Estamos num feriado prolongado. Antes da pandemia num período desse, Goiânia estaria vazia, centenas de famílias viajariam com os seus queridos e desfrutariam de um momento de descanso, saindo da pesada rotina de uma cidade grande. Um dos principais destinos em Goiás é Pirenópolis. A cidade chama atenção pelas belezas naturais, como cachoeiras, além de um aconchegante lugar histórico. Sem a presença de turistas, há a ausência de empregos. Camareiras, garçons, atendentes e tantas outras pessoas sonham com a passagem do coronavírus e o retorno da normalidade. Com a pandemia, o feriado prolongado está diferente na cidade.
Pirenópolis está fechada, a prefeitura tomou medidas duras para conter o avanço da Covid-19. O Turismo, responsável por grande parte da economia da cidade vai ser uma das últimas atividades a serem retomadas. O vírus ainda está presente e não está sozinho. Com ele está a incerteza sobre o futuro, a preocupação com o presente. Sem emprego, pais, mães estão vivendo um dia de cada vez, e com esperança que tão logo haja uma luz no final deste túnel chamado pandemia.
Adriel Magno é garçom. Trabalha numa pousada na cidade. É casado e tem uma bebezinha de apenas nove meses. Ele foi contratado há dez meses. A empresa ainda conseguiu segurar as pontas e ainda paga parte do salário dele. A esposa era garçonete, mas foi demitida. Em um feriado prolongado comum, como este em que estamos, seria uma boa oportunidade para Adriel e a esposa.
Como garçom, Adriel ainda consegue ganhar uma comissão, generosas gorjetas que ajudam a incrementar o orçamento do mês. Por enquanto, sem atendimento, sem comissão e com a missão de sustentar a casa sozinho, neste momento, as contas vão acumulando. Se com o vírus não tem negociação, Adriel vai fazendo o que pode, por exemplo, com o cartão de crédito, não foi possível pagar toda a fatura e o restante vai ter que ficar para o mês que vem.
“A minha família depende do Turismo, está sendo uma fase difícil pra gente. A empresa que eu trabalho disponibilizou as férias adiantadas, mesmo eu não tendo direito e paga uma parte do nosso salário. A pouca economia que eu tinha já está se esgotando. Os compromissos não param, é difícil de dizer, eu mesmo esse mês tive que parcelar a fatura do meu cartão, e isso vai ficando uma bola de neve, joguei para o mês seguinte”
Michelle da Silva tem 32 anos. É chefe de família, mãe solteira, mora com os dois filhos, um de 11, outro de apenas 3 anos. Ela também mora em Pirenópolis. Era camareira de uma pousada. Mas há três meses, foi demitida. Entrou no emprego em novembro do ano passado, mas de carteira assinada só tinha dois meses.
Ela não teve direito a nada, da empresa recebeu apenas o salário, estava no tempo de experiência. Do governo, ou melhor dos governos, nem um alento, nem mesmo o auxílio de R$ 600,00. Michelle tem sobrevivido de doações. Ainda há esperança na sociedade. Corações amorosos e voluntários têm ajudado Michelle e os filhos neste três meses.
“Estou vivendo de doações de amigos, de familiares. Eu perdi o meu emprego e não consegui auxílio de governo, tampouco da empresa que eu trabalhava. Estou há três meses desempregada. Graças a Deus a cidade é pequena, tenho amigos, faço alguns “Bicos”, ganhei cestas, tenho aluguel para pagar, tenho dois filhos, sou mãe solteira e eles dependem de mim”, disse a ex-camareira.
Adriel e Michelle tem vivido dias não muito fáceis. Adriel deseja que possa haver uma reabertura, com protocolos, com segurança, para que aos poucos, as pessoas voltem à cidade e isso ajude no emprego de tantas pessoas em Pirenópolis. “A gente consegue voltar, com máscaras, álcool em gel, conseguimos desenvolver um serviço de forma segura. Precisamos voltar a trabalhar”, disse.
Michelle está numa situação mais delicada, mas entende que ainda dá pra segurar as pontas um pouco mais. Para ela, o momento ainda não é de abrir as portas. Michelle se lembra que há um ano perdeu o pai, por falta de um leito de UTI.
Pirenópolis não tem uma grande estrutura de saúde e num período de pandemia, com um surto, muita gente pode morrer. Michelle entende que mesmo a tantas dificuldades, ainda dá pra esperar um pouco mais.
“Quero trabalhar e queria que isso fosse o mais breve possível, mas no momento eu acho que ainda não é a hora de abrir. A cidade não tem estrutura de Saúde, temos poucos respiradores. Eu não acho viável. Eu conheço esse outro lado, eu perdi o meu pai aqui nessa cidade, ele morreu esperando uma (vaga) em uma UTI, há um ano. Se acontecesse com um filho meu, eu não suportaria”, argumentou.
Na pandemia, os números têm tomado diferentes proporções e feito parte da vida das pessoas. Número de infectados, de mortos, de desempregados. As histórias de Adriel e Michelle mostram que vida não são apenas quantitativos, mas de diferentes realidades, de medos, sonhos e esperanças escondidos por trás de uma máscara.