Um dos assuntos mais comentados na reta final de campanha diz respeito ao chamado voto útil no ex-presidente Lula (PT). O objetivo desse movimento é torná-lo vitorioso já no primeiro turno à medida em que eleitores de outros candidatos, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), migrem para o petista.
Os defensores dessa tese argumentam que uma vitória de Lula no primeiro turno é capaz de barrar um golpe do presidente Jair Bolsonaro (PL), que, insatisfeito com uma eventual derrota, poderia bolar um plano para continuar no poder de forma antidemocrática.
Partindo do pressuposto de que Bolsonaro tem, de fato, condições de articular um golpe, o que ainda não parece totalmente certo, vale destacar os dois lados da moeda em relação ao voto útil em Lula. Será que essa é mesmo a melhor alternativa para evitar uma ruptura democrática?
De acordo com os que apoiam o movimento, caso o petista vença o atual presidente no primeiro turno, o rechaço da população a Bolsonaro seria tão claro que ele ficaria sem escolha a não ser deixar a Presidência com o rabo entre as pernas.
Além disso, no primeiro turno, o voto na urna é computado para presidente, governador, senador, deputado estadual e deputado federal. Sendo assim, candidatos bolsonaristas que forem eleitos para outros cargos não apoiariam o golpe a fim de não prejudicarem as suas próprias eleições.
Ambos os pontos são válidos. Porém, também há argumentos no sentido de que derrotar Bolsonaro no segundo turno seria mais interessante para manter a democracia brasileira de pé e, portanto, o voto útil em Lula não ajudaria.
Se a eleição acabar no primeiro turno, a tendência é de que a margem seja pequena, isto é, um triunfo de Lula com pouco mais de 50% dos votos. Nesse caso, aumentariam as chances de o atual presidente questionar o resultado.
A propósito, Bolsonaro, que gosta de fazer referência às manifestações na rua ao seu favor para provar sua popularidade, que, até certo ponto, realmente existe, pode até aceitar perder no segundo turno, mas jamais o faria no primeiro.
Independentemente do que ocorrer no pleito presidencial, haverá votações de segundo turno para governadores em alguns estados em que bolsonaristas também estarão na disputa. Claro que em uma escala muito menor do que no primeiro, mas, ainda sim, o argumento de que apoiadores do presidente que forem eleitores não embarcarão no golpismo, em parte, continua.
Aqui, cabe mencionar o que disse o candidato a senador Wilder Morais (PL) sobre o assunto, durante sabatina promovida por Rádio Bandeirantes e Diário de Goiás. Segundo o empresário, um bolsonarista, os votos para presidente e outros cargos na urna não podem ser encarados como a mesma coisa.
Não importa se são ou se não são. O que importa, para o bolsonarismo, é o discurso. E o discurso, na eventualidade de o presidente levar adiante uma tentativa de golpe, mesmo com aliados eleitos nos estados, já está pronto. Vão dizer que são coisas diferentes, e muita gente vai acreditar.
Por fim, há um aspecto temporal. Se a eleição for decidida no primeiro turno, Bolsonaro terá cerca de uma mês a mais para articular um golpe até o dia da posse, em 1º de janeiro. Logo, se houver segundo turno, o risco será menor.
Este texto não tem a intenção de afirmar quais argumentos são mais ou menos fortes. A ideia é apenas alertar o eleitor para o fato de que existe mais de uma lado acerca do voto útil em Lula para evitar um golpe de Bolsonaro, e que ambos podem estar errados, caso o presidente não tente nada.