O Conselho de Administração da BRF aprovou a indicação do nome do presidente da Petrobras, Pedro Parente, para assumir o comando do colegiado da maior processadora de alimentos do Brasil, que passa por grave crise.
O empresário Abílio Diniz deixará o comando do conselho, que presidia desde 2013 com apoio do fundo Tarpon, em um acerto costurado com seus maiores adversários no “pool” de acionistas: os fundos de pensão Petros (da Petrobras) e Previ (do Banco do Brasil).
Parente será o nome recomendado pelo conselho atual à assembleia de acionistas marcada para o dia 26. A votação, contudo, continuará sendo vaga a vaga para os dez assentos do colegiado. Uma lista de recomendações será divulgada com outras sugestões, definidas durante reunião do conselho nesta quinta (19).
Não haverá chapa indicada porque o fundo britânico Aberdeen, dono de 5,02% do controle da BRF, manteve o pedido feito na semana passada pelo chamado voto múltiplo. Com isso, teoricamente o grupo liderado por Abílio (3,92% das ações são dele, 7,26% do Tarpon e um número flutuante de outros acionistas) indicará de dois a três nomes. Petros, Previ e Aberdeen terão talvez seis conselheiros.
Com isso, Abilio perde poder, apesar de ter participado da costura pelo nome do novo presidente do conselho. Mas é preciso ver exatamente qual a composição da lista de sugestões e o que de fato será aprovado no voto no dia 26 para uma avaliação mais precisa. A reunião desta quinta não deliberou sobre temas nevrálgicos como a manutenção do atual presidente-executivo, José Drummond.
A solução Pedro Parente animou o mercado. A BRF, que já tivera alta de 9,51% em suas ações quando o acordo transpareceu na tarde de quarta (18). Muito disso, contudo, se deve à extrema depreciação dos papéis da empresa. No fim de 2015, a ação valia quase R$ 70, no auge do sucesso da gestão Abílio. Nessa quinta, seguia com alta a R$ 24, o patamar de 2010.
A mudança é a culminação de um processo que arrastou a empresa durante dois anos, agravado em 2017. No ano passado, a BRF foi afetada diretamente pela Operação Carne Fraca, que investiga irregularidades na produção de carnes no país -nesta quinta, a União Europeia descredenciou 12 fábricas exportadoras de frango sob suspeita da empresa
Além disso, houve problemas de gestão, indicados em auditorias internas. O endividamento da empresa, que era mínimo antes da chegada de Abilio e o Tarpon, chegou a quase cinco vezes o chamado Ebitda (lucro antes de pagamento de juros, impostos, depreciação e amortizações).
Em 2017, a empresa perdeu seu presidente-executivo, o executivo do Tarpon Pedro Faria, abatido pela crise. O braço direito de Abílio no dia-a-dia da BRF, o vice-presidente José Roberto Pernomian Rodrigues, saiu após ser condenado em segunda instância por uma fraude em outra empresa. Dois ex-conselheiros foram implicados como infiltrados da JBS no escopo da delação da rival e outro, o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine, acabou preso pela Operação Lava Jato.
A resultante dessa tempestade foi um prejuízo recorde de R$ 1,1 bilhão registrado no ano passado, o estopim para que os fundos de pensão pedissem a cabeça de Abílio e sugerissem uma nova chapa à assembleia dos acionistas, encabeçada pelo executivo Augusto Cruz, no fim de fevereiro.
Desde então, houve uma grande queda de braço e quase um acordo foi fechado, no qual Abílio e seu grupo manteriam três assentos no conselho. Contrária ao bônus de R$ 40 milhões que o empresário queria dar ao presidente-executivo que sucedeu Faria, Drummond, a Petros interrompeu a negociação.
Abílio reagiu, indicando uma chapa presidida por Luiz Fernando Furlan, herdeiro da Sadia e negociador da fusão da marca com a Perdigão, que deu origem à gigante BRF em 2009. Só que o movimento foi esvaziado da semana passada para cá, com a saída de nomes sugeridos por Abílio da chapa e pelo pedido de voto múltiplo por parte do Aberdeen -que jogou combinado com os fundos.
De lá para cá, ambos os lados negociaram uma solução. Abílio convidou Pedro Parente, que na condição de presidente da empresa que emprega os cotistas da Petros tem larga influência sobre o fundo, para ser o ponto de consenso.
A Petros e a Previ também defenderam o nome de Parente, que aceitou o convite quando teve certeza da unanimidade. O fato de a Aberdeen ter mantido a opção pelo voto múltiplo deu mais poder de fogo para o grupo contrário a Abilio.
Parente, 65, é visto no mercado como um executivo especializado em crises. Como ministro da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso, supervisionou a mitigação do impacto do colapso energético de 2001 ao chefiar o que se apelidou de “ministério do apagão”. Ganhou fama de organizado e eficaz no encaminhamento de problemas.
Teve passagens por setores diversos (comunicação na RBS, agronegócios na Bunge e gestão de recursos na Prada) e desde 2016 preside um processo bem sucedido de recuperação gerencial e de imagem da Petrobras, que havia sido implodida pelo esquema do petrolão desvendado pela Lava Jato.
Ele continuará à frente da petroleira, mas deixará a chefia de conselho que hoje ocupa, a do B3, empresa que administra a Bolsa de São Paulo. Seu acordo com a Petrobras só lhe permite ter um cargo do gênero fora do universo de empresas ligadas à estatal. Em entrevista nesta quinta no Rio, ele disse não haver conflitos éticos em caso de assumir a BRF. (Folhapress)
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