Quinta-feira (3) foi a última noite de Neymar em Barcelona. Um grupo de torcedores se concentrou em frente à casa do atacante. Não queriam protestar. O pedido era para que o atacante recusasse o Paris Saint-Germain, com quem havia assinado contrato horas antes. Desejavam conversar com o brasileiro.
Neymar, que comia sushi com os “parças”, não atendeu ao pedido. Seu pai, sim. Foi lá e apelou para que os presentes entendessem a decisão do filho. Que era melhor mudar de ares porque os últimos anos haviam sido recheados de problemas fora de campo. Era uma alusão ao processo na Espanha por sonegação de impostos.
Neymar da Silva Santos é a linha de frente de Neymar da Silva Santos Júnior. O homem que não tem medo de ir para o combate. O que lhe rende amizades de fé, a adoração do filho e inimigos.
Ex-ponta-direita de times modestos como União Mogi (interior de São Paulo) e Operário-MT, ele realizou todos os sonhos de fama e riqueza graças ao primogênito. Nos eventos em que o agora atacante do Paris Saint-Germain é o astro, seu pai também é cortejado por poderosos e fãs, que pedem selfies e autógrafos que ele jamais nega.
O Neymar mais velho criou uma armadura em torno do filho e desempenha o papel de escudo. Ex-funcionário da Companhia de Engenharia e Tráfego de Santos, partia para a briga com torcedores em jogos das categorias de base quando alguém ousava tecer um comentário maldoso sobre sua cria. Desde cedo Neymar Júnior era apontado como fenômeno. Um imã para a maledicência das torcidas rivais quando as coisas não iam bem. O pai jamais suportou isso.
“Acho curioso porque mesmo nas brincadeiras da empresa, quando Neymar filho jogava junto com a gente, o pai apertava o menino. Cobrava a sério, dizia para não ficar encurralado nas pontas do campo”, diz Manoel Messias Gomes Filho, que trabalhava na oficina de caminhões da CET enquanto Neymar pai ficava na de carros.
Continua o mesmo. Não importa o jogo, a primeira coisa que Neymar Júnior faz no vestiário após a partida, é checar as mensagens que recebeu do pai. São comentários sobre o desempenho, reclamações, dicas, alertas. Ele pode ser o maior incentivador da carreira do filho, mas também é o maior crítico.
É o mesmo Neymar pai que em 2010 foi ao programa “Esporte por Esporte”, da TV Santa Cecília, emissora regional da Baixada Santisa, para rebater as críticas que o comentarista Flavio Antunes, ex-lateral do Santos, fazia ao atacante. A discussão descambou para cortes de cabelo, já que na época, o menino de então 18 anos usava o estilo moicano. O vídeo pode ser encontrado no Youtube, tem dez minutos de duração e já foi visto 82 mil vezes.
“Ele fala todas as verdades na cara do filho. Não existe isso de passar a mão na cabeça. Cobra bastante, por isso está onde está. Há passagens dele [Neymar Júnior] ter sido repreendido pelo pai na frente de todos”, diz Marcelo Fernandes, ex-zagueiro e ex-treinador do Santos, representado pela NN Consultoria, uma das empresas da família.
Fernandes é do time dos que amam o pai do craque. Ele viajou para Barcelona e fez estágio no clube catalão, em janeiro deste ano. Neymar pai pediu que a assessoria de imprensa do clube divulgasse a visita do técnico campeão paulista em 2015 pelo Santos. Foi atendido.
No papel de administrador da fortuna do filho, empresário e agente do futebol, ele não tem medo de queimar pontes. De destruir relacionamentos de forma que não há mais volta. Na saída do Santos, em 2013, tomou a frente para receber a “culpa” (na visão da torcida) e deixar Neymar Júnior em paz. A mesma fórmula que repetiu agora diante dos barcelonistas.
Sabe ser truculento no trato com dirigentes, agentes e jornalistas, se achar preciso.
Rompeu com Marcos Malaquias, empresário que tinha influência no Barcelona e ajudou na intermediação da ida de Neymar para a Espanha. Tem relação estremecida com André Cury, um dos representantes do clube catalão. Rompeu com Eduardo Musa, que assessorava o marketing do jogador desde o início da carreira e ainda atendia chamados pessoais, como sair de casa em um sábado à noite para ir buscar a irmã de Neymar, Raffaela, em alguma festa.
“Eu o defino como um estrategista que joga o jogo dele. Muitos que eram próximos a ele já saíram, mas o tempo será a melhor resposta para tudo. Nunca recebi nada [da negociação Neymar-Santos-Barcelona]. Não tive retorno financeiro porque não fiz nada por escrito”, afirma Malaquias, que define o rompimento como algo causado por “problemas pessoais”.
Musa hoje tem um processo na Justiça do Trabalho contra a empresa de Neymar. Ele afirma que o pai proibiu todas as pessoas do círculo mais próximo do filho a entrar em contato com ele.
“Ele é um negociador estratégico, determinado, mas que tem uma propensão pelo confronto que não consigo entender. Ele tem o melhor produto que poderia querer [o filho] e possui poder total sobre ele. Não precisa ter insegurança sobre absolutamente nada, mas invariavelmente ele vai para o confronto. Não entendo e nem preciso entender mais”, diz ele, hoje dono da empresa Bravo Sports Business.
Neymar pai não aparenta dar qualquer importância a quem se incomoda com seu estilo. Quando sentiu que o filho havia se estabilizado em Barcelona, voltou a morar no Guarujá (litoral de São Paulo), onde a família tem uma mansão em um condomínio fechado. Quando está na região, dá expediente quase diário no Instituto Neymar Jr, na Praia Grande (também no litoral de São Paulo), entidade assistencial que atende cerca de 2.500 crianças.
Ele não tem interesse em agradar ninguém que não seja Neymar da Silva Santos Júnior, seu filho. Em negociações esportivas ou empresariais, não costuma perder bolas divididas. O motor por trás da maior negociação da história do futebol é adorado por Júnior (como o chama), que já o definiu como “todos os melhores amigos reunidos em uma única pessoa”.
O papel de Neymar Júnior é jogar futebol e ser o melhor do mundo pelo Paris Saint-Germain. Todo o resto fica com Neymar pai.