Em entrevista ao Jornal Opção, o deputado estadual Talles Barreto (PTB) falou sobre seu vínculo com os investigados na Operação Tarja Preta, suspeitos de desviarem recursos públicos destinados à compra de medicamentos.
Segundo o deputado, além da proximidade com os prefeitos da região do Vale do São Patrício, ele intermediou um diálogo entre Edilberto César Borges e o secretario estadual Antônio Faleiros, para saber sobre um débito do Estado com o suspeito.
“No dia 20 [de fevereiro], tinha o Vapt Vupt Empresarial, e eu acredito que seja isso, eu despachei de lá mesmo, não com o governador [Marconi Perillo], mas com o Faleiros [Antônio Faleiros, secretário Estadual de Saúde], e perguntei daqueles valores que estavam lá, se haveria informações, condições, sobre se a empresa ia receber ou não essa dívida,” disse o deputado.
Talles negou qualquer participação no esquema ilegal na venda de medicamentos e disse não ter, sequer, conhecimento sobre o assunto.
O deputado admitiu ainda a proximidade profissional com Walber Miranda de Castro, cunhado do Edilberto, e seu ex-chefe de gabinete na Agência Goiana de Esporte e Lazer, atual funcionário da Junta Comercial do Estado de Goiás por indicação do petebista.
Confira, na íntegra, a entrevista do deputado ao Jornal Opção:
Em um dos trechos transcritos que foram vazados nesta quinta-feira Edilberto César, representante da J. Médica, diz a alguém que o senhor é um “parceiro” dele. O Ministério Público de Goiás aponta no inquérito que o senhor teria feito ao menos dois telefonemas do seu número pessoal a ele. Qual é a relação do senhor com o homem suspeito de liderar o esquema investigado pela Operação Tarja Preta? De onde e desde quando o conhece?
Quero esclarecer primeiro, que eu sou filho do Vale do São Patrício, e na eleição passada eu tive uma votação positiva lá dentro, e a gente que está no gabinete recebe pessoas que nos procuram para buscar algumas ajudas. Quero deixar bem claro aqui, esclarecer: nunca participei, nunca encaminhei, nunca participei de doação de campanha através da J. Médica. Realmente, no período eleitoral, alguns empresários buscam os deputados que têm alguma representatividade na região. Nessa operação, três prefeitos que pertencem à minha região foram apontados como suspeitos. Esse senhor Edilberto esteve no meu gabinete se oferecendo para ajudar alguns prefeitos, e dentre esses prefeitos, os três da minha região. Até porque ele foi bem prático, alegando que naquela região tem uma empresa de medicamentos, a Biomédica, na época, que muitas vezes eles venciam as licitações, mas tinham dificuldades em receber. Isso é fato. O que ele julga, na realidade, como parceiro e deve ter ajudado a se chegar a essa interpretação, é que o recebi para que falasse dessa questão. Se ele os ajudou, se é que realmente ajudou, se foi por financiamento de campanha, empréstimo, eu não posso afirmar, mas ele deve ter ajudado alguns prefeitos, entre eles os meus. Então, talvez, essa relação seja por isso. Mas eu não tenho relação de amizade ou parceria com o senhor Edilberto.
Na transcrição o Edilberto César aparece como cunhado do Walber Miranda de Castro, o Baiano, indicado pelo senhor para um cargo na Juceg [Junta Comercial do Estado de Goiás], e que também é citado como ex-chefe de gabinete do senhor…
Não é, não é.
Mas está assim nas transcrições.
Acho que tem um erro nessa transcrição. O cunhado ele é outra pessoa, e o Ministério Público errou nisso aí. É o Walber, que é ex-chefe de gabinete enquanto estive na Agel [Agência Goiana de Esporte e Lazer]. Ele nunca assumiu cargo de assessor no meu gabinete.
Em outro trecho o senhor fala diretamente ao Edilberto César que foi ao “Palácio”, isso no dia 21 de fevereiro deste ano, e que teria despachado com “o homem”, sem falar em nomes. Quem é essa pessoa e por que o senhor teve esse cuidado de não expô-la ao falar por telefone com o representante da J. Médica?
Me deixa explicar detalhadamente. O Edilberto esteve lá no meu gabinete, e ele disse ter ajudado alguns prefeitos. Agora [enfático], quero antes de dar continuidade à resposta, ressaltar que não participei de nenhum tipo de ajuda. Nunca sentei com esses prefeitos para falar dessas ajudas. Não sei se ele [Edilberto César] ajudou emprestando dinheiro, se foi por dentro ou por fora. Eu não tive qualquer contato nesse sentido e nem presenciei. Estou afirmando isso. Voltando à pergunta, ele julgou que, a partir desse apoio dele com os prefeitos, que eu, como representante daquela região, poderia ajudá-lo. E disse: “Talles, eu gostaria que você buscasse algumas informações”. Porque penso eu que, ele tem uma vida, um histórico, na vida empresarial. Nesse dia da transcrição ele me questiona, e eu devolvo uma informação, porque ele me deixou uns documentos, com alguns valores da empresa dele, para eu buscar informações sobre a possibilidade de ele receber essas dívidas que o Estado tem com ele. No dia 20 [de fevereiro], tinha o Vapt Vupt Empresarial, e eu acredito que seja isso, eu despachei de lá mesmo, não com o governador [Marconi Perillo], mas com o Faleiros [Antonio Faleiros, secretário Estadual de Saúde], e perguntei daqueles valores que estavam lá, se haveria informações, condições, sobre se a empresa ia receber ou não essa dívida. Essa dívida, inclusive, é coisa antiga, do governo Alcides, acho que de 2005, 2006. Não sei direito. E aí o Faleiros alegou que esses pagamentos estavam ocorrendo cronologicamente, mas de acordo com o repasse que as prefeituras faziam. Então, na realidade, ele [Edilberto César] me pediu para buscar informação se vai sair, se vai pagar, se não vai pagar. Na verdade eu quero citar isso também, que na verdade, isso é coisa de jogo político, eu sei que é um jogo político o que estão fazendo comigo. Porque se houvesse qualquer coisa contra mim, o primeiro a me procurar para prestar esclarecimentos seria o Ministério Público. Todas essas cidades que tenho não as visitei menos de 30 vezes esse ano. E eu nunca estive em secretaria de saúde, em licitação do município. Minhas visitas foram todas institucionais, como deputado. Se houve fraude em relação a essa empresa, a J. Médica, não tem como eu saber, é impossível.
Em um trecho da gravação em que o senhor está do outro lado da linha, é feita uma referência a um “senhor em situação caótica”, mas que foi “companheiro”, “parceiro”, e no decorrer dessa conversa o senhor mesmo diz que não dá para falar a respeito daquele assunto por telefone. Qual o contexto dessa conversa e por que a preocupação com a questão de ser por telefone?
Mas é isso que eu já falei. Quando eu conversei com o Antônio Faleiros, é o mesmo assunto. Eu justifiquei para ele, o seguinte, eu disse: “Faleiros, ele [Edilberto César] ajudou alguns prefeitos da minha região”. Agora, se perguntarem para mim, novamente, digo: “Ele [Edilberto César] afirmou para mim que ajudou alguns prefeitos, e esses prefeitos teriam alguns débitos do governo Alcides, e queria buscar informações se haveria pagamentos ou não. E o Faleiros foi muito claro comigo. Haveria sim a possibilidade de pagar alguma coisa, mas de acordo com o repasse do município para a Secretaria Estadual de Saúde. Foi essa a informação, porque na realidade, o cara também fica enchendo o saco da gente. “Tem condições, vai me pagar, e tal”. Ai falo: “Meu amigo, isso acontece. É normal”. Não tem jeito, o tempo todo tem pessoas procurando a gente em busca de informações.
E tudo isso começou com a ida do Idalberto César ao gabinete do senhor em busca desse tipo de apoio?
Exatamente. Ele foi lá me apresentar essa relação de fornecimento ao Estado que não tem nada a ver com a Operação Tarja Preta. Zero [enfático]. Ele foi buscar informações sobre valores o recebimento dos valores de 2005 para frente. O que ele queria saber era se haveria a possibilidade de receber. Sabe o que penso que motivou esse contado comigo, é que o Idalberto fez um investimento, e estava precisando desse dinheiro. Independente de qualquer coisa, é inerente a mim. Eu não participo, eu não tenho nenhum um tipo de fala com prefeitos ou secretários sobre licitação qualquer que seja. Não existe. A única fala que eu vi, e que trata de um convênio. Passamos as emendas que nós parlamentares temos o direito de passar. Por exemplo, eu arrumei para o Glimar [do Prado, do PP, prefeito de Uruana] R$ 150 mil para comprar um caminhão; para o Janduhy [Diniz Vieira Filho, do PSDB, prefeito de Rialma] eu ajudei na construção do Parque Industrial; em Carmo do Rio Verde [prefeito Delson José Santos, do PSDB] eu arrumei R$ 150 mil para poder comprar um loteamento para o programa Minha Casa, Minha Vida. Esses convênios estão todos estabelecidos. E eu quero enfatizar aqui, que esses prefeitos, eu tenho um respeito muito grande pela história de vida deles. O Janduhy é um empresário grande, dono da Saborelle, um homem muito correto em suas coisas; o Delson é um advogado com muito respeito na região do Vale do São Patrício, e indiscutivelmente, o próprio Glimar, de Uruana, que tem uma relação muito forte como empresário também, muito querido dentro da Igreja Católica, é maçom, é uma pessoa muito quista. Eu não li todo o relatório, até pelas minhas dificuldades por conta da cirurgia, mas falo tranquilamente que são pessoas do bem. Não tenho dúvidas disso. Eu não posso afirmar nessa situação se houve ou não irregularidades porque eu não tive qualquer conhecimento sobre essas questões da investigação. Minha relação com esses prefeitos sempre foi a de deputado que representa esses municípios. A minha ligação é a de estar ajudando de forma que esses municípios nunca foram ajudados há muito tempo porque não tinham representatividade política nenhuma. Eu faço isso como filho do Vale do São Patrício. Por exemplo, essa própria J. Médica, que eu não sabia e continuo sem saber ao certo, investiu lá em Araguapaz. Eu apoiei o candidato que não foi eleito, que foi o “Bigode” [Osmar Divino Ferreira da Silva, do PTB], e o prefeito que venceu [Fausto Brito Luciano, PSDB] é que foi preso. Eu não posso afirmar nada. Ou seja, é uma situação que eu não tenho, como posso dizer… Estamos em uma campanha, visitei mais de 50 cidades. Chega o indivíduo que diz ter ajudado um de seus prefeitos. Agora, eu não tenho nenhuma afirmação, que eu participei, que eu falei isso ou aquilo. Não existe. Isso tem que ficar bem claro.
E quando veio à tona o escândalo da Operação Miqueias, com a citação do nome do deputado Samuel Belchior (PMDB), o senhor foi um dos defensores da instalação da CPI dos Fundos de Previdência. Agora o senhor também tem o seu nome envolvido em uma investigação, com o consequente desgaste que isso causa. Como que fica o clima na Assembleia Legislativa para a instalação dessa comissão ou de uma outra sobre a Tarja Preta, por exemplo. Será que a oposição também não vai ter motivos para usar isso contra o senhor e a base?
Primeiramente, eu não tive mandado de busca e apreensão em minha casa. Não fui relacionado no inquérito [pausa]. Não nego que esses prefeitos são meus aliados políticos. Hoje, além deles, eu tenho mais 20 prefeitos comigo que não estão relacionados a esta investigação. Agora, o Samuel, já tinha avisado que o jogo era esse. O processo político é esse. Quem tem que responder para a Polícia Federal, é ele. E falo aqui, quero enfatizar, quem que tem que justificar para a Polícia Federal é ele, a participação, o histórico das denúncias que foram feitas. Então, se, e principalmente, o grupo do PMDB, da oposição, quiser assimilar qualquer situação minha com essa operação, de certa forma existe diferenças muito grandes. E pontuo: Qual que é a relação… Olha só, não me pediram para prestar esclarecimentos. Por que que não pediram? Eu acredito nisso. Eu sou filho de uma procuradora da República, minha esposa é procuradora do Ministério Público do Trabalho. Até pela fala de alguns jornais, a operação não tem, de todas aquelas mais de 100 pessoas ouvidas, que seja os secretários, os prefeitos, os funcionários, nunca teve na operação, na empresa, no escritório de advocacia, nunca teve uma fala minha referente a isso. As pessoas confundem as coisas. Não tem relação comigo nessa operação, mas com três prefeitos ligados a mim na minha região. Quer dizer, eles não estão falando das outras cidades. Quem apoia tal cidade, tal partido? Isso está muito transparente. Na realidade, como houve, sem a minha participação, como ajuda do senhor Edilberto a prefeitos da minha região, que eu não estive presente, não sei sobre valores, nem se foi dado mesmo. Quando se está em um processo eleitoral, você corre. As ajudas que dei aos municípios que apoio foi subir no palanque e discursar. No máximo ajudei a comprar santinhos. Agora o jogo é esse. O Samuel quer esse jogo. Eu sei que é esse o jogo. Ele já havia avisado que o jogo é querer abafar uma situação dele tentando relacionar o meu caso com o dele, que é totalmente distinto.