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Odebrecht investe em ética contra imagem de corrupta

Há algo de novo na Odebrecht -e não é a podridão que aparece todo dia nos jornais. Após ter sido considerada a companhia mais corrupta do mundo, por movimentar um caixa dois de mais de R$ 10 bilhões em oito anos, a empresa está fazendo um esforço hercúleo para se converter em um grupo ético. Duas experiências guiam a empresa nessa travessia: a educação de crianças e exemplos de empresas que eram mega-corruptas e hoje são consideradas exemplares, como a Siemens alemã.

A novidade está concentrada num setor que existe desde 2014 e é o avesso do departamento de propinas: é o chamado “compliance”, termo do inglês que é traduzido normalmente por conformidade e indica um conjunto de regras éticas que precisam ser seguidas. São regras simples, do tipo “não pague propina e não aceite suborno”, “não dê e não aceite presentes”.

O responsável-mór por conformidade no grupo Odebrecht é Sergio Foguel, que exerce essa função a partir do órgão mais elevado do grupo, o conselho de administração.

Foguel ri quando lhe questionam sobre como conseguirá cumprir todas as exigências feitas pelo Departamento de Justiça dos EUA, como aumentar em 50% o número de funcionários do setor de “compliance” e mais do que dobrar os recursos para essa área em 2017, feitas em dezembro do ano passado.

“Isso tudo já foi feito!”, fala, citando que os empregados dessa área eram 30 em 2015 e neste ano serão 62; já o investimento saltou mais de cinco vezes, de R$ 11,4 milhões em 2015 para R$ 64 milhões neste ano. “Quando Emílio [Odebrecht, presidente do conselho] deu o sinal para o acordo em março, eu já estava rodando o mundo para estudar o estado da arte do ‘compliance'”.

Tanto os procuradores brasileiros quanto os dos EUA exigem que as empresas que fazem acordo adotem um sistema de “compliance” extremamente rigoroso. No caso da Odebrecht e da Braskem, o sistema é supervisionado por dois americanos.

Educação, não polícia

Foguel visitou a Siemens na Alemanha, o Wal-Mart nos EUA, e a Fibria, no Brasil, entre outras empresas. Após conhecer os diferentes modelos de conformidade, ele chegou à conclusão de que o modo como os americanos tratam a questão, classificada por ele de “policialesco”, não funciona quando comparada à visão educativa dos europeus.

“Não vamos adotar a escola policialesca dos americanos”, diz Foguel. “Vamos conversar com as pessoas. Se elas não estiverem treinadas, nada vai funcionar. O monitor [americano] chega aqui e encontra um padrão de ‘compliance’ mundial nota A. Mas o que sai todo dia no jornal é a corrupção”.

Os líderes funcionam como educadores. São a eles que os funcionários recorrem em caso de dúvida.

O “chief compliance officer” para a área de engenharia e construção, Michael Munro, tem mais de 20 anos de experiência na área, já passou pela Dow Chemical e Transocean e concorda com Foguel que a chave da ética é treinamento e comunicação.

“Numerosas empresas usaram esse tipo de solução e hoje são reconhecidas como as companhias com o melhor ‘compliance’ do mundo. Isso vai acontecer com a Odebrecht”, afirma Munro.

O treinamento é feito por meios eletrônicos, filmes, palestras, conteúdos customizados para quem lida com agentes públicos, porque o risco de violação é maior, a partir de três noções: prevenir, detectar e remediar. O treinamento do código de conduta, de 2014 e já suplantado, foi feito com os 80 mil funcionários do grupo.

“Não dá para impor cultura ética. Isso tem de fazer parte do dia a dia. É como educar uma criança: repetimos os conteúdos, mostramos o que houve de negativo, mas o essencial é apontar os pontos positivos da nossa cultura, como a inovação”, diz Cristina Lepikson, que dirige o ‘compliance’ na divisão de engenharia e construção.

Punição, segundo ela, é o último recurso, “exatamente como se faz com crianças”. (Folhapress)

Thais Dutra

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