No início de junho, o Governo de Goiás promoveu, ao longo de 14 dias, uma missão internacional para a China, liderada pelo vice-governador Daniel Vilela (MDB). O intuito da viagem foi o de estabelecer novas relações comerciais e empresariais com o país asiático, que é o maior parceiro comercial do Brasil atualmente e foi responsável por 46,3% das exportações feitas por Goiás em 2022.
A missão foi formada por pequenos, médios e grandes empresários goianos, incluindo produtores, comerciantes e representantes do setor produtivo. Edwal Portilho, presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (ADIAL), foi um dos participantes da comitiva. Em entrevista ao Diário de Goiás, ele deu detalhes sobre a experiência.
Edwal Portilho conta que os chineses foram muito atenciosos, trataram os goianos muito bem e trouxeram grandes oportunidades de realização de negócios, de parcerias e cooperação, inclusive no campo do desenvolvimento tecnológico.
“O que eu posso avaliar, de pronto, é que missões ou viagens dessa natureza podem oportunizar muitos negócios, muito desenvolvimento entre dois países. No caso da China, uma série de oportunidades, sendo que eles estão realmente num estágio de primeiro mundo. Nós vimos lá uma mudança muito rápida e radical e determinada para que se transforme em país cada vez mais produtivo industrialmente, tecnologicamente e também, com a pegada de sustentabilidade muito forte”, analisou Portilho.
O presidente da Adial destacou que os chineses tem investido fortemente em ações sustentáveis. “Obviamente, a gente sabe que eles tem muito o que correr nessa esteira da sustentabilidade por um volume ainda muito importante da matriz energética estar calcada na produção de energia elétrica como carvão, usinas de carvão. Mas, em contrapartida, em contraponto a isso, os investimentos em plantio, em paisagismo urbano com o plantio de árvores, plantio de forrageiras nos perímetros urbanos e também ao longo das rodovias e ferrovias é algo extraordinário”, pontuou.
Durante as várias rodadas de negócios, Edwal Portilho afirmou que os deslocamentos eram feitos por trem-bala ou voos domésticos, porque as distâncias são muito grandes.
“Nós fizemos várias rotas com trem-bala, com velocidade de 300 a 350 quilômetros por hora. Então, em três horas, você passava de 1 mil, por volta de 1 mil quilômetros. Fizemos alguns trechos internos aéreos, com companhias domésticas. E aí, vale ressaltar que são 30 companhias domésticas lá. 30 companhias aéreas chinesas fazendo o tráfego aéreo dentro da China”, explicou.
Em relação às matrizes energéticas, Edwal as descreve com um negócio espetacular. “Redes de energia elétrica ‘parrudas’ para atender todo esse desenvolvimento, muitos parques eólicos, parques fotovoltaicos, várias usinas de carvão gerando energia elétrica. Ou seja, o que demonstra que, apesar deles estarem usando alguns ônibus de hidrogênio já, usando muitos ônibus elétricos, os trens-bala são elétricos e os trens de carga também são elétricos. Em sua maioria, eles demandam muito de energia elétrica”, frisou.
Para Portilho, a questão da energia elétrica é um dos maiores obstáculos para o crescimento de Goiás atualmente. “Seja da produção irrigada, seja da produção industrial, talvez o maior gargalo é a disponibilidade de energia elétrica. Não a geração. Estou falando da distribuição, que é o nosso caso. Lá, a gente cruza com linhas de transmissão de energia elétrica uma atrás da outra. É uma malha realmente espalhada”, lembrou.
Em termos de industrialização, Edwal também contou quais foram as suas impressões no país asiático. “Não foi difícil encontrar parques industriais com mais de 1.700 indústrias de médio e grande porte, com milhares de trabalhadores que trabalham 8 horas por dia, às vezes com horas extras, mas são muito organizados nos seus planejamentos de controle e produção, então poucas vezes usam da questão da hora extra. E na indústria, normalmente, não se trabalha aos sábados e domingos. E todo mundo andando de carro novo, carro elétrico ou moto”, salientou.
Questionado sobre os desdobramentos do setor produtivo em Goiás após a missão empresarial, Edwal Portilho apontou categoricamente as oportunidades que devem ser o foco do estado nas relações comerciais com a China.
“Entendo que as oportunidades que nós precisamos focar, em via dupla, seria na segurança alimentar, ou seja, cada vez avançarmos mais em produzir alimentos para os chineses com qualidade, com sanidade, escala, volume e, obviamente, de maneira competitiva, tentando cada vez agregar mais valor e aumentar o nível de etapas de industrialização, além do fornecimento contínuo de grãos, de oleaginosas e de minérios que eles são grandes importadores. Ao lado dessa esteira econômica, de alimentos e minérios, entendo também que nós precisamos avançar muito nas parcerias tecnológicas”, conclui o presidente-executivo da ADIAL.