade funciona nas instalações da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Nosso prédio está ainda em continuidade, mas como Orlando disse, com a perspectiva de paralisar a qualquer momento por falta de recurso. Pense o retrocesso que isso significa para Aparecida, para o estado de Goiás e para os estudantes que estão com a perspectiva de fazer Engenharia em uma Universidade Federal.

Uma sede definitiva faz diferença para o estudante?

Faz toda a diferença. A gente tem um projeto bastante arrojado no edifício que abriga as engenharias, mais o curso de Geologia, que é o primeiro curso de Geologia do Estado de Goiás e que funciona em Aparecida, que já está em andamento e com uma perspectiva muito favorável em relação ao quadro de professores, ao corpo de estudantes. Mas com essa ameaça de funcionamento com condições inadequadas em função de cortes desses recursos.

A lei que resultou em cortes será uma das mais debatidas durante a eleição de 2018?

Acho que a população brasileira, as pessoas de maneira geral não se deram conta da gravidade do que foi a emenda constitucional 95. Nenhum país no mundo fez um experimento desse tipo que está sendo feito no Brasil: congelar os gastos públicos por 20 anos, apenas corrigindo a inflação. O Brasil tem hoje um dos piores índices de matrículas na educação superior de todo o mundo. Temos apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos em instituições de ensino superior, sendo sistema público ou privado. Enquanto na Coréia, um exemplo que há 50 anos era exatamente igual ao Brasil, tem mais de 80% dos jovens. E isso faz toda a diferença na sociedade do conhecimento, em tudo isso que vemos de avanço tecnológico. Estamos estrangulando e matando a perspectiva do país com isso.

Com esses cortes, a qualidade estaria comprometida?

Sem dúvidas. As pessoas têm uma ilusão, às vezes as pessoas pensam que o modelo norte-americano, onde a iniciativa privada tem uma participação mais forte no financiamento da universidade, seria uma solução para resolver essas questões não é absolutamente verdade. Porque a Universidade já tem parcerias com empresas e pode crescer, mas esse crescimento vai se concentrar em algumas áreas do conhecimento, outras áreas não vão receber. Então, é preciso que os recursos venham no financiamento. Não adianta ter um laboratório de ponta que dialoga com a iniciativa privada, que faz pesquisas, se a Universidade não tem dinheiro para pagar a energia. É esse o fato que estamos vivendo. Então, é esse básico funcionamento da Universidade, que seria a assistência estudantil, serviços terceirizados e as contas públicas, tem que ser administrado e bancado pelo governo federal. O resto a gente consegue até correr atrás e buscar recursos. Vamos lutar para que isso aconteça.

Existe a possibilidade de expansão do sistema com mais vagas na rede pública?

Inexiste. Só na área privada. Mas mesmo na área privada, se fizermos um levantamento das famílias brasileiras, em termos de renda, será fácil concluir que aquelas famílias que podem colocar seus filhos na educação superior, já colocaram. De agora para frente ou é ensino público ou Fies e Prouni. Com os gastos públicos congelados, esses instrumentos também serão atingidos. Então, estamos condenando o Brasil ao não conhecimento científico.

Com isso, ficará mais difícil o ingresso nas universidades públicas?

Claro. Temos uma política de cotas que reserva 50% das vagas. Não adianta a gente só colocar essas pessoas para dentro. Se essas pessoas entram e não têm restaurante universitário, não têm moradia estudantil, não têm auxílio locomoção, os alunos não conseguem chegar na Universidade porque não tem dinheiro, mesmo que tenha uma cota, uma bolsa. Então, os recursos para assistência estudantil são fundamentais. Não adianta uma política de inclusão e com 15 dias o aluno abandonar porque não tem dinheiro. Será uma política de exclusão, que frustra toda a perspectiva da família de muitas pessoas.

O senhor já estabeleceu as prioridades da gestão?

Uma das prioridades é garantir o financiamento adequado. Esse será o desafio dos quatro anos de gestão, como conseguir ao final do ano com a universidade funcionando em sua plenitude e as contas em dia. Mas temos muitos desafios. A Universidade cresceu muito e precisamos de uma reestruturação interna, e essa reestruturação está sendo pensada. Estamos propondo a criação de uma pró-reitoria de Gestão de Pessoas, onde a gente vai lidar com nossa maior força. A Universidade tem 2,5 mil professores, são 2,5 doutores. Em uma conta simples, eu diria que metade dos doutores de Goiás estão dentro da UFG. A gente tem que colocar esse potencial a serviço da sociedade. Então, nossa prioridade também é dialogar permanentemente com a sociedade. Daí virão muitas soluções. Mas para isso precisamos de serviços internos. Então, uma pró-reitoria de Gestão de Pessoas, a questão da tomada de decisão a partir do planejamento, a área de tecnologia de formação e comunicação precisa ser fortalecida. Então, tem algumas estratégias que a gente deve priorizar, e eu vou usar este segundo semestre para dialogar. Agora, a Universidade é uma só, não tem disputa mais, não tem quatro chapas, é só uma gestão que vou assumir. Queremos chegar com o plano de gestão em janeiro que reflita a demanda e a expectativa da comunidade.

Sobre o ranking em que a UFG ficou como 51ª?

Esse ranking do New York Times considerando a América Latina, a Universidade Federal tem subido posições e eu soube que muitos indicadores da Universidade não foram considerados de forma adequada por não estar tão disponíveis. Provavelmente nossa posição é melhor do que essa que apareceu ainda e é uma questão a ser trabalhada. Com toda a dificuldade, a Universidade ainda cresce.

Como foi o processo de eleição?

O processo, que já foi encerrado, é a consulta universitária, o resultado saiu em 29 de junho. No dia 18 de agosto é feita a eleição no Conselho Universitário, onde é formada uma lista tríplice, que vai para Brasília e o ministro faz a nomeação, normalmente, do primeiro da lista. Acho que não teremos problemas até porque as outras candidaturas que participaram da consulta não se colocaram como candidatura nessa reunião do Conselho que acontece no dia 18. É necessário compor uma lista tríplice de qualquer forma.

Não pode ocorrer de nomearem outra pessoa?

Acho que não há ambiente para isso nas universidades. É um pouco diferente. Tivemos agora alguns casos, no passado já ocorreu. Mas no passado os participantes da consulta se submetiam também ao processo no conselho. Aqui em Goiás a gente criou uma tradição de que os derrotados na consulta não se submetem à eleição no Conselho Universitário. Então, acredito que não temos ambiente para problemas dessa natureza. A gente vai acompanhar de toda forma, mas não há ambiente para isso, um pouco diferente do que acontecia no passado.

Ter filiação partidária poderia influenciar na nomeação?

Acredito que não, inclusive já foram nomeados reitores nesse período ligados a diferentes partidos, aliados ou não ao governo.

Continua filiado?

Eu devo me desligar do Partido dos Trabalhadores, não por essa razão de nomeação, mas por entender que as questões da Universidade são, por natureza, suprapartidárias e é preciso que a gente tenha essa independência para discutir, debater, reivindicar, discordar eventualmente das posições do governo, e quando você está vinculado a um partido, você fica muito marcado. Eu entendo que para o cargo de reitor isso não seria uma boa medida, para tratar das questões da Universidade que são, por natureza, plural e precisa ser assim.

O senhor manteve contato com o governo após a eleição?

Tenho. Como eu participei por dez meses, no final do governo Dilma e na transição para o governo Temer, do Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações, eu tenho um bom trânsito com os diferentes secretários desse Ministério, com o MEC, já que segundo e terceiro escalão são as mesmas pessoas, e tenho um trânsito bastante bom com toda a nossa bancada, com os políticos do estado de Goiás. Então, acho que dá para construir uma grande frente. Mas nossa ambição é um pouco maior, acho que precisamos, a partir das Universidades Federais, que são 63 hoje, e dos Institutos Federais, que são 38, reunir os dois tipos de entidades, que temos praticamente mil municípios brasileiros e um contingente de mais de dois milhões de estudantes, quase 200 mil professores, a gente precisa mostrar o que esse tipo de instituição faz por nosso país. Então, criar uma grande frente nacional em defesa das instituições públicas é uma ambição, a gente quer criar um ambiente para isso juntamente com outros reitores de institutos e universidades.

Como está a Universidade Federal de Catalão?

As últimas notícias que eu tenho é que teve um problema, uma comissão de orçamento, mas houve um trabalho da bancada goiana. São cinco projetos, dois de Goiás, um do Tocantins, um do Mato Grosso e um do Piauí, que devem ir a plenário. Essas universidades estão sendo criadas com muito pouco, porque já estão praticamente prontas, tanto Jataí quanto Catalão são regionais da UFG hoje que têm 25 cursos. Em Jataí já tem o curso de Medicina em pleno funcionamento, em Catalão está aprovado, já tem mestrados, doutorados. Estão absolutamente maduras. Esses projetos de emancipação criam apenas os cargos de direção, de reitor, pró-reitor, diretores e faz um aporte de um quantitativo pequeno de técnicos administrativos. Ou seja, nenhum governo em sã consciência vai deixar de entrar para a história do país e criar cinco universidades com um impacto orçamentário muito pequeno. Então, quando isso chegar à mesa do presidente, ele vai celebrar, inclusive, essa criação, porque o trabalho todo já foi feito no passado. Estamos agora só construindo uma coisa que já estava madura.

Ele terá o mérito por só assinar?

Com o trabalho praticamente todo feito. Novos desafios virão, são duas instituições novas, pequenas dentro do contexto das universidades, mas tenho certeza que daremos os braços às nossas duas filhas e constituiremos um sistema federal. Só lembrando que nosso vizinho, Minas Gerais tem 11 Universidades Federais, e Minas é 11 vezes maior que Goiás em número de habitantes, economia.

A UFG está no campo de parcerias com o governo estadual?

Sim. Inclusive tem um edital de apoio à parte tecnológica. Estou auxiliando o professor Orlando neste momento no Parque Tecnológico Samambaia e estamos com nosso projeto já sendo preparado para submeter ao edital. Acho que esse é um caminho sem volta, precisamos aproveitar o potencial que as Universidades geram de conhecimento e transformar isso em tecnologia, aproveitar essa garotada que está conosco, sobre o que eles podem fazer e criar as start-ups, criar um ambiente onde nasçam empresas e soluções para nosso dia-a-dia, e acho que um ambiente favorável para isso é governo, sociedade e universidade.

A produção de conhecimento e a discussão com a sociedade também pode ser maior?

Sim, em todas as áreas, das humanidades, da saúde, das tecnologias mais aplicadas. Temos boas iniciativas. Isso decorre de fatos históricos, a própria política do Brasil, industrial, foi divorciada da política científica e essa separação feita nos anos 50, 60 repercute até hoje. Mas há um caminho, uma tentativa tanto do lado da iniciativa privada, que tem feito esforços, quanto do lado da Universidade. Tem pesquisas na universidade muito interessantes, na área de química, de física, de agronomia. 

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Thais Dutra

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