A partir de 1º de janeiro do próximo ano, Goiânia terá um novo prefeito que será escolhido pelos eleitores da capital neste domingo (29/11). Uma campanha que foi recheada de contratempos e intervenções forçadas devido à pandemia do novo coronavírus. Os candidatos sobreviventes que chegaram ao segundo turno, foram escolhidos às vésperas das convenções que decidiram os nomes que disputariam o pleito: Vanderlan Cardoso, do PSD e Maguito Vilela, do MDB não eram os primeiros nomes de suas legendas que trabalhavam com outras possibilidades de voto, mas uma peça no quebra-cabeça eleitoral foi mexida às vésperas e mudou todo o cenário: o anúncio da aposentadoria do atual prefeito, Iris Rezende (MDB). Alçados à prefeitáveis, os goianienses irão escolher um dos dois para fazer a gestão da cidade dentro dos próximos quatro anos.

Quando Iris Rezende convocou a imprensa para um anúncio no dia 25 de agosto, a expectativa em torno de sua aposentadoria já era levantada, mas aliados tentavam demover a ideia. O MDB trabalhava em torno de seu nome até esta data. Ele era a primeira opção emedebista e as lideranças do partido tentavam cravar o seu nome para um último mandato e a reeleição irista. Mas Rezende estava decidido: “Estou para, de maneira oficial, comunicar que não serei candidato à reeleição e cumpre-me também informar que encerro minha carreira política, construída por mais de seis décadas”, disse. “As duas decisões foram amplamente amadurecidas e tomadas de maneira muito consciente. São irredutíveis e definitivas”, afirmou.

Publicidade


De fato, foi. Iris não voltou atrás como outras vezes em que fez anúncios parecidos. E o MDB teve de se virar para arranjar um outro nome. O ex-governador de Goiás Maguito Vilela surgiu neste contexto. Após duas semanas de indefinições mas muitas especulações, o MDB anunciou o nome do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia para o pleito.

Publicidade
Decisão de Íris mexeu com o tabuleiro político

O anúncio de Iris Rezende, fez o PSD mexer as peças e trocá-las para a disputa. Desde julho, o deputado federal Francisco Júnior vinha trabalhando seu nome como pré-candidato da legenda em Goiânia, chegando a participar de sabatinas e entrevistas representando o partido e se apresentando como pré-candidato. Tudo mudou com a aposentadoria do decano emedebista, mesmo Vanderlan e Francisco negando a possibilidade.

Publicidade

Ainda como pré-candidato à prefeito na sede da Fecomércio no dia 31 de agosto, Francisco Júnior foi questionado sobre a hipótese de ser trocado às vésperas do pleito. “Eu quero fazer um destaque. O senador Vanderlan não é apenas um bom candidato a prefeito de Goiânia, é um bom candidato a governador… Não queremos internamente gerar qualquer tipo de conflito”. O senador da República estava na plateia, acompanhando o correligionário. A resposta diplomática ao questionamento já dava contornos do que aconteceria nos próximos dias.

Pouco mais de quinze dias depois, em 15 de setembro quem estava na sabatina da mesma Fecomércio era Vanderlan Cardoso. Francisco Júnior foi demovido da disputa e o deputado federal ficou de conduzir o processo de criação do plano de governo do senador da República à prefeitura de Goiânia. No dia 16, Cardoso e Wilder registravam suas candidaturas à prefeito e vice pela coligação, com a benção do governador Ronaldo Caiado (DEM).

Publicidade
Caiado deu a benção ao ex-desafeto Vanderlan Cardoso

Em entrevista coletiva, Vanderlan Cardoso reconheceu que Iris foi o fator motivador para a mudança de peças no xadrez político. “Se eu falar que não influenciou eu estaria mentindo”, disse em entrevista coletiva. Ele afirmou que a relação que tem com o prefeito deixava as disputas políticas desconfortáveis. “Eu já disputei três eleições contra Iris. Uma para o governo e duas para a prefeitura de Goiânia e, devido a amizade que eu tenho muito próxima de muitos familiares do Iris, eu me sentia muito desconfortável em todas as eleições que eu participava contra o Iris e um dos motivos de eu não ter ido em frente na minha candidatura anteriormente é esse”, pontuou. “Mas a saída dele influenciou sim para que eu tomasse essa decisão”, frisou. Era o ínicio de uma caminhada…

Caiado logo decidiu intervir e tratou de articular à ida do seu ex-secretário de Indústria e Comércio, Wilder Morais que antes era pré-candidato ao Paço pelo PSC para a vice de Vanderlan. O governador de Goiás e o senador da República que não se bicavam até dias antes, agora tratavam de caminhar juntos na campanha à prefeitura.

Vanderlan larga na frente

Quando a primeira pesquisa de intenção de voto do primeiro turno da eleição foi publicada no dia 26 de setembro pela Serpes no Jornal O Popular, Vanderlan aparecia disparadamente na frente. O senador da República tinha 22,3% das intenções de voto. Maguito aparecia apenas na terceira posição, empatado tecnicamente com Adriana Accorsi (PT). Ele tinha 13% e a deputada estadual 13,3%.

Nas outras três rodadas o que se viu foi a liderança de Vanderlan e pouco-a-pouco a ascensão de Vilela. Accorsi que antes aparecia na segunda posição estacionou nos seus 13%. Com o teto eleitoral da petista, a delegada viu Maguito e Vanderlan dispararem na frente rumando o segundo turno.

O cenário com Vanderlan à frente durou até a última pesquisa antes do primeiro turno. No dia 14 de novembro, um dia antes das eleições, a quinta e última rodada antes das eleições serem realizadas, apontou a virada de Maguito Vilela frente ao senador da República. Ele tinha 27% das intenções de voto contra 23,3% do candidato do PSD, Vanderlan Cardoso.

A Serpes não foi a única que apontou a virada do emedebista. Outros institutos também haviam apontado a tendência. O resultado nas urnas foi a vitória de Maguito Vilela com 36,02% dos votos enquanto Vanderlan Cardoso teve 24,67%.

Segundo turno: ataques são acentuados, estado de saúde de Maguito em cheque

Já na manhã da votação no domingo, 15 de novembro, os ânimos foram acentuados. Se no primeiro turno, o que se viu – ao menos publicamente – foi Vanderlan Cardoso pontuando respeito à Maguito Vilela, por conta de seu estado de saúde, agora já podia ver um candidato que prometia partir para o ataque. 

“Ele [Maguito] estava internado em uma UTI, mas seu filho, o presidente do MDB [Daniel Vilela], toda a equipe dele e seus coordenadores partiram para um ataque querendo transferir para mim os problemas que eles têm. Isso é uma coisa que eu não aceito. Mas, como teremos mais tempo de televisão, temos muitas propostas interessantes para mostrar ao cidadão goianiense que não tivemos oportunidade de explicá-las melhor”, pontuou Cardoso ao jornalista Altair Tavares, editor do Diário de Goiás, por meio da Rádio Bandeirantes Goiânia.

Enquanto Vanderlan insinuava ataques, em São Paulo, Maguito Vilela que estava prestes a receber alta da UTI, apresentava complicações em seu quadro clínico. O candidato emedebista acordou na manhã de domingo mais ofegante que o normal e apresentando dificuldades em respirar. Um dos médicos que o atendia, ficou preocupado e decidiu submetê-lo a um novo exame para checagem do estado de saúde. O resultado foi preocupou a equipe médica que decidiu reituba-lo. Maguito dormiu sem saber que foi para o segundo das eleições, em primeiro lugar no pleito e segue, até hoje (28/11) sedado em tratamento sob diálise e submetido a ECMO.

No dia seguinte, Vanderlan cumpriu com o que havia dito no domingo e em entrevista à Sagres, fez insinuações com relação ao estado de saúde de Maguito. Segundo ele, a campanha do MDB estava promovendo ‘estelionato eleitoral’ e ‘ludibriando o eleitor’ com uma comoção sobre a saúde do emedebista.

O senador chegou a falar que tudo não passava de ‘lorota’. “Vem essa lorota toda, essa conversa estranha de que ele está bem, mas ele teve que ser intubado de novo. Nós estamos vivendo em Goiás um estelionato eleitoral. Estão ludibriando o eleitor, levando para uma comoção, uma pessoa que está lutando pela vida”, disse.

A declaração causou um alvoroço no mundo político e na imprensa. Daniel Vilela que dias depois disse que tudo ‘estava superado’ ficou irado. Ele pontuou que a declaração de Vanderlan era ‘covarde’ e que o processaria. O tema criou contornos extra-políticos que deve render pautas para um possível ‘terceiro turno eleitoral’.

No fim das contas, restou os dois candidatos que foram escolhidos por suas legendas às vésperas dos prazos para registro de candidaturas encerrarem. Maguito e Vanderlan serão escolhidos pelo eleitor neste domingo (15/11) e encerraram uma das disputas mais rapidas da história. Muito por conta do novo coronavírus que alterou todas as formas dos candidatos realizarem suas respectivas campanhas.

Publicidade