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Sociedade
| Em 7 meses atrás

Novas formas de relacionamentos, diferentes dos moldes tradicionais, crescem entre os jovens

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A atual geração de jovens é composta por uma grande parcela de pessoas que busca se descolar dos moldes de relacionamentos tradicionais, fixos e duradouros, com responsabilidades hierarquizadas e não flexíveis. Trata-se da agamia, um modelo relacional que consiste na não formação de casais ou casamentos, e que tem se tornado cada dia mais comum.

De acordo com pesquisa feita pelo IBGE, referente ao ano de 2023, o número de pessoas solteiras no Brasil era de 81 milhões, enquanto as casadas somam 63 milhões. De acordo com a psicóloga Karina dos Santos Siqueira, especialista em neuropsicologia e análise do comportamento, os jovens têm optado pela agamia em função da aversão ao histórico de relacionamento vivido pelas gerações passadas.

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“Todo o nosso comportamento é aprendido e vem da nossa família. E essa geração cresceu vendo os pais e familiares com relacionamentos desestruturados. Isso faz com que o jovem olhe para essa situação e pense que não quer isso. Por mais que eles tenham outros exemplos, vão se basear pelo familiar. Ou seja, vai ter essa tendência a não buscar algo que não faz sentido para ele, porque em sua família não fez”, explicou, em entrevista ao Diário de Goiás.

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Pelo motivo citado, os jovens da geração Z (nascidos entre os anos de 1997 e 2010), optariam por relacionamentos casuais, até mesmo sem filhos, pelo fato destes gerarem vínculos. “Aprofundar, para eles, dá trabalho, e essa nova geração tem um pouco mais de dificuldade em lidar com sentimentos complexos, como amor, mágoa e angústia, proporcionados em relacionamentos profundos”, justifica a psicóloga.

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Traumas psicológicos

Há, ainda, pessoas que passaram por relacionamentos considerados “trágicos” e, por isso, preferem não se relacionar de maneira constante novamente. Uma jovem, que preferiu não ter a identidade revelada, salientou, em entrevista ao Diário de Goiás, o comportamento ainda existente por grande parte dos homens.

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“A maioria dos homens é muito machista. É muito difícil encontrar um homem com a mente aberta. Eles acham que podem fazer tudo, e as mulheres devem aceitar e ser submissas. Eu não nasci para ser submissa. Não quero ter a obrigação de cuidar da casa, dos filhos. Porque geralmente os homens não têm essa obrigação. Na cabeça deles, eles vão chegar em casa, se sentar no sofá, ligar a TV, assistir futebol, enquanto a mulher vai para a cozinha, preparar o jantar para ele. Eu não quero isso para a minha vida”, justificou.

Diante da afirmativa, a jovem frisou não enxergar vantagens nesse tipo de relacionamento. “Se a mulher vai casar e ter que dividir as contas com o marido e ainda cuidar da casa e de mais pessoas, além dela, eu não vejo vantagem nenhuma em relacionamento”.

Ela destacou, ainda, a responsabilidade da mulher quando se torna mãe, sobretudo após um período de separação. “A criança sempre fica com a mãe. Então, acaba que a mulher é que fica com toda a responsabilidade. Uma pensão alimentícia, na maioria dos casos, é no valor de R$200 ou R$300, quando eles pagam. É vergonhoso ficar atrás de uma pessoa para ajudar com as despesas dos filhos”, evidenciou.

Novos tipos de amor

A psicóloga, que atua no Hapvida, também destacou outros tipos de relações vivenciadas pelos jovens da geração atual, como a poligamia e a não monogamia, nas quais é possível ter diversos tipos de relações: casuais, paralelas, constantes etc.

“O jovem tem essa necessidade de ser livre e querer experimentar o novo”, disse, com a ressalva de existirem, ainda, de acordo com a profissional, pessoas que encontram dificuldade com a fidelidade, além de haver outras que apenas desejam se entregarem a outras pessoas, sem culpa.

Não monogamia

A não monogamia, entretanto, vai muito além, de acordo com o exposto pelo estudante de gestão pública e servidor público Matheus Godoy Marques Nunes. Com 23 anos de idade, o jovem se considera não monogâmico, em um relacionamento constante, com um parceiro romântico fixo.

“Quando eu falo da não monogamia, as pessoas acreditam que seja se relacionar com várias pessoas. Mas não, a monogamia está no sentido de centralização, em que existe um casal ou uma família de formação, e outros afetos devem ser ignorados. A não monogamia vem para questionar essa visão, para que possamos entender que somos pessoas que se relacionam entre si”, disse.

Godoy afirma que a fidelidade existente dentro da não monogamia é manifestada de uma forma diferente da monogamia, em que ela é vista como uma espécie de contrato. “Na monogamia, a pessoa só pode sair, por exemplo, para ver os pais ou se o parceiro deixar e estiver bem para isso. Ou seja, é um tipo de contrato que pode ser um problema”, explicou.

“Fidelidade para mim não é meu namorado estar com outra pessoa, mas sim não trair no sentido de confiança e honestidade. Vamos supor que sentimos vontade de ficar com outra pessoa. Iremos conversar a respeito. É isso o que importa na não monogamia”, salientou.

O jovem exemplificou ainda outras relações de afeto: “Caso exista um ex-ficante e uma das pessoas queira manter uma amizade. Se marcassem, por exemplo, um almoço. Na monogamia, o parceiro nem contaria para o outro. Apenas omitiria a informação e, dessa forma, cometeria uma traição. Já na não monogamia você fala a respeito daquilo e procura compreender a visão e o sentimento do outro e tratar isso em conjunto”, pontuou.

“A visão que as pessoas têm da não monogamia é de traição, promiscuidade, mas, na verdade, é o contrário. A monogamia está ligada ao sentimento de posse, a vontade de querer que a pessoa pertença a você. Já a não monogamia parte do pressuposto de que existe comunidade, de fato. É sobre coletividade. Não é sobre você achar o que é melhor para você, apenas, mas sobre as pessoas entenderem o que é melhor para elas. Isso vai muito além do beijo, do abraço, mas do respeito ao espaço da pessoa na sociedade”, acrescentou.

Matheus evidenciou sempre ter tido esse tipo de visão. Declarou-se, porém, de fato uma pessoa não monogâmica após o fim de seu relacionamento anterior. “E sempre entendi que as relações deveriam ser mais livres e flexíveis, e eu queria isso para a minha vida. Mas, em um relacionamento anterior, completamente monogâmico, no modo geral, eu percebi que eu deveria me posicionar como uma pessoa não monogâmica, pois aquela estrutura não fazia bem para mim”, enfatizou.

Dentro desse cenário, o jovem enxerga, até mesmo, a possibilidade da construção de uma família, com moldes diferentes, baseados em poucas regras e mais amor e parceria. “Caso eu tenha uma família, ela vai ser uma família de fato, com pessoas que estarão ali amparando umas às outras, porque família não é uma coisa unitária, que fecha em um único círculo. Família envolve avós, avôs, tias, primos, e toda a sociedade, em geral”.

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