Parafraseando o jornalista Fábio Zambeli no Twitter, o debate entre candidatos a Presidência deste sábado (24) teve dois vencedores: quem não assistiu e quem não participou. Promovido pelo SBT, CNN Brasil, Terra, NovaBrasil FM, Estadão/Eldorado e VEJA, o evento, que ocorreu faltando uma semana para o dia da eleição, acabou sendo morno, mais focado em ataques e conteúdo para memes, do que uma conversa para se mostrar propostas para o Brasil.
O próprio candidato e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que faltou ao debate, acabou sendo mais comentado, segundo informações divulgadas pelo Twitter e pelo Google, do que os outros candidatos que compareceram ao programa. Estavam presentes o presidente Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D’Ávila (Novo) e Padre Kelmon (PTB).
Além de mais comentado na internet, em duas horas e meia de debate, a ausência de Lula também acabou se tornando um dos pontos mais explorados pelos adversários, principalmente por Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas eleitorais e Ciro, que aparece em terceiro e luta contra a estratégia de voto útil disseminada pela campanha do petista para tentar vencer no 1º turno. O presidente Bolsonaro, aliás, foi outro alvo constante no programa.
Um dos ataques a Bolsonaro, por exemplo, foi quando Soraya o rebateu, após ter direito de resposta autorizado quando ouviu do presidente que ela havia votado para derrubar o seu veto ao orçamento secreto, o que não é verdade. “Não cutuque onça com a sua vara curta”, disse a candidata, que acabou se tornando meme na internet, pela expressão. Soraya, inclusive, leva um caderno para os debates onde estão anotadas várias de suas frases de efeito.
Bolsonaro por sua vez, também chegou a dizer que Soraya era “estelionatária”, pois usou sua imagem para “se eleger” em 2018 e agora o crítica. O que é verdade, já que a internet desenterrou materiais de campanha e vídeos em que a candidata do União Brasil usa a imagem de Bolsonaro e o defende. Veja:
Outro assunto que rendeu foi a do “padre fake”. O candidato Kelmon, que foi alçado a disputa depois que a candidatura de Roberto Jefferson (PTB), de quem era vice, foi indeferida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chamou atenção com trajes característicos da matriz ortodoxa da Igreja Católica e defesa enfática do movimento pró-vida. O “religioso” que se diz ortodoxo, porém, nunca foi sacerdote das igrejas da comunhão ortodoxa no Brasil, como revelou a coluna de Malu Gaspar do O Globo.
Mesmo assim, Kelmon celebra missas e batismos na Bahia e ganhou notoriedade em grupos conservadores graças ao discurso bélico contra a esquerda. Ao descobrir isso, internautas também transformaram assunto em piadas e memes.
No geral, o debate não teve grandes momentos realmente relevantes quando se tratava de apresentar propostas. Desde o primeiro bloco, Ciro e Simone, apesar de muitos ataques a Bolsonaro e Lula, foram dois dos que mais falaram de propostas reais, Ciro falando sobre resolver questões econômicas e Simone reforçando a situação das mulheres. Soraya focou em uma das únicas coisas que diz, que é o da criação de imposto único. O presidente do Brasil focou no ataques a Lula, garantiu que vencerá no 1º turno e falou de projetos que afirmou terem sido de sua autoria, como o auxílio emergencial na pandemia.
Outro momento delicado, foi quando o jornalista Márcio Gomes, da CNN Brasil, perguntou a Bolsonaro sobre seus atritos com o Supremo Tribunal Federal, o questionando a respeito de medidas para mudar o funcionamento e a composição da Corte. O presidente respondeu que a “judicialização contra o Executivo é clara”, lembrou decisões do STF sobre decretos de redução de IPI e liberação de armas e chegou a afirmar que a Corte “atrapalha o desenvolvimento do Executivo” e deveria se preocupar com “questões de constitucionalidade”.
“O Supremo não está imune a críticas, eles fazem muita coisa errada. Com quatro pessoas lá dentro pensando em prol do Brasil, o STF mudará a forma de agir e não vai interferir na vida de todos nós”, afirmou Bolsonaro, lembrando que terá mais duas indicações à Corte se for reeleito presidente. Fala traz um clima desconfortável para o cenário democrático.
Por fim, as considerações finais foram igualmente pautadas nas questões da polarização. Os candidatos, principalmente Ciro Gomes e Simone Tebet. “Uma pessoa me disse que o povo brasileiro está tão machucado por essa polarização de Lula e Bolsonaro, ódio, paixão, comunismo, fascismo, que não está querendo me ouvir, que eu deveria então ter paciência com isso. Quero pedir a Deus que ilumine minha palavra. Você precisa me ouvir, o Brasil está há 11 anos com crescimento tendente a zero, todos os nossos problemas se agravaram, se repetirmos o mais do mesmo nós teremos o mesmo resultado, só que com o país mais dividido”, disse o pedetista.
Já Simone Tebet afirmou que o “Brasil não aguenta e não suportaria mais quatro anos dessa discussão ideológica, dessa briga, dessas mentiras, de corrupção”. “Estou pronta para unir o Brasil com amor e, com coragem, derrotar a fome e a miséria. Tenho experiência, sei como fazer, tenho como vice uma pessoa que é tetraplégica, para mostrar que o Brasil precisa verdadeiramente ser para os 215 milhões de brasileiros”, garantiu a emedebista.