Ainda na contramão de seu partido, o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), voltou a defender a prioridade do PMDB para a disputa pelo Governo do Estado e classificou as últimas declarações do prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), como “levianas”.
A crítica do petista vai ao encontro do que a base governista tem propagado contra a oposição: “Temos de apresentar o mais rapidamente possível um programa sólido, que tenha substância e responda as demandas. Depois preocupamos com nomes.”
Paulo admitiu desgastes na gestão e disse que as dificuldades são consequentes da falta de recursos para os municípios, aliada aos ataques constantes de representantes do governo do Estado.
Confira, na íntegra, a entrevista concedida ao jornal O Popular:
Depois que o PT começou a acelerar o processo de lançamento de pré-candidatura, o senhor passou a falar da importância da aliança e que é natural que o PMDB indique a cabeça de chapa. Por quê?
Para ser coerente com tudo que sempre tenho falado. A questão prioritária é o projeto nacional, a reeleição da presidente Dilma. Para isso, precisamos unificar as oposições para cumprir nossa parte em Goiás. Temos de defender o projeto da reeleição e apresentar um programa que dê resposta às demandas regionais. Considero, e é a interpretação que faço das pesquisas, que este governo se desgastou, encerrou seu ciclo. Pela não resposta a demandas nas áreas de saúde, saneamento, energia e principalmente na área da segurança, que nos aflige de forma sistemática em níveis alarmantes. Por nos submeter no cenário nacional a exposição por conta de escândalos. Então esse ciclo se encerrou. Mas a oposição precisa estar unificada e ter projeto. E não se trabalha unidade colocando nomes na mesa. Primeiro se discute o que une, atrai, agrega. Por que eu digo do PMDB? É o nosso parceiro prioritário e preferencial a nível nacional e em um projeto vitorioso em Goiânia desde 2008. E as pesquisas hoje mostram que há polarização entre PMDB e PSDB. Então é a defesa da unidade. Mas não defendo nomes. Nunca defendi.
Mas o PMDB foi o primeiro a apresentar pré-candidato, o Júnior do Friboi.
O meu conceito vale para todos os partidos.
Há meses seu nome vinha sendo colocado pelo PT como um dos pré-candidatos sem nenhuma restrição de sua parte. Agora o sr. retira seu nome e começa a criticar. Por quê?
Não é bem assim. Eu sempre disse que meu nome não estava à disposição. Portanto, não retirei. Em todas as reuniões do PT e nas entrevistas, sempre disse que fui eleito para administrar Goiânia. Nunca me apresentei como candidato. Em momento algum. E nem retirei o meu nome. Não houve esta decisão na reunião com o grupo que foi me visitar no Paço. Até porque não é um grupamento decisório, instância de partido. Fizemos uma reunião, solicitada pelo presidente regional do partido, com componentes das diversas correntes – deputados estaduais, federais, lideranças –, quando não chegamos a afunilar nenhum consenso. Tanto é que fizemos acordo sobre somente um ponto: ninguém manifestaria à imprensa porque não havia decisão. Não foi exatamente o que aconteceu. Aí, sim, tive de me manifestar. Porque fiquei, sem nenhum exagero, indignado. Me deu uma indignação enorme, que ainda não passou.
Com Antônio Gomide?
Sim. O prefeito de Anápolis, que é um quadro que eu respeito e admiro, foi inoportuno e deselegante. Usou termos agressivos. Parece desconhecer a história do PT. É uma agressão não a mim, mas aqueles que construíram a história desse partido. Todas as decisões no PT são tomadas com manifestação e voto direto de seus filiados. Aprovada a tese vencedora, seguimos uníssonos. Não reconhecer isso, dizer que no PT existe acordo de cúpula, é jogar na lata de lixo a história do partido. É uma postura leviana.
Não é natural que neste momento de discussões o PT coloque um ou mais nomes, ainda que seja para trabalhar dentro da perspectiva de aliança com o PMDB, como que apresentando opções?
A própria sociedade reconhece em cada partido os seus quadros. A minha postura é divergente daqueles que defendem o lançamento da pré-candidatura, a oficialização. Discutir internamente, se apresentar nos diversos espaços públicos como opção partidária é legítimo e faz parte da vida política. É diferente de um partido oficializar a pré-candidatura. Reitero: isso não soma para unificar a aliança da oposição. Volto a perguntar: a quem interessa a desunião? Quem não defende a unidade da oposição está defendendo o projeto de quem? Temos de apresentar o mais rapidamente possível um programa sólido, que tenha substância e responda as demandas. Depois preocupamos com nomes. Aí nós estaremos trabalhando pela unidade e vamos mostrar que estamos preparados. Tenho certeza de que estamos no melhor momento para assumirmos a administração estadual.
E como vê essa ação do Júnior do Friboi, que é ainda mais ostensiva?
Meus conceitos valem para todos os partidos da oposição. Eu nunca fiz manifestação pessoal citando nenhum nome. Não cito pessoalmente, não trabalho para denegrir a imagem nem daqueles que me perseguem cotidianamente e me fazem oposição, como o governo do Estado. Eu debato em alto nível. Eu tenho sido massacrado. Foi assim em 2012. Sofri um massacre de tentativa de denegrir minha imagem e da administração. Eu me coloquei na defesa de um projeto de desenvolvimento e fomos eleitos no 1º turno.
Acha que isso tem atrapalhado a sua gestão?
Em alguns momentos cria obstáculos e embaraços. Eu não tenho dúvida de que, por exemplo, na Câmara, há uma ação muito contudente da oposição, do governo, para impedir a aprovação de projetos que dariam oportunidade à administração de dar resposta a várias demandas.
No caso do IPTU acha que isso aconteceu?
Sim, aconteceu.
Diante disso, como avalia a relação administrativa, institucional com o governo, com o governador?
É uma relação madura, republicana. Nunca tivemos nenhum ataque do ponto de vista pessoal. Temos divergências em teses. E diferentemente de outros municípios – cito dois vizinhos, Aparecida de Goiânia e Anápolis, que recebem ajudas constantes do governo – eu não recebi nenhuma ajuda. Não há um metro de asfalto em Goiânia que tenha sido concessão do governo.
O sr. pediu ajuda?
Não. Pedir, não. Mas nas oportunidades em que estivemos juntos, abordamos as demandas. Chegamos a discutir a possibilidade de realizar programas de forma conjunta.
A que atribui essa diferença de tratamento?
Não tenho feito uma análise muito profunda sobre isso, até porque não é uma das minhas principais preocupações. Mas talvez porque mantivemos uma postura de oposição responsável e republicana. Talvez seja isso.
Algo que os outros prefeitos não fazem?
Não tenho como fazer análise da atuação deles no dia a dia porque eu não as vivencio. Respondo sobre a minha.
O primeiro ano desse novo mandato foi muito conturbado, teve fatos negativos, desgastes, dificuldades. Como avalia 2013?
2013 foi um ano muito complexo e difícil para todas as administrações neste País. Principalmente as municipais. Li que 92% dos municípios brasileiros arrecadam menos que suas necessidades. Tivemos um ano complexo do ponto de vista econômico. E sofremos o ataque contundente das oposições. Na minha avaliação, como uma tentativa de precipitação do processo eleitoral ou de tentar denegrir ou macular o principal foco ou o bastião de oposição ao governo, que é a capital. Em 2010, nós vencemos as eleições em Goiânia. O mesmo não aconteceu em outros municípios. Mas fizemos muito. Vou apresentar um balanço. Se pegarem o plano de governo e as realizações de 2013, até eu me surpreendi. E estamos muito otimistas com 2014. Discordo de uma manifestação do prefeito que comanda a principal cidade brasileira, que é do meu partido e por quem tenho admiração profunda, o prefeito Haddad. Ele declarou que 2013 foi um ano perdido. Não concordo. Foi um ano difícil, mas de muita realização. Nem tantas quanto desejássemos ou necessárias, mas fizemos muito.
O sr. fala em ataques da oposição, da atuação do governo para desgastar a gestão, mas há críticas e cobranças internamente, entre aliados do sr., que acham que a Prefeitura deixou a desejar em 2013. Tem noção disso?
Tenho. Trabalhamos com pesquisas. Elas nos dão uma clara demonstração e dados objetivos das nossas fragilidades, dos setores em que precisamos avançar e das correções que precisamos implementar. Nós sabemos disso.
E o problema maior é dinheiro? Ou é gestão, amarras políticas ou outras dificuldades? O que pesa?
É um somatório de todos esses fatores. Vocês falaram da questão da atualização da planta de valores, os municípios vizinhos fizeram em índices muito mais elevados. E não houve nenhuma exposição tão intensa quanto a que sofremos, por parte dos agentes políticos e por parte dos veículos de comunicação. Tenho convicção que foi um desserviço à cidade a não aprovação do projeto. Mas considero página virada. Já não trabalhamos mais com esse planejamento. E respeitamos a decisão do Poder.
O sr. falou de pesquisas sobre a gestão. Quais são os maiores problemas, os principais gargalos a serem superados?
Há uma demanda muito intensa, que presenciamos nas manifestações de rua do ano passado. O que o povo brasileiro foi às ruas cobrar? Novas estruturas? Foi. Investimentos em algumas áreas? Sim. Redução de tarifas? Sim. Moralidade e transparência? Foi. Mas foi principalmente a melhora da qualidade dos serviços. A pessoa não quer ser atendidas dentro de um palácio, pode ser em um barraco, desde que seja bem atendida. É o que vamos perseguir de forma sistemática este ano. Temos 52 obras a realizar na área da Saúde para 2014. Mas mais importante, vamos perseguir o atendimento de qualidade em todas as nossas unidades.
Voltando a questão eleitoral, no evento de posse do novo diretório do PT, foram unânimes as manifestações em favor da pré-candidatura de Antônio Gomide. Isso não é um sinal de desejo do partido e que o sr. estaria nadando contra a corrente?
Não me incomodo de nadar contra a corrente, até porque o fiz quando defendi aliança com o PMDB em 2008. E fomos a tese vitoriosa. Segmentos importantes do partido quase todos estavam contra. Quando a base se manifestou, foi a tese vitoriosa.
O sr. não tem o receio de passar a imagem de que está atuando em favor de um projeto do PMDB, mais especificamente de Iris Rezende, em vez de trabalhar em favor do seu partido?
De maneira alguma. Estou defendendo o PT. Estou saindo em defesa da unidade das oposições. Estou saindo na defesa de um projeto eleitoral vitorioso. Aqui e nacionalmente.
O sr. é muito próximo do ex-governador Iris Rezende. Como o sr. vê a posição dele no cenário político? Acha que há vontade de ser candidato ao governo?
Falamos constantemente sobre política. Nós dois temos uma afinidade pessoal e sobre a grande maioria dos temas políticos. O que não me faz, nem a ele, confundir as posições do meu partido e do partido dele. Jamais tentamos interferir no partido um do outro. Sobre seu posicionamento, tenho uma opinião, mas cabe a ele falar.
O sr. fala das pesquisas que apontam polarização entre PMDB e PSDB, que são quantitativas. Até que ponto devem pesar as qualitativas, com o perfil que o eleitorado espera?
Quando faço a formação do meu juízo de valor, estou baseados em ambas. Não acho que as pessoas queiram o novo em faixa etária ou cara nova. As pessoas querem programa novo, que substitua um projeto esgotado e falido. É isso que as qualitativas mostram. Alguns interpretam como novos quadros. Não que não possa ser. Pode ser. Mas não é argumento para afastar outros quadros.