Famosos no mundo todo e especialmente no Brasil, um dos seus principais mercados, os vinhos chilenos trazem consigo mais do que o gosto particular da bebida e a exclusividade da uva carménère, redescoberta há duas décadas. Eles também possuem as histórias e belezas dos onze vales do país que, com mais conexões aéreas com o Brasil – como os voos oferecidos pela Latam -, tiveram um aumento de turistas brasileiros.

Provavelmente as vinícolas mais famosas do Chile nos últimos anos estejam no vale de Maipo, entre a capital Santiago e Valparaíso e Viña del Mar, no litoral. Foi nesse vale que, nos anos 1990, o ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot redescobriu a uva carménère sendo catalogada pelos cultivadores como merlot. Ela havia sido considerada extinta na França, de onde é originária, no começo do século 20.

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O vale de Maipo possui um clima estável, cujos verões são quentes e os invernos são secos e suaves, onde há sol na maior parte do ano. Por isso, as uvas existentes na região são ideais para a produção de vinho tinto, como cabernet sauvignon, merlot e malbec. Alguns hectares ocupados por vinícolas especiais trabalham apenas com plantas de uva para vinhos brancos, como chardonnay.

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De acordo com ampelógrafos, as mudas adquirem boas condições no período em que estão brotando e precisam ser protegidas do frio também durante o crescimento e a maturação da fruta. Por isso, a região de Maipo é uma das mais adequadas para esse tipo de cultivo.

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O vale, enfim, permite um método de irrigação próprio: o sistema de goteo, ou gotejamento, em português. Ele funciona por meio da construção de canais cujas fontes ficam nos pés dos Andes e que, quando chegam à vinícola, formam pequenos rios naturais. A água da cordilheira é armazenada em poços, o que garante uma economia de até 95% no consumo de água.

Mais longe de Santiago há o vale do Aconcágua, cujo solo arenoso e com pedregulhos, além de canais fluviais naturais ricos em minerais e matérias orgânicas, facilitam o cultivo da uva syrah, que ficou famosa nos anos 1980 e 1990 por meio das vinícolas australianas – em 1995, o vinho Penfolds Grange Hermitage, produzido no país da Oceania, ganhou o prêmio Wine Spectator, principal reconhecimento do setor.

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Em 2011, quando o ampelógrafo brasileiro Luiz Horta visitou a região, escreveu um artigo no jornal O Estado de S. Paulo surpreso com o sabor que havia encontrado no vinho produzido no Aconcágua a partir da syrah. “Nunca tinha provado um vinho desses de clima frio tão notável aqui pelo Novo Mundo”, disse.

Esse vinho é geralmente é mais encorpado e profundo, e, no caso do cultivo em climas frios, resulta em notas de pimenta-do-reino e couro. Relatos históricos dão conta que algumas vinícolas francesas do século XIX misturavam a bebida da syrah com as outras para encorpar mais o produto final.

Os vinhos chilenos, porém, seguem uma rota que vai tornando a produção cada vez mais “fria”. Se em Santiago e em regiões próximas o clima é relativamente estável e úmido, os vales mais ao sul são mais frios e molhados.

Um desses vales é o de Bío-Bío, nome também do rio já na fronteira austral entre Chile e Argentina, a cerca de 500 quilômetros de Santiago. Assim como Maipo, as vinícolas da região são tradicionais produtoras de vinhos chilenos, com registros de pelo menos um século de cultivo. Mais do que isso, a bebida é o que movimenta a economia de toda a província às margens do rio Bio Bio, conhecida como “Fim do Mundo”.

Lá, o clima é frio quase todo o ano, com alta densidade de chuvas e de ventos até mesmo durante o verão. O solo é pedregoso e repleto de areia do mar, o que faz com que os depósitos orgânicos que nele se estabelecem sejam férteis e produtivos. Essa característica faz com que o cultivo das uvas necessite de um período de amadurecimento mais longo, resultando em bebidas ácidas.

“A vinicultura em Bío-Bío requer mais paciência, habilidades e determinação do que qualquer outro vale chileno. Um punhado de cultivadores aceitou o desafio e tem plantado na região variáveis próprias de climas frescos, como sauvignon blanc e chardonnay. Os primeiros resultados premiam o esforço: os vinhos de Bío-Bío são atrativos e contam com uma fresca acidez natural”, diz um artigo do famoso site Bodegas y Viños.

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