A história é antiga e conhecida. No começo da carreira, Sidney Magal pediu para que Vinicius de Moraes (1913-1980), seu primo, lhe desse uma música.
No lugar da canção, ganhou um conselho. “Olha, com a tua pinta, com o teu tamanho, com a tua beleza, você acha mesmo que vai gravar uma bossa nova, num banquinho? Seu negócio é partir para a galera que o público vai delirar com você.”
“Hoje eu entendi, mas na época fiquei meio cabreiro: ‘poxa, ele não quer me dar porque eu sou uma merda'”, diz Magal em entrevista à Folha de S.Paulo.
É 2017 e a dica do parente famoso parece ter vingado. Magal completa cinquenta anos de carreira, efeméride que comemora com a gravação do DVD “Bailamos” num show que acontece nesta quinta (17), em São Paulo (SP).
Magal não estará sozinho. Dividirá o palco com Ney Matogrosso, Alexandre Pires, Rogério Flausino, Milton Guedes, Ana Carolina e Rincon Sapiência, o único que não tivera nenhum contato com o amante latino antes.
Convidar Sapiência foi ideia do filho, Rodrigo West, que, de início, não obteve lá muita fé de Magal. “Eu disse, ‘Rodrigo, você vai convidar o rapper para cantar no disco da Sandra Rosa Madalena? O rapper não vai se encaixar, vai falar ‘não, não é minha praia'”.
Único “desconhecido”, Sapiência é também o mais novo dos convidados. E, se por um lado ganha elogios de Magal -é um cara que tem um cuidado com harmonia, com melodia, tem influências africanas muito fortes e é uma coisa muito legal de ouvir”- o mesmo não acontece com outros artistas da sua geração.
“A música de hoje enfraqueceu muito a criatividade das pessoas. Existe uma chamada ‘MPB moderna’, que eu acho muito bonitinho, mas que eu também acho muito infantilzinho, muito suavezinho”, diz Magal. “Talvez o mundo esteja precisando disso, mas eu acho que não tem a força da música popular brasileira que nós sempre tivemos. São todos muito parecidos”, completa.
Os cabelos grisalhos, o peso e as roupas mais discretas denunciam que o amante latino já não é mais o mesmo.
O assédio continua, mas agora “com mais respeito” -“elas já não se jogam mais em cima de mim.”
Diz que deixou as camisas abertas, os saltos e as calças apertadas, figurino que alçou seu nome ao status de galã em décadas passadas. Agora, aposta em blazer -“tem a ver com a minha idade”- peça de roupa que deve ser usada na noite da gravação.
“O Sidney Magal cigano existe dentro de mim. Fora, ele já foi faz tempo.”
“Bailamos” ganhou classificação indicativa de 18 anos, mas Magal garante que põe para dançar até o público mais jovem, que diz conhecer de festas de formaturas, eventos que hoje ocupam boa parte da sua agenda.
“O que eu encontro de elogio é o seguinte: ‘a tua energia é muito legal no palco’. Eu me jogo literalmente, mesmo com a idade que eu tenho. Chegam para mim e dizem: ‘suas músicas são pra cima, você tem um pique incrível, faz tudo com um tesão tão grande que você contagia a gente’.”
Seus shows, afirma, escapam do coro “Fora, Temer”, que costuma pautar grandes espetáculos da música brasileira -garante que também não ouviu “Fora, Dilma”. “Eu acho que eu os envolvo com tanta alegria que as pessoas vão ali e pensam ‘ah, quer saber de uma coisa? Que se dane, quero ser feliz'”, diz.
Mesmo com 19 discos no currículo, Magal se vangloria mesmo é da sua presença no palco. “Antes, eu pensava ‘por que eu não ganho tantos discos de ouro quanto o Chitãozinho e Xororó?’ Entendi que é porque eu sou um artista que as pessoas querem ver. Não sou um artista para a pessoa botar ‘ah, ouve o Magal ai’.”
Pelos 50 anos de carreira, Magal também deve ganhar uma biografia e um filme.
O livro sairá pela editora Irmãos Vitale em outubro. Quem assina é a escritora Bruna Ramos da Fonte, que levou seis meses para finaliza-lo.
“Há histórias contada por Sérgio Reis, Ney Matogrosso, Ronnie Von. Tive sorte também porque o Magal guardou recortes de jornais e revistas durante toda a carreira. Ele é muito autêntico, muito alto astral. Fala sobre erros e acertos com a mesma honestidade. Ele não é uma pessoa que fica tentando mascarar uma coisa ou outra”, diz Fonte.
Na obra, ela promete revelar a idade oficial do artista
“A gente brinca que é um livro de ‘autoajuda com Sidney Magal’. Nas histórias dele, ele sempre tem um ponto de vista legal”, completa.
No livro, Fonte promete revelar a idade oficial do músico, segredo que o guardado até então. Também há trechos sobre a morte de uma ex-namorada, passagem que arrancou lágrimas de autor e biografado.
Já a obra para as telonas deve ficar para 2018. A ideia, diz Magal, é contar a sua historia de amor com a mulher, Magali, com quem é casado há 37 anos. (Folhapress)