A enfermeira Eduarda Vasconcelos surpreendeu seu marido na semana passada ao chegar em casa com um aparelho de ar-condicionado para instalar na residência onde vivem, na zona norte de São Paulo. Antes, o que havia surpreendido era o preço do produto na gôndola do supermercado, aonde ela não tinha ido com a pretensão de comprá-lo.
“Eu achei até que o valor estava errado. Perguntei para o vendedor se era aquilo mesmo”, conta. Ela afirma que pagou pouco menos de 2 mil reais pelo dispositivo, que só tem utilidade no verão. Segundo estudos realizados em invernos passados, os valores desses produtos podem cair até 57% nos meses de temperaturas baixas. Uma busca rápida na internet permite encontrar aparelhos por até R$ 1.300.
Nos períodos de calor, que começam por volta de outubro e vão até março, um aparelho de ar-condicionado semelhante ao que Eduarda comprou custa, em média, 4 mil reais. Ela, porém, é uma das poucas pessoas que conseguem aproveitar essas quedas de preços: o mercado está acostumado a buscar por produtos apenas quando eles se fazem necessários, caso de equipamentos como ventiladores, umidificadores de ambiente e roupas – agasalhos no verão e biquínis no inverno.
Uma das explicações para esse fenômeno exige uma compreensão rápida da forma como a produção de mercadorias funciona numa economia de mercado: as empresas que fabricam produtos – como aparelhos de ar-condicionado – calculam os custos de sua produção (salário dos trabalhadores, matérias-primas, gastos das máquinas, local de trabalho etc.) com base na demanda dos interessados em comprá-los.
Em épocas quentes, a produção dessas empresas aumenta porque há mais gente procurando equipamentos que atenuem os efeitos do calor, como ar-condicionado, ventilador e umidificador de ambiente, ou que queira aproveitá-lo, indo atrás de biquínis, sungas e outros produtos para usar em praias, rios ou piscinas.
Quando a estação muda, porém, essa demanda diminui significativamente. A produção das fábricas se volta para outros equipamentos necessários em períodos frios ou para os que são buscados em qualquer época do ano – fogões, geladeiras etc. O estoque dos “aparelhos de verão” fica ocioso e, para não perderem dinheiro, as empresas e as lojas diminuem seus preços. “Pouca gente deve saber disso. Eu, por exemplo, não tinha noção”, revela Eduarda.
O economista Gilberto Braga, professor da Faculdade de Economia e Finanças (IBMEC), do Rio de Janeiro, disse ao jornal Extra que o aproveitamento desse fenômeno depende também de certa economia de dinheiro por parte dos consumidores. “O cliente antecipa o gasto e acaba economizando. Algumas pessoas, por exemplo, estocam espumante e outras bebidas servidas geladas, pois estão mais baratas agora”, revela.
Ele conta que a mesma coisa acontece com as roupas, apesar da possibilidade de usá-las até mesmo durante o inverno. “As peças de verão podem ser utilizadas durante o tempo frio, embaixo de agasalhos, por exemplo”, aconselha.
Alguns sites lembram também que há outra facilidade em adquirir ar-condicionado no inverno: a chance de encontrar aparelhos no mercado é muito maior. Em janeiro deste ano, por exemplo, algumas lojas de eletrodomésticos ficaram sem equipamentos justamente nos dias de maior calor. No Rio, as temperaturas vão aos 40 graus, e em outras cidades, como São Paulo e Porto Alegre, chegam perto disso.
“É, de fato, uma vantagem: você paga mais barato, não pega fila e ainda pode entrar no verão já com clima fresco dentro de casa”, comemora Eduarda. “Pena é que, por enquanto, o aparelho fica ocioso”, finaliza.