Após três anos de boicote, a oposição venezuelana volta hoje às urnas em eleições regionais, que o governo de Nicolás Maduro pretende usar para se reerguer e conseguir a suspensão das sanções internacionais. Com propostas antagônicas, chavistas e dissidentes disputam o poder em 23 Estados e 335 prefeituras, além de cadeiras na Assembleia Nacional.
Em um país desgastado pela crise política e econômica, 21 milhões dos 30 milhões de venezuelanos poderão votar sem garantias de lisura, mas observadas, pela primeira vez em 15 anos, por uma missão da União Europeia, que deve atestar, juntamente com a ONU, se houve algum tipo de fraude.
VANTAGEM. O resultado é esperado: o chavismo deve vencer a maior parte dos Estados. Mesmo assim, alguns partidos dissidentes acreditam que participar das eleições era o melhor caminho para chegar a uma disputa presidencial mais limpa em 2024. Para o professor da Universidade Simón Bolívar Erik del Bufalo, esse foi um erro, pois a oposição se fragmentou ainda mais.
“Pode terminar de se destruir. Essas eleições dividiram demais os adversários do chavismo. Há mais divergências entre os partidos dissidentes do que com relação ao chavismo, o que prova o grau de retrocesso político que vivemos”, afirma Del Bufalo. A divisão é tanta que em muitas regiões o antichavismo sequer conseguiu emplacar candidatos.
A participação dos partidos contrários ao chavismo não representará uma frente comum contra o PSUV, de Maduro, mas indica que o apoio internacional dado ao líder opositor Juan Guaidó já não é mais suficiente. Desde que se declarou presidente interino, em janeiro de 2019, Guaidó vem perdendo força na Venezuela. Pesquisa do Datanalisis mostra que o apoio a ele passou de 63%, em 2019, para 15%, hoje.
O partido Força Popular (de Guaidó) estará presente nas urnas, assim como o Primero Justicia, de Henrique Capriles e de José Manuel Olivares, que passou os últimos três anos exilado em Bogotá, na Colômbia, mas regressou à Venezuela para disputar o governo de Guaira, Estado vizinho a Caracas.
Os adversários do chavismo que decidiram ficar de fora deste processo eleitoral, como a líder Maria Corina Machado, continuam dizendo que o simples fato de participar dele é uma maneira de legitimar o governo de Maduro. “Aqueles que participam da farsa de domingo (hoje) estão entregando uma luta”, afirmou Corina Machado ao jornal colombiano El Tiempo.
SANÇÕES. Com a realização destas eleições, principalmente com a presença de observadores internacionais, o governo chavista busca a suspensão das sanções internacionais, para poder vender livremente seu petróleo e importar gasolina. Analistas, no entanto, acreditam que, mesmo que haja uma certificação de que o processo eleitoral foi livre e justo, é preciso uma mudança de posição do governo de Joe Biden com relação ao regime chavista, antes que sanções sejam levantadas.
(Por Fernanda Simas/Agencia Estadão)