O Planalto precisou intervir nesta segunda-feira (17) para evitar um racha na base aliada às vésperas de importantes votações de medidas econômicas na Câmara. Em uma semana em que o presidente Michel Temer está fora do país e a pauta política tendia a esfriar, virou polêmica um jantar promovido pelo líder do PTB e postulante ao comando da Câmara, Jovair Arantes (GO), com líderes do chamado centrão.
Coube ao ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) atuar pessoalmente para contornar mal-estar criado durante o dia.
O encontro do centrão, grupo que inclui principalmente PSD, PR, PP, PTB e PRB, estava marcado desde a semana passada, mas, ao longo do dia, ganhou contornos de tentativa do grupo para atrair o apoio do PMDB, partido de Temer e maior bancada da Casa -com 67 parlamentares-, para a candidatura à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O Planalto, porém, não gostou. A ordem de Temer é manter a imagem de neutralidade para evitar desagradar a base e comprometer a aprovação de medidas importantes como a que estabelece um teto para os gastos públicos. O segundo turno da votação da emenda à Constituição está previsto para a próxima semana.
Com o vazamento de que a reunião trataria da presidência da Câmara, auxiliares do presidente ponderaram que o PMDB não deveria antecipar a discussão e que o líder do partido na Câmara, Baleia Rossi (SP), poderia comparecer desde que deixasse claro o tema não seria debatido.
Baleia então desistiu de atender ao convite do centrão e marcou encontro informal da bancada peemedebista para discutir as estratégias para a votação da PEC.
O gesto provocou incômodo na base de Temer. “A conotação que se deu não é boa para o momento que estamos vivendo”, disse Baleia no início da noite, sobre o encontro do centrão, enquanto rejeitava telefonemas de Jovair.
O líder do PMDB defende que a discussão sobre a sucessão na Câmara seja feita somente após a votação da PEC em segundo turno. Foi aí que o ministro Geddel Vieira Lima entrou na articulação, após ser procurado por líderes do centrão para ouvir que a pauta do jantar seria apenas a reforma política.
O Planalto, então, chancelou a ida de deputados do PMDB ao encontro. Baleia foi à casa de Jovair acompanhado do irmão de Geddel, Lúcio Vieira Lima (BA).
“Me consultaram e eu disse que era inoportuno [discutir a sucessão na Câmara]”, disse Geddel. “Ninguém está patrulhando reunião de deputado, apenas ponderando que é inoportuno discutir isso agora”. Após falar com líderes do centrão e ouvir deles que não seria discutida a sucessão na Câmara, Geddel minimizou a polêmica: “Falei que se quisessem, poderiam ir”.
A eleição que vai escolher o substituto de Maia acontecerá em fevereiro do ano que vem.
A discussão, porém, já serve de prévia para a corrida presidencial de 2018. A base do governo tem hoje ao menos seis candidatos. Pelo centrão, aparecem Jovair e de Rogério Rosso (PSD-DF), que perdeu a disputa para Maia em julho. Já pela antiga oposição, despontam Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e Carlos Sampaio (PSDB-SP). Não está descartada eventual tentativa regimental para reeleger Rodrigo Maia, além da candidatura de Heráclito Fortes (PSB-PI).
Lideranças do PMDB e do centrão têm defendido uma tentativa de consenso em torno de um único nome da base, mas avaliam que as divergências internas do PSDB podem dificultar a articulação. Entre os tucanos, o senador Aécio Neves (MG) e o governador Geraldo Alckmin (SP) disputam a indicação da sigla para a sucessão de Temer.
O comando da Câmara é visto por ambos como uma demonstração de força e chance de se cacifar para o posto, já que poderiam facilitar a tramitação de suas bandeiras econômicas.
(Folhapress)