A polêmica relativa a divulgação do festival Vaca Amarela deve continuar. No material de apresentação do evento, na internet, em que a imagem de um símbolo religioso católico está pintada de amarelo, com manchas em preto pelo corpo e chifres, como se fosse uma vaca. Várias críticas nas redes sociais, por conta do material. O organizador do evento disse que não fará mudanças no flyer, a não ser que haja alguma determinação judicial.
A arte do festival é assinada pela artista plástica Ana Paula Dornellas, Ana Smile, que foi proibida em junho deste ano pela Justiça de fabricar e vender imagens estilizadas, por exemplo, símbolos religiosos como Chapolin Colorado e até Galinha Pintadinha. Caso descumprisse com a determinação, Ana poderia ser multada em até R$ 50 mil. 12 esculturas foram apreendidas e agora a artista voltou a trabalhar em um bar para ter renda.
De acordo com o organizador do festival Vaca Amarela, João Lucas Ribeiro, a peça utilizada para divulgação do festival foi fabricada antes da artista ser proibida de confeccionar as peças estilizadas. “A nossa intenção era de defender a classe artística”, argumentou Ribeiro.
O festival será realizado nos dias 23, 24 e 25 de setembro no Centro Cultural Martim Cererê, no Setor Sul em Goiânia.
Polêmicas
Nas redes sociais chuvas de críticas quanto a atitude da organização. Pessoas que se dizem católicas, algumas ligadas a grupos religiosos reclamaram e pediram para que ocorresse a mudança da arte de divulgação do evento e que ainda houvesse uma manifestação pública, pedindo desculpas.
“A gente não se importa com isso. Não fizemos para chamar público. Vamos continuar trabalho. Não vamos retirar a imagem, a não ser que haja determinação da justiça”, destacou o organizador do evento.
Manifestação de candidato a prefeito
A polêmica do Vaca Amarela foi parar nas discussões das eleições municipais de 2016. O candidato a prefeito, Francisco Júnior (PSD), ligado à Igreja Católica, criticou publicamente nas redes sociais a arte do festival.
Leia abaixo o manifesto
Todos têm o direito de crer, inclusive no poder de transformação da arte e da cultura.
Por este texto estamos reivindicando a liberdade de expressão artística e cultural, o direito de crença e de não crença e a valorização do poder da arte, que é transgredir, ressignificar, reler, libertar e modificar o objeto e seu significado. A arte se torna combustível para o futuro, quando cria rupturas e provoca debates e reflexões com profundidade e de forma ampla, conectando crentes e não crentes.
Acreditamos que nenhuma obra de arte deveria ser alvo desse impulso religioso-político-jurídico, que pretende repreender e impedir qualquer forma de expressão que não esteja de acordo com sua própria cultura. As religiões enquanto tapam os olhos para tudo que não nasça dentro do templo, deixam de ver milagres que a arte e a cultura também realizam todos os dias.
A arte e a cultura também são os caminhos para a liberdade, para o senso crítico, para o encontro com o mais sagrado que há dentro de cada um de nós, para a construção de nossos próprios deuses.
A Vaca pode ser sagrada na Índia, enquanto é profana no Brasil. A escultura de Nossa Senhora pode ser sagrada para os católicos, enquanto não tem apelo para os evangélicos. A arte pode ser vista como algo menor por alguns, mas é necessária para a construção de identidade de grupos sociais, cidades ou uma nação.
Respeitamos TODAS as religiões, todas as formas de crença e de não crença, por isso não vemos problema algum em mixar uma santa, uma vaca, uma mulher em uma mesma obra. Entre a santa e a vaca, entre o sagrado e o profano, habita a mulher. Livre, louca, independente e empoderada.
E vamos chegando ao fim desse manifesto ao som de Caetano Veloso na voz de Gal Costa: “Vaca de assombrosas tetas, derrama o leite bom na minha cara. E o leite mal na cara dos caretas”.