BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Defensor da saída do PSDB do governo, o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), diz que o presidente Michel Temer precisa “comprovar sua inocência” rapidamente para reconquistar autoridade na crise política aberta pelas acusações feitas na delação da JBS.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o senador tucano insiste que o PSDB deve desembarcar do governo para mudar um sistema político que considera “podre”. Embora o partido tenha decidido, em reunião na segunda (12), manter o apoio a Temer, Tasso diz que a sigla segue discutindo o possível rompimento.
Para ele, é um “delírio” e um “erro” decidir apoiar ou não o governo Temer pensando em aliança para 2018.
Pergunta- Como o PSDB vai se posicionar em relação à denúncia que deve ser oferecida contra Temer?
Tasso – A crise não vai se aprofundar apenas por causa da decisão eventual da PGR. Estamos vivendo um sistema político que apodreceu e morreu. A corrupção que era de batedor de carteira virou de quadrilhas internacionais.
A Câmara precisaria autorizar um processo contra Temer. Qual será a posição do PSDB?
Tasso – Não há decisão, mas com certeza os deputados vão agir como juízes e votar de acordo com sua consciência, não de acordo com orientação.
Se o sistema político está podre, por que o PSDB continua num governo desse sistema?
Tasso – Ninguém falou em romper com o governo Temer, em entrar na linha do PT. Estamos dentro desse sistema que apodreceu e a saída só se dará por meio de reformas. Estar dentro do governo significaria continuarmos dentro de um sistema que temos que mudar. Não temos condições éticas e morais para tentar mudar isso estando no governo.
O sr. quer dizer que a decisão do partido -de permanecer no governo- não é adequada?
Tasso – Ficar no governo em si é detalhe. O que é importante é que precisamos fazer uma autocrítica profunda, reconhecer que a população não aguenta mais o que está aqui.
O sr. continuará defendendo que o PSDB saia do governo?
Tasso – Sim, mas isso não é pedir “Fora, Temer”, não é pedir o impeachment. Eu acho difícil que o presidente saia.
Temer tem condições éticas de continuar governando?
Tasso – Não tenho condições de dizer se ele é culpado ou não, mas tenho condições de dizer que, praticamente com todo o seu gabinete preso, processado ou pego em flagrante, e as próprias gravações com ele, ele precisa muito rapidamente comprovar sua inocência para ter autoridade suficiente para levar esse momento difícil.
O presidente se recusou a responder a perguntas da PF…
Tasso – Não vou julgar cada ato do presidente. É preciso reconquistar credibilidade. Quanto mais rodeios e omissões, mais essa falta de credibilidade vai se aprofundar.
Em que momento o PSDB vai precisar reavaliar seu apoio?
Tasso – A reavaliação já está sendo feita. Estamos atrasados.
O sr. diz que o PSDB não quer “Fora, Temer”, mas quer recorrer da decisão do TSE que o livrou da cassação.
Tasso – Demos início a esse processo, passamos anos no microfone dizendo que a eleição foi financiada por corrupção com dinheiro público. Então, vamos recorrer, sim.
Mas esse recurso pode ter um efeito prático, que é a cassação do presidente.
Tasso – Se a Justiça chegar à conclusão de que houve [abuso], que se cumpra a lei.
A preocupação eleitoral influenciou a decisão do PSDB de ficar no governo e preservar uma aliança com o PMDB?
Tasso – Quem tiver alguma atitude pensando na eleição de 2018… Não é um sonho, é um delírio.
Seu nome surgiu em articulações para suceder Temer em caso de eleição indireta. O sr. pretende se candidatar?
Tasso – Eu seria irresponsável se colocasse isso em pauta.
A delação da JBS atingiu em especial o PSDB dado o envolvimento do senador Aécio Neves. Ele deve deixar o partido?
Tasso – Ele tem direito de defesa. Ele se afastou, está vivendo momentos muito difíceis, principalmente com a prisão da irmã dele, que, a meu ver foi uma brutalidade -como eu acho que uma série de abusos também foram feitos.
A Lava Jato comete abusos?
Tasso – A Lava Jato está fazendo um trabalho excepcional, colocando a nu toda essa podridão do sistema político. O problema é que no meio disso, não só na Lava Jato, existem abusos.
É preciso impor limites?
Tasso – Há excesso de interferência do Ministério Público e do Judiciário no Legislativo e no Executivo. Mais do que isso, essas prisões… Sou a favor da delação premiada. Sem ela, não teríamos descoberto uma porção de coisas, mas a questão da JBS, preparar delação em troca de esquecer pecados de 30 anos, é um acinte.
Muitos tucanos dizem que Aécio foi vítima de uma armadilha. O sr. concorda?
Tasso – Uma pegadinha, com certeza. Foi montado. Agora, isso não o inocenta totalmente, porque foi montada uma armadilha e ele caiu. Tem que averiguar quais as razões que teve para ele cair -e é disso que ele está se defendendo.