– Sabe, filha, nos tempos áureos do meu metabolismo, adversário era adversário. O convívio podia até se estabelecer, mas negociações não tomavam o campo do pragmatismo político-partidário. PT era PT, PSDB era PSDB, PP era PP… e Lula nenhum saía sorridente em fotografias malufianas. Independente do objetivo. Naquela época, os fins justificavam meios que não nos envergonhavam.
Foi o que disse meu avô, no auge de suas 69 primaveras de flores, espinhos e bosta de passarinhos. Falamos sobre política.
Entre uma taça e outra do vinho mais barato que meu dinheiro pode comprar, embriaguei-me com a narrativa que soou meio utópica, meio real. Com a consagração da tênue divisa entre história e estória. Com a política de convicções conhecida e descrita por ele, com maestria, na noite do último domingo.
Uma conversa que merece o registro. Nostálgica. E a nostalgia aqui não está no orgulho que sinto desta referência em minha vida. Isso registro nos olhos. Está no fóssil de uma estrutura política que não pude conhecer, a não ser pelos relatos que beiram a classificação apócrifa nos dias atuais.
O meu avô!
Na autoria de um conto sobre um momento em que a ética se revestiu de teorias esperançosas e até utópicas. Quando os partidos possuíam regimentos coerentes e distintos entre si. Quando a militância não era esquizofrênica e sabia porquê lutar. Quando o discurso era propagado em coro, não por estratégia; por sintonia entre os membros dos grupos partidários.
Momento passado. Pretérito. Que não volta mais. Pena. Ou não. Outro momento.
À minha magnitude metabólica, restou o egopragmatismo. A briga pela manutenção do poder, custe o que custar. A incoerência, a contradição, a inabilidade dos representantes da esfera pública… A “nova ética da responsabilidade”, em que o interesse pessoal se traveste de interesse coletivo e prevalece.
Hoje, as propostas são elaboradas para afagar as necessidades do cidadão. E estas, por sua vez, não serão necessariamente cumpridas. Servirão para prorrogar a expectativa do eleitor e a vida útil do político no poder.
Uma cartilha retilínea, sem surpresas em seu planejamento.
E que ainda assim… Erram. São ineficientes. Com todo aparato mercadológico, assessores, marqueteiros etc e tal…
O PT, por exemplo, escancara despreparo.
Os petistas lutam pela conquista do governo de Goiás, mas se dispersam quando o “eu” fala mais alto.
Foi o que parece ter feito o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT). Perante a grande concorrência interna pela decisão de quem será o candidato em 2014, o petista jogou a toalha e optou por criticar o correligionário, Paulo Garcia, no que tange o assunto Saneago. Paulo, outro nome em pauta.
Na bola dividida, Gomide defendeu o govenador do Estado, Marconi Perillo (PSDB) – que se desespera em busca da boa imagem perdida com o caso Cachoeira -, colocando o prefeito da Capital na berlinda.
O que se viu: o ato político estabelecido por um petista a questionar a responsabilidade do tucano, que era a possível cassação da concessão da Saneago para o Estado, acabou beneficiando o governador graças a um outro petista.
Petistas que querem ocupar o lugar deste mesmo governador batem cabeça.
Petistas pouco, ou nada, estratégicos. Contemporâneos! Da minha época.
Sem me orgulhar, reflito sobre a longevidade desta política institucionalizada carente de valores e ideais. São tantas contradições que posso prever um resultado a curto prazo.
Qual? Imaginem.
Já o meu avô… O meu avô conta. Me conta. Conta outra, que é para eu ser feliz.
A política do meu avô é a que importa. A história é esta. Estórias do meu avô.