A organização terrorista basca ETA anunciou a sua dissolução completa em uma carta divulgada nesta quarta-feira (2), encerrando um ciclo histórico de seis décadas em que mais de 800 pessoas foram mortas por suas ações. A missiva antecipa a já esperada formalização do fim do grupo, prevista para este fim de semana na França.
“Anos de confronto deixaram feridas profundas”, diz a carta obtida pela agência de notícias Efe, em que o ETA declara “com toda a humildade” o encerramento de todos os seus braços e estruturas. “Algumas feridas ainda sangram, porque o sofrimento não é uma coisa do passado”, afirma o texto.
O ETA foi criado em 1959 para exigir, com a luta armada, a independência do país Basco, uma região espanhola de história e língua próprias. A sigla significa Euskadi Ta Askatasuna no idioma local -Pátria Basca e Liberdade.
Seus alvos incluíam policiais e políticos espanhóis. Das 820 vítimas contabilizadas, das quais metade morreu em crimes ainda não solucionados, ao menos 340 eram civis.
A carta desta quarta formaliza seu fim definitivo, mas a organização já estava fragilizada a ponto de ser inoperante. Houve uma série de tréguas nas últimas décadas, mas o fim da luta armada veio apenas em 2011. Em 2016, o ETA anunciou a destruição das armas.
A extinção do grupo é creditada aos esforços coordenados entre Espanha e França e à detenção de ao menos 300 membros da facção. Houve, em paralelo, uma campanha oficial de deslegitimação de seu discurso nacionalista e violento, progressivamente condenado no país.
Uma bomba colocada pelo ETA em um supermercado em Barcelona em 1987 deixou 21 mortos -o grupo mais tarde pediu perdão pelo “erro”. O sequestro e morte do político conservador Miguel Ángel Blanco em 1997 levou 6 milhões de espanhóis às ruas.
Tanto o governo espanhol quanto as associações de vítimas, no entanto, veem o anúncio com desconfiança. Em San Sebastián, no país Basco, um grupo de cidadãos divulgou um manifesto afirmando que a dissolução do ETA é um gesto calculado para apagar a imagem de terrorista e se apresentar como um ator político legítimo -o que recusam.