Presidente do PSDB fala sobre os rumos do partido e garante que governador será candidato em outubro. Em entrevista a equipe da editoria de política do Tribuna do Planalto
O presidente do PSDB em Goiás, Paulo de Jesus, concedeu entrevista na tarde da última quarta-feira, 16, à Tribuna do Planalto. Animado, o dirigente disse não ter dúvidas de que Marconi Perillo será o candidato da base governista na eleição deste ano, mas evitou comentar quando haverá o anúncio oficial.
O tucano destacou que enquanto o governador mantém sua agenda no interior realizando inaugurações ou autorizando e acompanhando obras, a base trabalha para a eleição nos legislativos federais e estaduais, além de planejar o trabalho para a campanha. “Talvez não façamos comícios”, revela.
Sobre a entrada ou não de Ronaldo Caiado na base governista, Paulo é enfático. “Oitenta por cento da base do DEM está conosco e apoia o governador Marconi Perillo. A decisão está nas mãos de Ronaldo Caiado”, frisa.
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Tribuna do Planalto – O PSDB é um partido muito grande que sempre entra nas eleições com a obrigação pelo menos de manter as cadeiras que tem na Assembleia e também na Câmara Federal. Isso faz que o partido entre com uma responsabilidade maior nas eleições?
Paulo de Jesus – Claro. A responsabilidade é grande por conta da própria estrutura do partido e da liderança do governador. Infelizmente, hoje temos somente três deputados federais no partido, mas estamos fazendo um trabalho para fazer cinco neste ano. Na Assembleia a ideia é ampliar de dez para doze, porque temos candidatos bastante fortes. Nas coligações proporcionais, para deputado federal, vamos ter um chapão compondo com os maiores partidos da base. Os menores estão trabalhando para fazer uma chapa menor, a chamada chapinha. Já para deputado estadual, no início houve um trabalho para que lançássemos chapa própria, com 62 candidatos. Fomos seguidos por PP, PSD, PTB, que assumiram a mesma ideia. Mas agora alguns partidos refluíram e nós, como partido anfitrião, que conta com a cabeça da chapa, temos que receber quem quiser se coligar conosco. Então é provável façamos uma coligação proporcional com algum partido da base. O PP, por meio de Talles Barreto, já acenou positivamente conosco, buscando compor. Nos partidos menores também há a possibilidade de chapa pura, como o PHS e o PSL, que trabalham para isso. Os outros, se não conseguirem lançar (chapa pura), talvez irão se juntar e fazer uma chapa menor.
A chapa de deputado federal, o chapão, deve eleger quantos deputados?
Nós estamos trabalhando para fazer 11 ou 12. É arrojado. A ideia é essa. A chapa é muito forte. No PSDB mesmo temos nomes fortes. Vamos buscar fazer ao menos cinco dos federais.
A concorrência está muito grande também, não? Já há um pouco do fogo amigo, pois você acaba concorrendo com outro companheiro de base. Como o partido tem trabalhado com isso?
Se não houvesse coligação proporcional, os partidos já estariam trabalhando de forma diferente. Se houvesse cláusula de barreira, fortaleceríamos os partidos do interior e eles decidiriam quem indicar e apoiar para deputado federal e estadual. Defendemos o fortalecimento dos partidos por meio da fidelidade partidária e queremos mais filosofia em nossas escolhas. Assim trabalhamos com nossa base aliada. Defendemos que, se o PSDB apoiar algum deputado federal do PSD, a vaga de estadual tem que ser do PSDB. Pessoalmente, trabalho para eleger todos os nossos. Caso haja necessidade, também vamos brigar para encerrar esse fogo amigo, que acaba estragando o trabalho de unidade na base.
Você citou os 14 partidos da base. Todos já estão confirmados?
Muito se fala no PHS, que ele pode sair, mas acho difícil, pois é um partido que esteve conosco durante todo o ano passado e nesse ano. Tem compromisso. O PSDC saiu, mas em seu lugar entrou o Partido Ecológico Nacional (PEN). Ainda buscaremos o DEM também.
Não haveria constrangimento em ter Caiado de volta depois de todas as declarações dele acerca do governador?
O Caiado é uma pessoa, um deputado que todo mundo conhece. Ele é previsível, é uma pessoa correta, ele defende as suas ideias e a gente sabe quais são as suas ideias. Tem aquele jeito temperamental, mas é nosso parceiro. Sempre foi. Agora, a decisão está na mão dele, porque mais de 80% da base do DEM está com Marconi Perillo.
Se o Caiado fechar com a base dele, com o governador, o espaço dele está garantido na chapa majoritária?
Eu sempre falei que chapa majoritária só é fechada nas eleições e nós estamos ainda a 80 dias das convenções. Não se faz mais política condicionando seu apoio. Na nossa base temos políticos experimentados e pragmáticos e por isso ganhamos em 1998. Nosso trabalho é feito em cima de propostas e projetos, para depois virem os nomes. E ainda é cedo para se falar em nomes, ainda mais quando esse nome ainda não está aqui dentro. Temos para candidatos a vice e ao senado José Eliton e Vilmar Rocha. Esses são o que estão agora e contam com apoio de grande parte de nossa base.
Mas se tem que esperar até a convenção, não estaria cedo para Vilmar Rocha e José Eliton apresentarem seus nomes?
Não, pois foi vontade deles e de seus partidos, no caso o PP e o PSD. Já apresentaram antes e o governador se mostrou simpático a isso. Mas entendo que essas coisas ainda precisam ser ‘maduradas’ no momento certo. A definição focará para a convenção. A não ser que haja consenso.
A base estar unida enquanto a oposição se divide, inclusive com racha dentro do PMDB, é benéfico para vocês?
Claro. Enquanto eles (oposição) continuarem discutindo vaidades e interesses pessoais, para nós é melhor. Nós discutimos projetos para avançar, buscando propostas que sejam de interesse da população. Não gostamos de dar palpite na casa dos outros, mas prestamos atenção, pois política é isso, é interesse coletivo.
Vocês vêm definindo estratégias de acordo com o adversário que poderão enfrentar?
Não. Nós estamos pensando na definição de como vamos encaminhar a nossa campanha. Talvez não façamos comícios nem grandes carreatas. Podemos utilizar a internet. Nós estamos discutindo isso. Procuramos a forma mais eficiente de contato com a população, para captar seus anseios, seus projetos exequíveis. Por conta dessas pesquisas que o governador Marconi não anunciou sua candidatura ainda. Agora, conhecemos todos os adversários. Tem um que está falando que é novo, mas se ele vier com a prática do partido dele, com toda ineficiência, má gestão, corrupção, já ficou bem velho. O partido dele foi eleito para acabar com a corrupção, para avançar e para melhorar o manuseio do dinheiro público, mas mostrou o contrário.
E se Marconi chegar em junho e falar: “Não sou candidato.”. O que a base fará?
Na hora que chegar esse momento a gente senta e discute. Eu não gosto de conversar sobre hipóteses nem de especulações. Não nos interessa. Nós estamos governando, estamos com a base unida. Para que fazer discussão agora? Para virar briga? Casa que falta pão todo mundo briga e não tem razão. Então para que inventar?
Mas sem Marconi enfraquece o grupo, a base?
O Marconi é uma liderança diferenciada, que tem predisposição ao trabalho, que tem foco em gestão e em eficiência. Ele parece que trabalha 25 horas por dia. Verifica tudo. Todos têm o direito de maneira colegiada, de criar, de sugerir tudo, mas tudo discutido com ele. Ele prima pela eficiência de gestão.
Mas seria uma perda considerável…
Não quero nem discutir a hipótese. Todos os 14 partidos querem que ele seja governador. Não acredito que ocorrerá algo diferente disso. Marconi será nosso candidato.
Qual que é o maior ‘Calcanhar de Aquiles’ hoje dentro do governo de Marconi Perillo? É a Celg? É a segurança pública?
Olha eu vejo a Celg não como um grande ‘Calcanhar de Aquiles’ do governador, mas sim do progresso de Goiás. A (falta de) energia elétrica é que está atrapalhando o crescimento e impedindo boa parte das grandes indústrias de virem para cá. Mas mesmo assim algumas ainda estão vindo, por conta de incentivos. Já tem dois anos que passamos a direção dela para a Eletrobrás. Na negociação, ofereceram 1 real pela Celg. Foi brincadeira. Quiseram ofender politicamente o governador. O problema da Celg começou em governos anteriores. Já na segurança pública, o problema não são somente as drogas, mas sim o financiamento da segurança pública. Por qual motivo a União só gastou R$ 3,2 bilhões do seu orçamento no ano de 2012 com segurança pública? Por qual motivo a União recebe 72% da arrecadação e o Estado fica com 14% e os municípios com 14%? É o pacto federativo e a distribuição da receita. E onde que mora a população? Mora no município. O Estado é mais perto dos municípios e pode ser mais eficiente. A União quer manter o poder econômico. É isso que o PT está fazendo. O PSDB também tem culpa, devia ter corrigido isso lá atrás. A União não gasta nada. Deixa para o Estado e para o Município gastarem. Nisso entra a segurança pública. Só será resolvido quando houver um grande trabalho de união nacional para trabalhar essa questão.
O senhor vê algum governo eleito que vai ter vontade de redistribuir esse bolo da União?
Olha, a responsabilidade com a nação tem que existir. Não é possível que nos não vamos chegar a isto em pleno século XXI. O mundo inteiro já é dividido assim. A função da União é fiscalizar, coordenar e orientar. Como acabar com a pobreza? Investindo em educação, conhecimento e segurança.
São Paulo e Rio diminuíram bastante o índice de criminalidade numa gestão estadual. O sr. acha que deve ser um espelho para Goiás?
Claro. Isso aí sempre é visto e trabalhado por nós. Mas você precisa se lembrar que o maior orçamento do país e da União. O segundo é o Estado de São Paulo e o terceiro é a cidade de São Paulo. Com recursos fica mais fácil.
O governador atravessou um momento muito difícil há uns 2 anos por conta da Operação Monte Carlo, que o desgastou politicamente. Essa recuperação política é muito mais difícil que uma recuperação administrativa?
A coisa mais difícil é você desmentir uma mentira muito bem feita e muito bem planejada. A mentira e a agressão andam muito mais rápidas que a verdade e as ações positivas. Foi muito difícil (sua recuperação), mas ficou provado que tudo foi inventado. Para provar trouxemos o Romeu Tuma Júnior para fazer o lançamento de seu livro (Assassino de Reputações). Não foi a toa que eu trouxe, inclusive sem falar com o governador. Foi uma perda muito grande para o governador, mas foi uma perda muito maior para o Estado de Goiás. Nós perdemos um ano em busca da questão fiscal no Estado, justo no primeiro. Ficamos sem poder agilizar convênios e buscar recursos. E logo no ano seguinte veio toda a avalanche de tentar veicular o governador Marconi com aquele processo. É difícil se recuperar. Fomos atacados pelo PT que hoje virou um dos partidos mais conservadores do país. Só que ele é aquele que conserva o poder da corrupção, da ineficiência, dos interesses pessoais. É isso. Infelizmente quebrou o encanto do Brasil inteiro. Quebrou o encanto. O país hoje está praticamente sucateado. Pode pegar todos os programas do PAC. Nenhum deles andou. Não tem planejamento, não tem eficiência não tem execução e, quando executam, é mal feito. Se já tivessem terminado a ferrovia Norte-Sul teríamos muitas melhorias na região norte do Estado. Falta só mais 15% e ainda não irá terminar.
O governador Marconi Perillo também não cumpriu todas as suas promessas de acordo com levantamento do jornal O Popular. Como o senhor vê isso?
Não. É o contrário. Eles fizeram leitura errada, principalmente quando falaram que só cumprimos 12%. Não é aquilo! Melhoramos muitos índices nesta gestão. Na Educação melhorou, o IDEB melhorou, na Saúde as OS’s, mesmo com muita gente contra, tem funcionado. Quem já reconstruiu 4 mil e já fez 2 mil quilômetros de rodovias? Goiás precisa dessa infraestrutura. Eu acho que nós já devemos ter feito mais de 80% do que prometemos. O jornal O Popular levantou isso já tem um tempo, mas de maneira equivocada. Nossos dados são diferentes.
Qual tem que ser o norte da base aliada depois de 16 anos de poder. Ainda há algo novo? Como vocês vão trabalhar isso?
A população não esta querendo algo novo não. Ela está querendo que sua vida melhore. Candidato novo com ideia velha não adianta. Marconi é novo ainda e tem ideias e disposição para fazer mais. Temos que buscar algo que melhore a qualidade de vida das pessoas. A educação do Ensino Médio tem que dar um salto de qualidade para a profissionalização do estudante. O Bolsa Futuro já é uma grande ideia que ajudou. Deveríamos também investir nas Escolas Técnicas, no combate às drogas, construir escolas integrais, ajudando as mães a trabalhar.
Em algumas ocasiões houve reclamação de mães quanto a implementação das escolas de tempo integral. Isso chegou a surpreender o governo, já que é quase unanimidade de que as escolas em tempo integral são muito benéficas para a sociedade?
A população às vezes nos surpreende. Nós temos que ter uma forma de envolvê-la nas discussões, de maneira efetiva e não somente recebendo os benefícios. Muita gente hoje tem esse equivoco da não participação. O que tem que ser feito é o modelo grego de democracia, com participação incisiva da população.
Cyro Miranda não vai deixar os dois meses para sr. assumir um pouco o mandato no Senado?
Olha, essa é uma prática que foi sempre feita na política, mas eu nunca gostei disso. Sempre fiz política e gostei disso, mas nunca quis ser candidato. Fui escolhido como suplente por acaso. Estavam sem a segunda suplência e o Carlos Alberto Leréia me indicou. Nunca assumirei, pois vices e suplentes somente assumem em casos emergenciais, o que não é este caso. Prefiro continuar auxiliando nos bastidores.
No mês passado relembramos 50 anos do Golpe Militar, que atingiu você pessoalmente, com sua prisão, e com a perda do seu irmão. Qual mensagem deixa para os mais novos que defendem a Ditadura, sem tê-la conhecido?
O assassinato do meu irmão foi uma coisa lamentável. A minha própria prisão e de muitos companheiros também. Agora mesmo eu estava no enterro do professor Carlos Debrey, que morreu e era da nossa turma. Ele era do partidão (PCB) na época. Uma das grandes responsabilidades da população em pedir isso (volta dos militares) é a falta de informação. Lutávamos pela democracia e pela liberdade. Hoje vemos quem apoiou os militares no poder. O (José) Sarney é um deles. A dinastia deles, lá das capitanias hereditárias, no Maranhão não cessa nunca. O sistema patrimonialista, que vem lá de Portugal, permanece efetivo. O cidadão chega ao poder e acha que aquilo é dele. Isso deixa as pessoas descrentes com a condução do país. O presidente chega na TV e fala “O PT fez isso porque todos os outros partidos fizeram”, ou “O PT fez caixa dois porque todos os outros partidos fizeram”. Ora, não é assim. Desse jeito qualquer um vai se achar no direito de pegar um menino roubando picolé e amarrar ele num poste, ou linchar qualquer um. A perda da liberdade e da democracia é algo sério. Nós temos é que preservar e aprofundar a democracia.