A cadeia pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus, registrou a primeira fuga de presos desde que foi reativada no começo do ano para receber os detentos do Compaj (Complexo Penitenciário Antônio Jobim), onde houve a chacina de 56 presos em 1º de janeiro. Familiares afirmam que três deles foram mortos e acusam a Polícia Militar pelos supostos crimes.
De acordo com a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária), 14 pessoas conseguiram escapar por meio de um buraco feito no teto de uma das celas do presídio, localizado no centro da cidade. Dois deles já foram recapturados.
Mães de detentos ouvidas pela reportagem disseram que três deles foram mortos por policiais militares em uma área da zona rural de Manaus conhecida como Tarumã. Elas também dizem temer que os presos do pavilhão A, onde estavam os fugitivos, sofram algum tipo de retaliação dos detentos de outros pavilhões.
“Os que estão aí dentro estão sendo castigados. Conseguiram pegar três [dos que fugiram], trouxeram aqui para dentro, depois colocaram dentro do carro do Choque e os mataram lá no Tarumã”, disse uma das mães, que não quis se identificar.Segundo ela, essa foi a informação repassada por outros parentes que chegaram ainda durante a madrugada à unidade. A Polícia Militar faz a segurança nas partes externa e interna da prisão.
Conforme a reportagem apurou, a maioria dos presos da Raimundo Vidal é integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e foram retirados do Compaj por questões de segurança. O massacre dos quase 60 detentos no primeiro dia de 2017 foi apontado como retaliação da facção local FDN (Família do Norte) ao rival PCC.
Desde então, grande parte dos membros do grupo criminoso paulista foi transferida para a cadeia no centro de Manaus, que estava desativada até então por não oferecer condições de segurança e salubridade para detentos e funcionários.
Os familiares estão sem direito de visita desde a mudança para a cadeia central. “Meu filho foi preso no final do ano, foi para o Compaj e agora o trouxeram para cá. Não posso vê-lo e somos impedidos até de entregar as comidas e produtos que trazemos para eles”, afirmou Ana Cláudia Farias de Souza, 43. O filho dela, Rafael de Souza, 20, aguarda julgamento pelo crime de tráfico de drogas.
“Ninguém sabe o que está acontecendo lá dentro. A direção não nos diz nada, nem o pessoal da secretaria. O meu medo é que mais mortes aconteçam. E já há informações circulando por meio de grupos [em redes sociais] de que vai ter retaliação”, disse Silvânia dos Santos, 41. O filho, Arlesson dos Santos, 27, também espera julgamento.
Procurada, a Polícia Militar informou, por meio do chefe da Comunicação Social, capitão Alberto Neto, não ter conhecimento das acusações feitas pelas mães. “Desconheço essa informação, e a Polícia Civil é que é responsável por investigar os homicídios que ocorreram na cidade”, disse. Segundo ele, o trabalho da PM foi fazer a recontagem dos presos e manter a ordem dentro da cadeia.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Segurança do Amazonas para comentar as acusações das mães sobre a execução de presos pela polícia, mas não houve resposta.
Sobre o impedimento às visitas, a Seap informou que ele ocorre pelo fato de a cadeia Raimundo Vidal não oferecer condições de segurança para receber os familiares dos presos. A secretaria diz que a entrega de produtos como material de higiene pode ser feita às terças e as de comida, aos fins de semana. A Seap disse que a cadeia funcionará até o mês de abril.
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