Depois da temporada de filiações partidárias, o prefeito Paulo Garcia (PT) perdeu aliados na Câmara municipal. Votações do Prefeito podem ficar mais complicadas. Partidos como SDD e PROS tem 3 vereadores cada um.
Mudanças minam base de Paulo
Prefeito de Goiânia ainda tem maioria na Câmara Municipal, mas trocas de partido diminuem sustentação e pressiona Paço ampliar diãlogo
Murillo Soares – Estagiário do convênio Tribuna do Planalto/UFG
A primeira semana de outubro foi marcada pelas mudanças de partido. Várias lideranças migraram de uma legenda para outra, visando as eleições do ano que vem. Só na Câmara Municipal de Goiânia sete vereadores trocaram de legendas. Elias Vaz, que estava sem partido, aguardando a criação do Rede Sustentabilidade, foi para o PSB. A bancada do PV se extinguiu e Paulo Magalhães e Cida Garcês filiaram-se ao Solida¬riedade. Quem também se juntou à agremiação foi Djalma Araújo, deixando o PT. Além deles, Divino Rodrigues e Paulo da Farmácia migraram para o Pros, juntamente com Wellin¬gton Peixoto, ex-PSB.
Nessa troca de partidos, muitos foram para agremiações ditas “independentes”, como o Pros e o Solidariedade. E, com isso, de acordo com o vereador Divino Rodrigues (Pros), o prefeito Paulo Garcia (PT), teria perdido pessoas importantes da sua base, o que o enfraqueceria. Isso poderia ser exemplificado com a votação que ocorreu na terça-feira, 8, da mudança no Difícil Acesso, auxílio financeiro que os professores do município recebem. O projeto quase foi barrado pela oposição, provando que a força da situação na Casa está em xeque.
Alguns vereadores acreditam que a situação de terça-feira foi atípica. Para Divino Rodrigues (Pros), a perda de poder de Paulo é relativa. “Ele pode até ter enfraquecido, mas nada a ponto de deixá-lo preocupado”, aponta. A votação do projeto foi fomentada por questões particulares de cada vereador, segundo ele. Já Elias Vaz (PSB), diz que projetos polêmicos, como esse da Educação municipal, tendem a fugir um pouco da dicotomia base-oposição, já que eles levam em consideração outros fatores mais subjetivos.
Outra questão apontada por Elias Vaz é o acirramento das eleições de 2014. Para ele, este é um fator que pode fazer com que a base aja como oposição e vice-versa. “Há vereadores que, por exemplo, apoiaram o Paulo em 2010, mas não apoiam o PT em nível estadual”, ressalta.
O Paço Municipal tinha, normalmente, entre 20 e 22 votos. Além da bancada do PMDB e a do PT, Paulo ainda contava com o bloco Moderado e quase sempre com dois tucanos, que votavam a favor do Executivo municipal em pautas menos polêmicas e importantes. Somando todos, é a maioria da Casa.
Com as trocas de partido, no entanto, o bloco Moderado está mais indepentende e, com a saída de Divino Rodrigues e Paulo da Farmácia do PSDC, migrando para o Solidarieidade, a situação tornou-se ainda mais evidente. Apesar das conversas de bastidores de que os dois vereadores voltariam a compor a base do prefeito dentro da Câmara Municipal, por enquanto, não há uma definição concreta.
Se isso não ocorrer, com os votos dos Moderados e algumas possíveis dissidências, a oposição poder ter, no fim das contas, mais votos que a base de Paulo Garcia, somando os votos de 18 vereadores, ou seja, a maioria da Casa. Isso dificultaria ainda mais a votação dos projetos.
Nos bastidores, vereadores comentam a falta firmeza do prefeito Paulo Garcia ao fechar apoios. Lideranças do chamado grupo Moderado da Câmara teriam negociado com o prefeito cargos na máquina da prefeitura. Esse espaço na gestão não estaria sendo cumprido integralmente. Com isso, esses vereadores sentem-se livres nas votações e acabam fechando questão contra o Paço em projetos mais polêmicos.
De acordo com Elias, esta situação, de fato, mostra fraqueza do Executivo municipal. Para o vereador Djalma Araújo (SDD), no entanto, a culpa é da base existente dentro da Câmara. Segundo ele, apesar de a oposição, em tese, ser menor que a situação, é bem mais organizada e articulada. “A base do Paulo é muito fraca, com vereadores sem poder de articulação. Falta-lhes articulação política”, alega.
O projeto
O projeto que estava em pauta na terça-feira buscava a universalização do programa “Difícil Acesso”, ao qual os professores do município que moram longe de onde trabalham têm direito. A Secretaria Municipal de Educação, no entanto, teria constatado que apenas 50 professores teriam, de fato, direito a esse auxílio. Então, para que a maioria deles não perdessem o benefício, foi criado o projeto de lei para que todos recebessem a gratificação, porém em uma quantia menor.
O vereador Virmondes Cruvinel (PSD), porém, criou uma emenda aumentando o valor do auxílio. O projeto foi aprovado com dificuldade, porém a emenda não. E, depois disso, os professores se instalaram na Câmara Mu¬nicipal, onde continuavam até o fechamento desta edição, sexta-feira, 11.
Nessa votação, vários vereadores da base do prefeito votaram contra o projeto, mas, de acordo com Divino Rodrigues, foi por motivos pessoais e não políticos. “Eu mesmo não votei contra o Paulo, votei com os professores”, salienta. “Os vereadores Fábio Lima (PRTB) e Tatiana Lemos (PCdoB), por exemplo, já declararam que não votam contra a Educação de Goiás”, completa Elias.
Divino, entretanto, prevê um desfecho negativo para Paulo Garcia acerca dessa discussão. Para ele, mesmo o prefeito ganhando a votação, toda a situação levará a um desgaste do Executivo. Além disso, ficará uma situação desconfortável entre a prefeitura e os educadores por muito tempo. “Os servidores são mais fortes que o poder. Com esse episódio, vimos o tamanho da dignidade dos professores de Goiânia”, discursa o vereador.