Marcus Vinícius
Um amigo jornalista, mais otimista, e também mais experiente do que eu, disse que governos se parecem muito nos primeiros 18 meses. Toda administração que se inicia tem pela frente os desafios de conhecer a máquina, arcar com os restos a pagar do governo anterior, e neste ínterim, preparar o caminho para implementar os projetos que acredita.Há casos que refletem aquilo que foi descrito por este amigo, que presta serviços no atual governo e, por isto, pede o obséquio do anonimato. Marconi Perillo (PSDB) é um exemplo. O seu primeiro governo patinou nos dois primeiros anos (1999-2000). A confusão era tanta, nem slogan o governo não tinha. Foram plagiar Siqueira Campos, que quando foi governador no primeiro mandato daquele Estado (1989-1990) lançou o mote: “20 anos em 2”. E foi este o primeiro slogan do marconismo. No final de 2000 uma pesquisa revelou que a população achava o governador distante do povo. Rápido, Marconi articulou o governo itinerante, e percorreu o Estado de ponta a ponta levando serviços e benefícios à população. A estratégia outras se somaram, como a iniciativa do secretário Giuseppe Vecci à frente da Indústria e Comércio, com a popularização do Banco do Povo e de cursos e treinamentos para micro e pequenos empresários. Ao final de 2001, Marconi tornou viável sua candidatura à reeleição.Ao tomar posse em 1995, o governador Maguito Vilela (PMDB) tinha pela frente um cenário difícil. O Estado com baixíssima capacidade de investimentos, e o Plano Real que renegociou dívidas dos Estados com a União cobrando um dispêndio altíssimo dos cofres estaduais para rolagem da dívida. Se não tinha condições de ser tocador de obras, como o seu antecessor, Iris Rezende (PMDB), o jovem governador fez a opção de ser um governo com olhar para o social. Lançou nos primeiros meses o programa de doação de cestas básicas e do botijão de gás às famílias mais necessitadas, e ao final do ano acrescentou a doação de leite e pão a estas famílias. Perseguindo este rumo, ampliou a ação social com a doação de lotes urbanizados aos sem-teto. Foi um sucesso. Deixou o governo com cerca de 85% de aprovação.Estes são exemplos que mostram como os governos podem se portar quando se depararam com um quadro de dificuldades. A solução pode ser maturada ao longo do tempo, ou nos primeiros dias o governante faz uma opção.O governador Ronaldo Caiado (DEM) ainda não apresentou uma agenda positiva. Seus primeiros seis meses foram de desenterrar esqueletos nos armários. Auditorias e investigações estão em curso nas áreas de saúde, com foco nos contratos das OS’s (Organizações Sociais) da saúde, no Ipasgo, e outros contratos de prestação de serviço na antiga Agetop (Agência Estadual de Transporte e Obras Públicas) ou nos contratos do Produzir e Fomentar, que compõe a cadeia de incentivos fiscais do Estado.É válida a exumação destes esqueletos. Interessa ao contribuinte saber como é gasto o dinheiro dos impostos. O momento exige transparência em todas as áreas da administração pública. Mas é preciso dizer que o controle sobre gastos, contratos, obras e serviços é parte da rotina de um governante. Estas são tarefas inerentes às função de governar. Não podem ser confundidas como programa ou projeto de governo.É papel de todo governo tapar buracos nas rodovias, fazer campanhas de vacinação, garantir remédios nos hospitais e postos de saúde, manter o funcionamento das escolas, hospitais, delegacias e repartições públicas. É o mínimo que se espera. O diferencial entre um governo e outro são as contribuições em áreas específicas. Iris Rezende foi um tocador de obras; Maguito Vilela, um governo voltado para a área social; Marconi Perillo notabilizou-se pela modernização das instituições; Alcides Rodrigues pela recuperação das finanças. Qual é o foco de Caiado?O momento atual é de dificuldades. O planejamento estatal, sobretudo aquele que parte da União, sempre norteou os rumos do Brasil. Agora o que se vê é um vazio absoluto de ideias no Palácio do Planalto. Não há nenhum projeto estruturante. Nada sobre grandes projetos de habitação, de recuperação de estradas, de incentivo à novas fontes de energia ou de melhorias na saúde ou na educação. Não há anúncio de retomada de obras paradas ou de renegociação das dívidas dos Estados, ou qualquer coisa que o valha e se traduza em mais recursos de Brasília para Estados e municípios.A insensibilidade de Brasília exige que cada unidade da federação se organize em bases próprias. Apesar de ter Messias no nome, o presidente Jair Bolsonaro não é nenhum personagem bíblico. Não fará cair o maná dos céus. Este cada um por sim deve ser motivo de preocupação do governador. A falta de solidariedade do Poder Central, vai exigir do governador muita capacidade política, pois terá que buscar na união de esforços, na participação de cada setor da sociedade goiana, os meios para resolver os problemas do Estado.Muitos escritores, jornalistas e políticos já disseram da solidão do poder. É aquele momento em que o líder se aconselha com muitos, mas só ele, e só a ele, cabe apontar qual rumo tomar. Quanto mais se isolar, mas o governador ficará distante de um bom governo. Se fizer a opção de repetir os exemplos de intolerância e insensatez do Palácio do Planalto, o governo de Goiás periga ir para o isolamento, com todas as consequências políticas que isto representa.