SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A oposição venezuelana afirmou na noite deste domingo (16) que 7.186.170 pessoas participaram do plebiscito simbólico contra a Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro.
Segundo a comissão organizadora, chefiada por reitores de universidades, 6.492.381 pessoas participaram em todo o país e 693.789 votaram nos 86 países em que houve a consulta popular, incluindo o Brasil.
O número representa 36% de todos os eleitores aptos a sufragar na Venezuela e metade dos votantes da eleição parlamentar de 2015, vencida pelos rivais do chavismo.
Logo após o anúncio dos resultados, o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, disse que, com os votos da consulta não oficial, o presidente Nicolás Maduro “matematicamente teria seu mandato revogado”.
“Hoje a Venezuela disse ‘sim’ a um país democrático, sem violência, a um país de progresso, com liberdade. Nossa luta não terminará até que tenhamos um país para todos, tomara que o governo entenda isso”, disse.
“O país saiu com toda a dignidade e a certeza para dizer que o país não se negocia e que queremos um país para todos. Somos o povo que mudou a história da Venezuela para sempre.”
Borges afirmou que a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática anunciará nesta segunda (17) as medidas que tomará a partir do resultado da votação.
O alto comparecimento dá à oposição a medida do apoio às manifestações que há cem dias ocupam as ruas do país e já deixaram 95 mortos.
O resultado, porém, é considerado impreciso. Sem lista de eleitores e com a possibilidade de votar em qualquer seção, a própria oposição admitiu o risco de uma pessoa participar mais de uma vez.
Durante o dia dirigentes da oposição não disfarçavam o otimismo com o alto comparecimento. Entusiasmado com a votação em Petare, bairro pobre e ex-reduto chavista de Caracas, o deputado Miguel Pizarro disse que “esta é a maior jornada de sobrevivência cidadã da história”. “Tivemos o pessoal da favela e do asfalto, mas o que nos une é só uma coisa: o sonho de um país diferente.”
Além de Petare, as filas foram longas em outras áreas de maioria governista, apesar da intimidação dos militantes chavistas que participavam da simulação da eleição da Constituinte e da ameaça dos coletivos (milícias chavistas).
A promessa de violência se cumpriu em Catia, bastião do governo na capital. Uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas quando cerca de cem membros de coletivos passaram de moto atirando em quem estava na fila do centro de votação da Igreja El Carmen no início da tarde.
Cerca de 300 pessoas que esperavam tiveram que se esconder no templo, incluindo o arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa -a Igreja Católica deu apoio à consulta.
Antes do início oficial do plebiscito, às 7h (8h em Brasília), as filas dobravam os quarteirões em alguns dos centros de votação. A maior afluência de votantes, porém, foi registrada no fim da manhã, quando a espera nas filas de seções de Caracas passava de duas horas.
Nos bairros caraquenhos de El Paraíso e La Candelaria e em Mérida faltaram cédulas para a demanda. A organização precisou remanejar material ou orientar eleitores a procurarem outras seções. Devido à alta procura, a votação foi estendida em três horas.
A prisão domiciliar não impediu que os dirigentes Leopoldo López e Antonio Ledezma participassem, violando as condições de custódia. “É um dever histórico, político, constitucional e moral cumprir o mandato da soberania popular”, disse López.
Para atestar a lisura do processo, os opositores convidaram cinco ex-presidentes como observadores: Andrés Pastrana (Colômbia), Vicente Fox (México), Jorge Quiroga (Bolívia), Laura Chincilla e Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica).
Fox comparou a votação à eleição presidencial mexicana de 2000, em que foi eleito, dando fim ao ciclo de 70 anos do Partido Revolucionário Institucional (PRI). “Assim estavam as pessoas, cheias de alegria, entusiasmo, esperança.”
SIMULAÇÃO
Enquanto ocorria a votação opositora, o governo dava ênfase à simulação da eleição da Constituinte. No início da tarde, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, chamou o evento estatal de “uma maravilhosa festa popular”.
Assim como seus rivais, o governo estendeu o horário da votação em quatro horas. A presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, disse, sem números, que foi “a maior participação em uma simulação na história do país”.
Foi o mesmo tom de Maduro: “O povo foi às ruas como um mar gigantesco. Quem tenha olhos, que veja bem.”
Como resposta, pediu diálogo a seus adversários. “Faço um chamado para que voltem à paz, ao respeito à Constituição, […], para que iniciemos um novo ciclo, de diálogo, que respeitem o povo e respeitem seus próprios militantes que foram votar na consulta de hoje.”