Publicidade
Categorias: Notícias do Estado
| Em 7 anos atrás

Odebrecht tenta evitar racha entre delatores

Compartilhar

FELIPE BÄCHTOLD E WÁLTER NUNES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma divergência entre os depoimentos de Marcelo Odebrecht e de um outro ex-executivo da empreiteira levou a Odebrecht a convocar reuniões para debater o alinhamento entre delatores na Operação Lava Jato.

Publicidade

Os delatores foram convidados para o encontro a pretexto de serem atualizados sobre o andamento dos processos decorrentes das delações premiadas e o pagamento das multas previstas no acordo com o Ministério Público.

Publicidade

Chegando lá, porém, o assunto principal foi a discrepância nos relatos à Justiça e outras autoridades. A orientação da companhia foi a de que os delatores devem evitar contradições e não podem fugir das responsabilidades pelos delitos cometidos como representantes da companhia.

Publicidade

Há um mês, em depoimento ao juiz Sergio Moro, na ação penal sobre a compra de um terreno para o Instituto Lula, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, cobrou publicamente que seus ex-subordinados evitem “omissões e mentiras” em seus relatos.

Essa mesma audiência escancarou um desacordo entre o empreiteiro e o ex-executivo da Odebrecht Realizações Paulo Melo, réu sob acusação de lavar DINHEIRO PARA LULA

Publicidade

Marcelo disse ter informado Melo que a empresa arcaria com a compra do terreno do instituto, em 2010, e que debitaria os gastos da planilha “Italiano”, espécie de conta-corrente de repasses clandestinos do grupo com o PT.

Também disse que o ex-executivo coordenou pagamentos para o projeto do petista com o setor de operações estruturadas, uma espécie de “departamento de propina” da empreiteira.

O subordinado, porém, negou que tivesse autorização para atuar por meio do setor de operações estruturadas e que tivesse conhecimento de detalhes sobre a propina. Ele relativizou seu papel no caso.

Disse a Moro que não cuidou dos pagamentos e que não via na época ilegalidade na atuação da empreiteira junto ao Instituto Lula. A defesa de Melo vai pedir a absolvição dele nas alegações finais. Mesmo tendo fechado o acordo de delação em conjunto, cada delator da Odebrecht geralmente possui um advogado próprio nas ações penais, que pode traçar diferentes estratégias.

Uma eventual absolvição perante Moro pode ajudar o réu a postergar o cumprimento da pena já acertada no acordo de delação. O acordo feito entre delatores e Ministério Público Federal era que os executivos começariam a cumprir pena imediatamente após a validação da colaboração premiada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Conforme a Folha de S.Paulo mostrou na semana passada, o despacho da presidente do STF, Cármen Lúcia, que homologou a delação da Odebrecht no início do ano, abre a possibilidade de que os delatores só passem a cumprir a punição combinada após o fim dos processos, o que pode levar anos.

Entre os 77 delatores, apenas Marcelo Odebrecht está preso hoje e somente outros quatro já receberam condenações. A maioria não virou réu.

Na audiência com Moro em setembro, o empresário disse: “Nossos colaboradores precisam virar a chave. Eles não podem se omitir de responsabilidades porque dificulta a elucidação do caso”.

O caso de Paulo Melo guarda semelhanças com as acusações atribuídas a subordinados na empreiteira OAS na ação sobre o tríplex de Guarujá (SP), em que Lula foi condenado por Moro, em julho.

Naquele processo, o juiz decidiu absolver três réus que trabalhavam para a OAS -condenou apenas o ex-presidente da companhia Léo Pinheiro e um outro ex-executivo, além de Lula.

Publicidade