Olavo Noleto diz que quer diálogo com o empresário, apesar de Júnior do Friboi dizer que PT não é essencial. Acompanhe a entrevista concedida a Eduardo Sartorato, Marcelo Tavares, Murillo Soares e Vassil Oliveira, publicada na edição dessa semana do Jornal Tribuna do Planalto.
Mesmo com as afirmações do empresário Júnior do Friboi (PMDB) de que o PT é dispensável para o primeiro turno das eleições de outubro e que a presidente Dilma Rousseff pode perder o palanque do PMDB em Goiás, o sub-chefe para Assuntos Federativos da Presidência da República, Olavo Noleto (PT), elogia o empresário e diz que Friboi tem a sua simpatia e de muitos de seus partidários. Mesmo assim, Olavo vê que o nome mais forte da oposição é hoje o ex-governador Iris Rezende (PMDB). “Mas não estou dizendo que ele precisa ser candidato”, pondera. O petista ainda diz que Gomide, hoje, é apenas o nome apresentado pelo partido para a discussão e afirma que, se fosse ele, não deixaria a prefeitura de Anápolis para ser vice ou candidato ao Senado. Olavo também faz um balanço sobre o seu trabalho em Brasília e defende a gestão do prefeito Paulo Garcia em Goiânia, a qual considera uma “boa gestão”. Olavo Noleto visitou a Tribuna na sexta, 24, onde concedeu entrevista.
Tribuna do Planalto – Como tem sido o trabalho do senhor em Brasília?
Olavo Noleto – Tenho a alegria de estar em Brasília há 11 anos e digo com convicção e orgulho, o Brasil mudou e isso é resultado de um processo de transformação. As brigas corretas foram compradas. Tínhamos que enfrentar a miséria, a pobreza, gerar renda e incluir pessoas. Ao ganhar essa guerra, a gente conseguiu ganhar outras derivadas. Quando incluímos 40 milhões de brasileiros, trouxemos eles para o mundo do trabalho e junto com isso trouxemos as crianças, filhas desses brasileiros, para a escola, porque sem a presença delas nas escolas não se recebe o Bolsa Família. O filho desse cidadão vai ter a chance que ele não teve. Quando você está falando de uma política pública estruturante, e você consegue tocar ela por uma década, o resultado aparece. A gente tem um novo Brasil, em que a maioria dele é de classe média, é consumidor, e, agora, começa a reivindicar direitos.
Isso é que o governo buscava?
Isso é tudo que a gente queria, ter um Brasil que reivindica mais direitos, presença do Estado e melhores serviços. Não é um mérito só da Força A ou da Força B, mas existe um avanço no processo histórico. Tenho a sorte de ter participado dessa história com meu pedacinho de contribuição e elaboração, especificamente naquilo que a gente chama de Pacto Federativo. Não é possível ter um Brasil de desenvolvimento em São Paulo e ter um Brasil de pobreza em um Estado menor do País. O Pacto Federativo é uma das coisas mais importantes para o desenvolvimento do Brasil. Todo mundo fala mal dele, vulgarizando o pacto. E no meu trabalho a gente teve a oportunidade de fortalecer o Pacto, fortalecendo os municípios. Quando nós assumimos em 2003, os municípios participavam com 13% do bolo tributário nacional. Nós trouxemos isso para o patamar de 19,20%.
Mas o Pacto Federativo ainda é motivo de insatisfação?
Uso esse crescimento no bolo tributário para contradizer quem fala que é preciso de um novo Pacto. Quando se fala em um novo pacto, só se fala em arrecadação, ninguém fala de serviços. A pauta dos municípios sempre vai ser grande, todo ano vai ter marcha de prefeitos e manifestação. Posso dizer que o avanço da pauta é extraordinário. O Brasil precisava passar por isso. Para se ter ideia do tanto que isso é grave, a presidenta Dilma Rousseff chegou nos governadores e prefeitos de capitais e falou que tinha R$ 50 bilhões na mesa e pediu que eles trouxessem projetos para a mobilidade urbana. O que nos foi apresentado de projetos concretos não dá R$ 15 bilhões. Não há projetos. Precisamos ter capacidade de projetar futuro de verdade. Se fala que no Brasil projetos não saem do papel, mas o problema é que projeto no Brasil não entra no papel.
Agora têm projetos que começam a sair do papel e ficam emperrados, como a Ferrovia Norte/Sul e a duplicação da BR-060, de Goiânia até Rio Verde.
São as leis brasileiras. O governo, quando tenta mudar uma lei dessas, a imprensa fala que ele está dando golpe, querendo acabar com a transparência. A gente opta por respeitar a lei e tem hora que as coisas emperram. Entra TCU, Ministério Público, ambientalista, CGU e AGU. Se o Juscelino Kubitschek fosse construir Brasília hoje, não fazia nem a pedra fundamental. Temos as leis atuais e precisamos respeitá-las. Se o TCU embarga a obra, para a obra. Não posso tocá-la como se o TCU não existisse. Nós descemos a Ferrovia Norte/Sul mais de mil quilômetros e vamos entregar este ano. Com tudo isso, nós temos de cinco mil a 15 mil obras que não são obrinha. Estou falando de superobras, obras estruturantes que vão alavancar o Brasil. A Ferrovia Norte/Sul é uma, como temos a Transnordestina, a integração do São Francisco e as duplicações de BRs.
No caso da Ferrovia Norte/Sul e da BR-060 a conclusão não acontece por conta da mudança de prioridade do governo, para a construção dos estádios da Copa?
Não. De jeito nenhum. O dinheiro para a construção dos estádios vem de empréstimos do BNDES. Nesses casos (Ferrovia Norte/Sul e BR-060) são intervenções concretas. Embargaram as obras e elas têm de parar. Aí temos que ir para TCU e se passa um ano negociando. O caso do Aeroporto de Goiânia é um exemplo. Não sei o nome do técnico, mas gostaria que ele respondesse publicamente por ter parado uma obra por mais de cinco anos para depois o TCU responder que errou. Na prática é isso. O comportamento dos tribunais de contas não pode ser o que é hoje. Para começar os membros dos tribunais são todos nomeados por políticos. É política pura. O TCU se julga Deus e é nomeado na política. O TCU tem que embargar a obra quando a coisa é grave. O TCU é um órgão fiscalizador do Congresso Nacional. As funções estão extrapoladas e isso não é democrático, porque em uma democracia forte as instituições não extrapolam o seu papel. Acho que isso está errado, mas não podemos apelar. Com todos os problemas, estamos entregando um monte de coisas no Brasil. Todos os prefeitos que pediram reformas em seus postos de saúde foram atendidos. Todas as escolas públicas do Brasil em que o prefeito ou governador pediram a construção de quadra de esporte e na unidade havia mais de 100 crianças foram atendidas. Não olhamos partido.
A oposição em Goiás não fica um pouco prejudicada pelo volume de recursos que o governo federal disponibiliza para o governo estadual?
Não sei se ela vai ficar prejudicada, as eleições ainda vão chegar. Vamos poder dizer que trouxemos muitas coisas para Goiás e que a gente não olhou partido. Bilhões foram despejados nos estados e também em Goiás. Existe um jeito diferente de fazer política, um governo federal que é republicano de verdade e que faz política pública com critérios e uma percepção de gestão que não seja da conveniência. A oposição, quando vier, vai bater bumbo dizendo que, mesmo não estando no governo do Estado, fez questão de ajudar.
A capitalização eleitoral de várias obras do governo federal é feita pelo governo do Estado. Dá tempo de reverter isso na eleição?
Essas verdades vamos poder escutá-las na eleição. O meu papel não é o da polêmica. Meu papel em todos os estados é acalmar os agentes políticos e dizer “vamos deixar a disputa eleitoral para as eleições”. A gente precisa tocar as obras, acalmar ânimos porque o Brasil não pode parar porque os governantes estão brigando. O que era importante fazer para Goiás, foi feito para o Estado e não para o governador. No mundo da política essas disputas vão acontecer e é legítimo que as pessoas batam bumbos e as pessoas façam sua defesa. Vamos fazer a nossa. Acho que é melhor a disputa de paternidade do que a disputa de quem é a culpa. Espero que a oposição em Goiás possa se organizar e possa se fortalecer para fazer a boa disputa.
No caso da Celg é uma disputa de culpa. A culpa é do governo federal?
Eu vou discutir em outro patamar. O governo federal ajudou e fez um exercício enorme para ajudar. Se não foi possível ajudar mais, paciência. O governo federal não tinha obrigação nenhuma de entrar na Celg. Não vou discutir culpa, vou discutir o seguinte: nós fizemos e muito. Se esse muito ainda é insuficiente, o mundo da política em Goiás pode discutir os porquês. Quem quiser trazer o debate para a culpa, que traga. Como agente político, não vou desqualificar o debate. Se outros agentes só sabem fazer esse caminho, é problema deles.
Não falta aos agentes políticos da oposição em Goiás mostrarem que as obras são do governo federal, fazer isso não só nas eleições, mas cotidianamente?
Aí são percepções. Vocês da imprensa estão mais aqui no cotidiano e não sei dizer o quanto cada um está se esforçando mais ou menos, ou quem está fazendo com mais ou menos qualidade. Tenho opinião: o governo federal naquilo que ele podia ajudar Goiás, e não o governador, ajudou e muito. Tenho orgulho de falar isso, porque recebo em Brasília prefeitos e governadores de todos os Estados. Não tem um prefeito, um governador que fale que foi discriminado. Em Goiás tem prefeito do DEM que chora para testemunhar que ele é mais bem tratado pelo governo do PT, do que pelo governo dele. Tenho testemunhas e não vou falar nome para não expor o personagem.
Porque essa ajuda ao governo estadual e aos municípios não se mostra no mesmo patamar para a Prefeitura de Goiânia, que enfrenta dificuldades?
Isso é percepção. Uma coisa é você estar com febre e outra coisa é você achar que está com febre e depois não está. O Paulo Garcia está bem, a administração está bem, a gestão é boa. Outra coisa é o quanto ele está cercado na política, o próprio cerco da imprensa e o humor da cidade com a gestão dele. São coisas diferentes. Tenho certeza que o trabalho dele, hoje, vai ser mais reconhecido do que é, mas vai ser um exemplo, inclusive na questão dos recursos federais. Ele está para assinar o convênio de R$ 70 milhões para o BRT de Goiânia.
Mas a verba destinada ao governo estadual é em cifra de bilhões…
Mas cadê as obras? O dia que tiver a obra, ele que bata o bumbo e comemore. O Paulo Garcia vai comemorar aquilo que apresentou como prioridade. As escolas municipais são ruins? Não, são boas na sua grande maioria. O índice Ideb das escolas é ruim? É pior que de outras escolas de capitais? Digo que não. Os postos de saúde de Goiânia na sua maioria estão renovados, organizados, qualificados, tem remédio e tem atendimento. O maior problema na saúde em Goiânia é o atendimento de urgência e emergência. Não é o atendimento na ponta, nos postos de saúde, no Saúde de Família. Aquilo que é função da prefeitura não é problema. O Paulo está comprando uma briga nessa história da mobilidade. Ele quer enfrentar a história das passagens, está enfrentando a história dos ônibus, fazendo corredores de ônibus que é uma polêmica. Com relação à verba federal há critérios. No Saneamento qual o critério para dar um valor para cidade A e outro valor para a cidade B? O índice de cobertura do saneamento. A cidade que tem menor cobertura recebe mais. É por isso que Goiânia recebe menos verbas? É, exatamente por isso, porque Goiânia já tem uma qualidade de vida “top” perto de outras capitas. Tem capital que quando começamos o PAC, tinha 0% de saneamento.
O que falta para o prefeito Paulo Garcia, já que o índice de aprovação dele está muito baixo?
Não conheço esses índices baixos. Faz parte e tem as pesquisas, mas acho que o problema que ele tem é o cerco político. Ele está cercado, ilhado pela oposição a ele. Acho que essa relação tem que ser mais republicana.
Falta republicanismo na base do governador?
Sobre isso paro aqui (risos). O prefeito Paulo Garcia está ilhado e acho que o cerco é político. O problema não é gestão, mas este cerco. No que depender de mim, ele sempre vai ter um aliado para fazer a defesa e enfrentamento político para colocar os pingos nos ‘is’. Acho que está faltando gente para falar o que estou falando aqui. Ele não pode ser transformado em bode, porque na verdade a administração dele é um exemplo em um monte de áreas. O cerco na política contamina.
Falta aliado político para defender o prefeito e ajudar ele a sair desse cerco político?
Dizer que falta aliado da minha parte seria leviano. O que acho que deveria se dizer é o seguinte: a oposição pode ter mais qualidade na sua intervenção. Está faltando articulação, sincronia e foco. Cada um está falando uma coisa. Quando a gente fala em cerco político é mais correto dar esse contorno para o raciocínio, porque se não você está me jogando para brigar com meus aliados e isso você não vai fazer (risos).
Como o sr. está vendo as articulações políticas da oposição, em que PT e PMDB desenham uma aliança, mas, ao mesmo tempo, começam trilhar caminhos diferentes?
O empresário Júnior do Friboi tem uma história belíssima de vida. A família saiu lá de baixo e ergueu uma fortaleza no mundo dos negócios. Ele teve grandes vitórias no ano de 2013, arregimentando aliados e partidos políticos. Fez a tarefa de casa muito bem feita e tem seus méritos. O Iris Rezende é, com certeza, se não o maior, um dos maiores políticos da história de Goiás. Não podemos desconhecer isso. É um dos maiores e mais qualificados dos nomes, com densidade eleitoral para enfrentar e ganhar as eleições. O Antônio Gomide, que é um nome que o PT está apresentando para a discussão com os partidos – é isso que o PT está fazendo e somente isso –, é um prefeito que está com alto índice de aprovação e reuniu as condições políticas para que o PT possa apresentar o seu nome. O tempo da política é um tempo diferente do nosso. Qualquer um de nós gostaria de decidir logo se é A, B ou C, porque aí a gente saía logo correndo, mas o tempo da política não é esse. Acredito e vou trabalhar por uma chapa de unidade do PT, PMDB e partidos aliados. A melhor estratégia para a oposição é enfrentar o PSDB juntos e fazer um debate sobre qual estado brasileiro queremos aqui em Goiás.
Quando o sr. acha que o afunilamento vai acontecer?
O prefeito de Anápolis só vai se desincompatibilizar se tiver certeza que será candidato. Para o PT, março é um marco importante que nos obriga a afunilar a discussão. Os outros partidos talvez não tenha esse marco porque os seus candidatos não são prefeitos.
Seria ruim para Gomide deixar a prefeitura para concorrer ao outro cargo, como senador e vice-governador?
Eu não sairia (risos).
O Friboi tem a simpatia da maioria dos membros do PT?
Tem a minha simpatia e tem simpatia das pessoas sim. Temos que quebrar estigmas, quebrar preconceitos. O PT tem uma raiz lá atrás na Igreja, na luta pela reforma agrária, nos sindicatos, no chão de fabrica, é natural, é da nossa cultura política, olhar para um empresário do tamanho do Júnior Friboi e ficar olhando, com medo dele. É natural. Ele é um aliado importantíssimo e será tratado com respeito e carinho. Queremos ter o Friboi com a gente. Pode ser o candidato a governador das oposições? Pode, por que não? Jamais poderemos fechar essa porta. Não é assim que se constrói unidade. Não é dizendo que o outro não pode. O PT quer liderar a chapa, é natural. O PMDB também quer. Agora, não é dizendo que o outro é feio.
Qual seria o candidato mais forte, Júnior ou Iris?
O Iris é o grande eleitor nas oposições. Como candidato não tenho dúvida que potencialmente é o nome mais forte das oposições. Essa é minha opinião. Significa que ele tem que ser o candidato? Não estou dizendo isso. Isso é uma construção, é uma unidade, tem muito mais coisa que isso. Ele é um ator importante e vai ser tratado do tamanho que ele é.
Os 11 anos em que você está em Brasília o credencia para pedir votos para concorrer à Câmara Federal?
Se virar candidato, tenho certeza que vai ser com muita alegria. É difícil uma cidade nesse estado que não tenha uma parcela do meu apoio, uma ajuda, sem olhar cor partidária, sem qualquer tipo de discriminação. Mas não é simples essa coisa de pedir voto. Todo ser humano, o dia que ele fala que é candidato, tem um processo de convencer ele mesmo de que não está louco. Acho que as pessoas de bem, que não estão na política a negócio, tinham que experimentar isso. Se não a política fica na mão de quem está nela por outros motivos.
Aqui em Goiás o grupo Cerrado já não deliberou sobre a sua candidatura?
O Movimento Cerrado tem uma construção de um desenho em que projeta o meu nome para deputado federal e nome de Marina Sant’Anna para o Senado. Isso é um desenho, não é algo que está dado. Reafirmo que a possibilidade da minha candidatura é algo que vou discutir. A conversa final será com a ministra Ideli Salvatti e com a presidenta Dilma Rousseff. Só depois de cumprir todo esse roteiro é que vou poder confirmar a minha candidatura. Se a presidenta Dilma falar para mim não sair candidato, não saio, como não sai outras vezes. Sei o meu tempo e se tiver que esperar 20 anos vou esperar.
Seu pai e sua mãe foram expoentes da comunicação, se seguir o projeto de disputar a Câmara Federal você terá a comunicação como uma bandeira?
Quero discutir liberdade de imprensa. Sinto a necessidade e vontade de fazer um debate sobre a liberdade de imprensa. Toda vez que alguém faz esse debate é deturpado, como se quisesse fazer golpe. Tenho credencial para isso. Sou filho de jornalistas, militantes que ajudaram a construir a democracia em Goiás e no Brasil, que foram torturados, presos pela ditadura.
O sr. é um nome contado para ser substituto de Maguito Vilela, em Aparecida de Goiânia. Essa é uma possibilidade de acontecer?
É uma possibilidade. O Maguito deve ser o líder de sua sucessão. Há Euler Morais, o Sandro Mabel e no PT, há o Ozair José, o vereador Moura e o Olavo Noleto. Mas o Maguito deve ser o líder da sucessão. Estamos no governo Maguito não por conveniência, ele mudou a cara de Aparecida. Se o Brasil pode dizer que é antes e depois de Lula, em Aparecida é antes e depois de Maguito.
Assim como Gomide, Maguito Vilela poderia ser uma opção para 2014 na chapa majoritária?
Com certeza. O Maguito é um grande nome do PMDB e das oposições.
Há espaço para ele?
Sempre tem espaço para o Maguito. Ele é um craque, um artilheiro. É um nome muito bacana, com alta aderência. Pode botar ele no tabuleiro também (risos).