Investimentos em programas sociais, privatizações e uma política dura de segurança deverão estar juntos no palanque de Geraldo Alckmin (PSDB) em 2018.
Para furar a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PSC) na campanha presidencial, o tucano começou a montar um discurso híbrido em sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
O objetivo do governador paulista é se consolidar como o principal nome de centro na disputa, absorvendo plataformas identificadas com a direita –como o aperto das contas públicas– e bandeiras a esquerda –como a participação do Estado na redistribuição de renda.
Nas palavras de um aliado, Alckmin quer ser um “ponto de equilíbrio” entre dois polos “radicais” que lideram as pesquisas de intenção de voto. No último levantamento do Datafolha, Lula (35%) e Bolsonaro (17%) acumulavam o apoio de metade do eleitorado, enquanto o governador aparecia com 8%.
Na avaliação dos tucanos, o embate histórico entre direita e esquerda se diluiu nos últimos anos com o acirramento do antipetismo e o descrédito da política tradicional, abrindo caminho para um discurso que mescle posições dos dois lados do espectro ideológico com um tom moderado.
Um dos pontos centrais dessa plataforma deve ser a defesa de investimentos do Estado em programas de redução da desigualdade social, para fazer frente a um discurso que prejudicou candidatos tucanos em disputas passadas contra o PT.
Apesar das incertezas sobre a candidatura de Lula, os tucanos acreditam que o ex-presidente terá influência sobre a campanha mesmo que seu nome não chegue às urnas. Por isso, Alckmin deverá calibrar seu discurso sobre os programas sociais adotados em governos petistas.
Considerado um político conservador, o tucano mantém um programa centrado no controle de gastos, mas começa a se mover alguns passos à esquerda no debate sobre o reforço de redes de proteção social do governo.
“O governador é uma pessoa convicta da necessidade de controle das contas públicas, mas sabe que o rigor pode afetar setores da sociedade que dependem do Estado”, diz o deputado Silvio Torres (PSDB-SP). “Ele cuida com zelo das contas públicas, mas tem sensibilidade para atender às necessidades da população, especialmente a de baixa renda.”
Em discursos recentes, o governador paulista também defendeu mudanças na legislação tributária para favorecer a população mais pobre. “Quem ganha um salário mínimo paga metade do que ganha de imposto, e os altos salários pagam muito pouco”, disse na convenção do PSDB paulista, há duas semanas.
Em outro ponto do espectro, Alckmin vai defender a pauta de privatizações de empresas públicas com mais vigor do que em 2006 –quando enfrentou Lula na corrida presidencial e precisou se defender quando o petista afirmou que ele pretendia vender a Petrobras e a Caixa.
Os tucanos acreditam que, 12 anos depois, o tema deixou de ser tabu e poderá ser uma oportunidade de reforçar o viés liberal de Alckmin na economia e sua defesa da redução do peso do Estado.
Auxiliares do governador paulista também consideram crucial o fortalecimento de uma plataforma de segurança pública sob uma perspectiva conservadora, para evitar que o assunto seja monopolizado por Bolsonaro entre eleitores que consideram o tema uma prioridade.
Nessa área, Alckmin pretende adotar um posicionamento duro de combate à criminalidade, mas tentará se diferenciar do deputado ao direcionar seu foco para uma política de investimento em armas, tecnologia e formação de policiais.
O discurso híbrido do governador também faz parte de uma tentativa de formar uma aliança heterogênea para dar sustentação a sua candidatura.
O governador tem mantido contato com dirigentes do PP, de postura conservadora, e do PSB, que retomou posições à esquerda desde o início do governo Michel Temer. (Folhapress)