Entre os documentários de maior relevância quando se trata de educação no Brasil estão “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, em parceria com a Fundação Bradesco, e “Nunca me sonharam”, de Cacau Rhoden, de iniciativa do Instituto Unibanco. As duas produções têm aproximadamente dez anos de diferença, apesar de trazerem as mesmas pautas dentro do contexto da educação: desigualdade social, amizade, conflitos e perspectivas de futuro na visão dos adolescentes.
Em entrevista ao Diário de Goiás, o cineasta Cacau Rhoden falou sobre a importância do “Nunca me sonharam” para a sociedade, de fomentar o debate sobre a melhoria que deve ser feita na educação brasileira e a atenção especial que os estudantes devem e merecem receber.
“Acho que a gente cumpriu a primeira etapa de uma missão que é realizar um filme que trate de um assunto que é tão urgente, tão impactante para toda a sociedade. E depois que você faz um filme, ele é do mundo. Agora, acho que ela cria vida própria e vai construindo sua própria história. É claro que precisa de um acompanhamento nosso, com onde o filme será exibido, tem ido para festivais, ganhou um festival fora do Brasil. Acho que o principal é que o filme fomente a discussão sobre educação. Acho que esse papel ele está cumprindo, foi uma surpresa muito positiva de termos atingido um público tão grande, um assunto que ainda está na caixa dos assuntos chatos e começa a se tornar um assunto interessante. […] Mais que sobre educação, acho que o filme é sobre desigualdade social e a educação como pano de fundo, é um recorte para falar dessa, que eu acho que seja a principal causa dos nossos males”, afirmou.
Durante debate com os cineastas João Jardim e Cacau Rhoden, no 2º Congresso de Jornalismo de Educação, realizado em São Paulo, foram citadas as diferenças da linguagem sobre educação quando se trata de notícias veiculadas pelos jornalistas e a produção audiovisual de diretores de filmes.
“Acho que o cinema usa das regras criadas pela poética de Aristóteles, que é a coisa da dramaticidade. Então, a gente pega as pessoas pelo drama. Acho que o ser humano está em uma necessidade de entender a vida e a si mesmo. A notícia, muitas vezes, deixa a gente até mais confuso. Acesso os sites de notícias pelo menos quatro vezes por dia e nem por isso eu tenho o melhor entendimento do muito. Eu fico até mais confuso. No ponto de vista de quem lê a notícia, você sente falta do jornalista colocar mais aquilo ali dentro do contexto, do porque aquilo é importante para o país. […] Acho que do ponto de vista de um documentarista, você sempre está preocupado com o que está realizando sobre como aquilo está impactando quem está vendo. Primeiro, imaginamos que a pessoa está na sala escura vendo o documentário. Para mim, é a verdadeira interatividade, você produzir uma coisa que está na tela e aquilo provocar que a pessoa pense, entenda, o que ela sente. Então, acho que a diferença do documentário é que a gente sempre tem a preocupação de dar o entendimento até para o inconsciente das pessoas, você tenta tocar pretensiosamente o inconsciente, tudo que estamos construindo dentro da gente sobre aquela temática, sobre aquelas pessoas que estão ali”, explicou João Jardim.
O diretor do “Pro dia nascer feliz” também comentou sobre a pouca produção de documentários e filmes que tratem sobre a educação no Brasil e traga esse assunto para a pauta cotidiana.
“O filme foi lançado em 2007 e demorou muito tempo para fazer outro filme assim. Me espanta muito no Brasil os cineastas não terem essa iniciativa. Os Estados Unidos fazem vários filmes, a França, a Inglaterra sabe, aí a gente tem um universo escolar tão rico para o tema do documentário e não vejo. Não entendo porque não se faz mais. Para mim, fazer esse documentário foi uma necessidade. À época as pessoas perguntavam se da Fundação Bradesco tinha me contratado. Ninguém entendia que uma pessoa podia querer fazer um documentário sobre aquele tema de livre e espontânea vontade, sem ninguém estar te contratando”.
Sobre isso, Cacau Rhoden destacou também que a falta de produções sobre a temática pode ser um “retrato do que as pessoas pensam sobre educação”. No entanto, os dois cineastas contam que ao chegar nas escolas para fazerem as filmagens, é possível encontrar uma infinidade de opções para focar o debate em função ao ambiente rico de interações, conflitos, interesses e carente de atenção, que é o ambiente escolar.
“Talvez seja um retrato do que as pessoas pensam sobre educação. A maioria das pessoas acha o tema educação muito chato e é absolutamente o inverso”, concluiu Cacau.
Ao Diário de Goiás, o diretor de “Nunca me sonharam” informou que continua trabalhando com educação e, desta vez, a previsão é de que seja lançado entre outubro e dezembro de 2018 uma série para TV a cabo.
“Estou fazendo uma série agora. Não posso falar muito ainda por questões contratuais e aquela coisa toda, mas é uma série sobre educação, sobre escolas que quebraram com todos os paradigmas da educação que é oferecida em larga escala e escolas que estão experimentando um fazer diferente. Tudo indica que entre outubro e dezembro já estará no ar em TV a cabo. É um projeto pessoal inspirado em um programa do Instituto Alana, que chama “Escolas transformadoras”. A gente não sabe ainda se levará o mesmo nome do programa porque ele diz muito sobre o que se trata ou se terá outro nome. Já terminei de filmar, estou montando e agora a gente está nesse processo de entender como será lançamento, essas coisas”, disse.
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