O prefeito de Anápolis Antônio Gomide (PT, na foto, em Iporá em 16/02) tem o final de fevereiro e quase todo o mês de março para tomar a sua decisão – deixar o Paço Municipal para encarar uma disputa estadual ou desistir das eleições de 2014 e focar os dois últimos anos da administração. Nos bastidores, a informação é que o petista só deixaria o seu cargo atual se for para ser candidato ao governo. Senado ou vice, só se for muito bem negociado antes do seu prazo final, de preferência com o ex-governador Iris Rezende (PMDB) na cabeça de chapa.
A pergunta que ocorre é: por que Gomide hesita tanto em deixar a prefeitura? Após mais de cinco anos à frente do Paço, o petista já conseguiu tudo o que um prefeito poderia querer. Colocou a casa em ordem após trágicas administrações desde a cassação do ex-prefeito Ernani de Paula pela Câmara Municipal em 2003. Foi reeleito em 2012 com 88,93% dos votos válidos, com mais de 85% à frente do segundo colocado, o deputado José de Lima, que teve 3,62%.
Se Gomide decidir não encarar “uma aventura”, como o próprio prefeito qualifica, ficará no cargo e terminará o seu mandato em 2016. No pleito municipal só poderia ser candidato se tentasse uma vaga de vereador, coisa que não ocorrerá. Ou seja, ficaria sem ação estadual até 2018, quando ocorrerão as próximas eleições para o governo. Será um ano e meio, no mínimo, sem mandato e holofote para se fortalecer ao próximo pleito eleitoral.
O petista correrá o risco de perder o chamado ‘time’ eleitoral. Ou, no bom goianês, “perder o cavalo que está passando arriado”. Hoje, Gomide é visto como o ‘novo’, alguém que pode representar uma mudança no cenário eleitoral goiano. Apenas isso é o suficiente para uma vitória ao governo? Provavelmente não. Mas já é um ótimo começo, vide o clamor de parte da sociedade para que novos nomes (e novas práticas) políticas apareçam como opção em outubro. Na pior das hipóteses terá se apresentado ao eleitorado de todo o Estado. Na melhor situação, será governador, vice ou senador.
Caminhos
Hoje, o PT tem um problema visível em apoiar a candidatura do empresário Júnior do Friboi (PMDB). Arestas forjadas pelo próprio Friboi, que parece preferir o DEM, do deputado federal Ronaldo Caiado, ao PT. Situação de heresia para a militância do partido. Com suas declarações, Friboi foi dando munição para aqueles que articulavam uma candidatura própria do PT internamente. A briga pública entre o prefeito de Goiânia Paulo Garcia (PT) – que representa a ala irista – e Antônio Gomide deu mais força ainda à postulação do anapolino. Lideranças pregam que o partido não pode se “agachar” para nenhum grupo peemedebista, seja ele de Friboi ou de Iris. Aliança sim, mas com respeito.
Gomide pode ser candidato ao governo pelo PT, com chapa pura ou aliado a alguns partidos menores. Ter o apoio do PMDB é descartado por quase todo mundo no meio político. Ser candidato sozinho não é o melhor cenário. A história mostra que, sem uma aliança, qualquer partido teria dificuldades imensas de eleger um governador no Estado. Missão quase impossível. Petistas, porém, defendem a tese de que as eleições de 2014 poderão ser atípicas e isso pode dar a vitória a Gomide. Apostam nos desgastes do governador Marconi Perillo (PSDB) e no discurso frágil de Júnior do Friboi.
Uma candidatura de Gomide ao governo, mesmo que sem êxito, marcaria a posição do prefeito e o fortaleceria para as próximas eleições estaduais. Não se tornará uma postulação frágil, já que certamente o anapolino seria o principal palanque para a reeleição da presidente Dilma Roussef no Estado. Mesmo derrotado, ele continuaria com influência fortíssima em Anápolis; a sucessão de 2016 passará, sem dúvida, por ele. Poderia ‘abençoar’ um aliado e continuar influente na prefeitura. Ao mesmo tempo, teria condição de formatar um projeto para 2018 e formar um exército para o pleito sem ter o desgaste de estar à frente de um cargo executivo. Se tiver êxito no projeto ao Palácio das Esmeraldas em 2014… Neste caso, não é necessário nem mesmo fazer qualquer comentário.
Outro caminho para Gomide seria concorrer à vice-governadoria ou à vaga goiana no Senado. O petista torce o nariz quando houve estes dois ‘planos B’. Alguns aliados, como o presidente regional do PT, Ceser Donisete, já defenderam que o prefeito não deveria deixar Anápolis para ser candidato a esses dois cargos (Ceser falou em entrevista à Tribuna no fim do ano passado). Mas qual seria o problema em ser candidato à vice ou ao Senado em chapa competitiva? Qualquer um dos cargos elevaria Gomide a algo que ele não é hoje – um político estadual. Participaria de todas as discussões do Estado e lhe daria chances, no futuro, de concorrer ao Palácio das Esmeraldas com uma base ampla de partidos.
Qualquer que seja o caminho de Gomide nas eleições de 2014, este parece ser melhor do que continuar na prefeitura de Anápolis. O prefeito tem muito pouco a perder no pleito eleitoral. Guardada as devidas proporções, a oportunidade atual para Gomide equivale a de seu irmão, deputado federal Rubens Otoni (PT), que em 2006 poderia ter sido candidato à vice do ex-governador Maguito Vilela (PMDB). Preferiu continuar na Câmara e indicou o ex-presidente do PT, Valdi Camárcio, que não foi aceito pelo PMDB. A oposição se rompeu e permitiu a vitória da base aliada, naquela eleição representada pelo ex-governador Alcides Rodrigues (PP).
Texto publicado originalmente no Tribuna do Planalto