A decisão tomada na noite de segunda-feira (24) pela executiva nacional do PSB de fechar questão contra as reformas da Previdência e trabalhista provocou um racha no partido.
Antes mesmo de reunir-se com o presidente Michel Temer nesta terça-feira (25), em Brasília, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB-PE), divulgou uma nota em que se diz contra o fechamento de questão.
“Respeito a posição tomada pelo partido, mas continuo defendendo a manutenção do diálogo. Por isso, entendo precipitado e discordo do fechamento de questão sobre a votação da reforma da Previdência”, afirmou Câmara, que também é primeiro vice-presidente nacional do PSB.
No texto, Câmara diz que o país precisa de uma reforma previdenciária que exclua “mudanças que prejudiquem os mais vulneráveis” e qualificou o debate sobre o tema como “superficial” e disse que o governo federal subestimou a reação contra as alterações na Previdência.
“Mais uma vez, infelizmente, podemos pagar o preço de uma discussão superficial, que não avalia corretamente o impacto que a ausência dessa reforma terá sobre o futuro do Brasil”, afirmou.
“O governo não dimensionou corretamente a reação contrária à reforma, ao enviar uma proposta ao Congresso Nacional antes de estabelecer diálogo com setores importantes da sociedade, que poderiam ter evitado esse desgaste atual”, disse Câmara na nota.
Em outra frente, deputados alinhados ao governo Temer e às reformas convocaram uma reunião da bancada para a tarde desta terça (25), em uma tentativa de manifestar oposição à decisão do partido.
A ideia é conseguir apoio da maioria dos parlamentares para aprovar a divulgação de uma nota contrária ao posicionamento da cúpula do partido e forçar que ele seja revertido.
O Palácio do Planalto começou a procurar deputados e senadores favoráveis às reformas e que ocupam cargos na estrutura federal para estimular o racha na bancada. Auxiliares de Temer dizem aos parlamentares que eles podem desafiar a posição do partido e votar com o governo.
Temer autorizou seus assessores a cobrar fidelidade desses deputados em um sinal de que poderia ampliar os espaços de quem se mantiver alinhado com o governo.
O presidente recebeu nesta manhã o deputado Danilo Forte (PSB-CE), que relatou a Temer os movimentos feitos pelos parlamentares para manifestar apoio às reformas e críticas a decisão da cúpula da sigla.
“O país precisa das reformas. Fechar questão contra elas só cria um constrangimento para aqueles que porventura apoiem os projetos”, declarou.
As punições previstas no estatuto do partido para quem descumprir as decisões em torno das quais se fechou questão variam de advertência a expulsão.
Além de a executiva nacional do PSB se manifestar contra as reformas e decidir fechar questão contra elas, o pai do ministro de Minas e Energia, Fernando Filho, senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), disse que o cargo do filho está à disposição de Michel Temer.
O presidente, contudo, comunicou ao ministro que o manterá no posto.
Segundo a reportagem apurou, o ministro chegou a cogitar mudar de legenda na conversa com o presidente, que considerou a medida desnecessária.
À reportagem, o ministro disse que não faria comentários sobre o assunto e que “o cargo já é do presidente e se alguém fosse colocar à disposição, seria eu e não ele [o senador, pai dele]”.
Se a sigla cumprir a ameaça e romper com o governo, a base de Temer na Câmara perderá 35 integrantes, passando de 411 para 376. No Senado, deixaria de contar com sete de 67 parlamentares de partidos aliados.
Para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) como a da reforma da Previdência, são necessários ao menos 308 votos na Câmara e 49 no Senado. (Folhapress)