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Categorias: Mundo
| Em 7 anos atrás

Ocupação da Palestina é projeto nacional israelense, diz diretor de ONG

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Já se passaram 50 anos desde que Israel tomou o controle da Cisjordânia. Com o tempo, organizações humanitárias têm encontrado um público cada vez menos interessado em entender os impactos dessa ocupação.

“Assentamentos, mortos, feridos, controles militares. Tudo foi repetido”, diz Hagai El-Ad, diretor-executivo do B’Tselem. Fundada em 1989, essa é uma das ONGs mais influentes de Israel.

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Desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, a diminuição das críticas do governo americano à política de ocupações conduzida pelo país aliado esfriou ainda mais o debate que a organização de El-Ad tenta fomentar.

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Na quinta-feira (12), a administração Trump disse que vai deixar a Unesco por entender que a agência cultural das Nações Unidas é demasiado crítica a Israel.

“Não é que eu queira embelezar os oito anos da administração de Barack Obama, mas ele tinha sucesso em fazer com que [a estratégia de Israel para fixar assentamentos em território palestino] não fosse tão ruim quanto poderia”, diz El-Ad, que foi a São Paulo na semana passada para o Colóquio Internacional de Direitos Humanos.

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PERGUNTA – A ocupação israelense da Cisjordânia recentemente completou 50 anos. Qual é a situação atual?

HAGAI EL-AD – A ideia era que a ocupação fosse temporária, mas ela já dura cinco décadas. O tempo em que Israel não estava nas terras do povo palestino é uma memória distante. As pessoas não conhecem outra realidade.

– O que isso significa para os palestinos na Cisjordânia?

H.E. – Eles não têm direitos políticos. Israelenses tomam as decisões sobre quase todos os aspectos de suas vidas. Decide-se quem pode viajar, quem pode se casar com alguém de Gaza, quem ergue casas.

Mesmo se há dias em que palestinos não são mortos pelo Exército israelense em enfrentamentos, tente imaginar como é viver nessas circunstâncias. Esse é o nosso desafio: que as pessoas entendam que, mesmo sem violência física, há violência.

– Cinquenta anos depois, está se tornando mais difícil atrair atenção para a questão?

H.E. – Sim. Mesmo os aspectos mais extremos da ocupação, como os bombardeios em Gaza, já foram discutidos diversas vezes. Assentamentos, mortos, feridos, controles militares. Tudo foi repetido.

– Como alterar esse cenário?

H.E. – É difícil imaginar que o público israelense vá acordar um dia, depois de 50 anos, e decidir fazer algo. Aí é onde entra a ação internacional. Para mostrar ao público que, sim, precisa-se tomar uma decisão.

– Que argumento seria convincente para esse público?

H.E. – Um dos aspectos singulares dessa realidade é sua natureza não democrática. Incomoda que, ainda que milhões de palestinos não participem do processo político, Israel integre o clube da democracia.

Israelenses precisam decidir se vão continuar a oprimir os palestinos ou ser uma democracia. Não deveriam poder ser ambos.

– A política israelense está cada vez mais extrema?

H.E. – Sim. Parte da restrição que havia em Israel estava relacionada à política americana. Não é que eu queira embelezar os oito anos da administração Obama, mas ele tinha sucesso em fazer com que [a estratégia de Israel para fixar assentamentos em território palestino] não fosse tão ruim quanto poderia ser.

Hoje, com menos atenção do governo de Donald Trump aos assentamentos, o governo israelense entende haver um “sinal verde” para ir adiante.

– A situação é agravada pelo governo Netanyahu?

H.E. – É importante lembrar que a ocupação não foi inventada por Netanyahu. Alguns assentamentos foram construídos pela esquerda. Todos os governos, de direita, centro ou esquerda, fizeram parte desse projeto nacional israelense.

– O problema é mais social do que político?

H.E. – Uma coisa interessante que vemos em nossas pesquisas é que os israelenses têm bastante informação sobre a ocupação. Não são especialistas em direitos humanos, mas entendem que Israel está controlando a vida de milhões de palestinos. Você se dá conta, com isso, de que o conhecimento em si não leva a mudanças.

Digo a pessoas que palestinos e israelenses são julgados por tribunais diferentes, e me perguntam: “Qual é o problema?”. Você tem que voltar a conceitos básicos, como a igualdade perante a lei.

(FOLHA PRESS)

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