Disparou o número de pessoas mortas em decorrência de intervenções policiais no Brasil, segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nesta segunda-feira (30). São 4.224 casos, maior número registrado pela entidade, e uma alta de 27% em relação ao ano anterior, que registrou 3.330 casos do tipo.
As maiores taxas desses crimes foram registradas no Amapá (7,5 casos por 100 mil habitantes), Rio de Janeiro (5,6 casos por 100 mil habitantes) e Sergipe (4,1). A taxa média do país é de 2 casos a cada 100 mil habitantes.
O perfil padrão desses mortos é homem, jovem e negro. 99,3% dos mortos em ocorrências policiais são homens, 82% tem entre 12 e 29 anos (17% tem entre 12 e 17 anos) e 76% são negros, segundo levantamento do Fórum.
“Esses dados são graves porque mostram o quanto a juventude está vulnerável à ação da polícia, e a gente sabe que muitos desses casos não são investigados, então não sabemos o quanto desses casos policiais usaram de fato a força legítima, e quantos foram de fato execuções”, diz a diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno.
Entre 2009 e 2016, 21.897 foram mortos nessas ocorrências –que não incluem chacinas e outros homicídios, apenas casos em que a morte aconteceu durante ação policial.
“Nós temos jornadas extenuantes, policiais trabalhando sem equipamento obrigatório, com colete vencido, armamento ultrapassado”, diz o policial militar e pesquisador do Fórum Elisandro Lotin. “Temos uma sobrecarga de trabalho, desgaste físico e mental dos profissionais hoje nas ruas. Por conta de uma pressão interna e externa. Porque, para a sociedade, bandido bom é bandido morto, e o Estado somatiza isso. Na concepção do policial, ele está fazendo a coisa certa”, afirma.
MORTES DE POLICIAIS
Também cresceu o número de policiais civis e militares vítimas de homicídio. Foram 437 em 2016, aumento de 17,5% em relação às 372 mortes em 2015.
O perfil: 31% tem entre 30 e 39 anos, 33% tem entre 40 e 49 anos e 21% tem entre 50 e 59 anos. A maior parte é negra (56%). Brancos ocupam 43% dos policiais mortos. O dado considera apenas policiais na ativa.
“Boa parte desses policiais morrem em bicos -na necessidade de complementar a renda-, ou são executados justamente por serem policiais, ou vão reagir a um roubo por estarem armados”, afirma Bueno “O que a gente exige dos nossos policiais? Essa ideia que o policial é policial 24h é uma falácia, que só o coloca em estado de mais vulnerabilidade. Ele é policial no serviço. Fora de serviço, ele precisa ter seus direitos respeitados como um cidadão comum.”
Cresceu também o número de mortes violentas registradas no Brasil, chegando a 61.619 em 2016, uma média de sete pessoas assassinadas por hora. A taxa de mortes violentas foi de 29,9 assassinatos por 100 mil habitantes. No Nordeste, ainda maior. Os três Estados com maiores taxas são Sergipe (64), Rio Grande do Norte (56,9) e Alagoas (55,9).