A nomeação da professora Angelita de Lima para a reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG), pelo governo federal, por meio do Ministério da Educação, causou revolta na comunidade acadêmica da instituição, que elegeu, por meio de consulta pública, a professora Sandramara Chaves. Em entrevista ao Diário de Goiás, cientistas políticos e professores da Universidade afirmaram se tratar de um desprezo por parte do presidente Jair Bolsonaro pelas normas democráticas.
“Considero que o governo Bolsonaro, mais uma vez, desrespeitou o processo democrático estabelecido dentro da UFG. A nomeação da terceira colocada na lista tríplice afronta, a meu ver, a vontade da comunidade universitária, cuja autonomia é garantida pela Constituição Federal”, destacou Luiz Signates, cientista político, pesquisador e professor de Comunicação da instituição.
O profissional destaca, entretanto, a competência da nomeada para o cargo, com a ressalva de que tal escolha não traz nenhum benefício a Bolsonaro, visto que Angelita é filiada ao PT. “A escolha do presidente, a meu ver, afrontou a vontade da universidade sem qualquer ganho político para ele. Desagradou a comunidade universitária por inteiro e, pela escolha feita, nada ganha com a reitora nomeada”, frisou Signates.
“A professora Angelita é extremamente competente e comprometida com a universidade. Ela deverá assumir a reitoria da UFG e certamente terá o apoio da universidade para enfrentar o que para ela, com certeza, é um constrangimento político”, acrescentou o cientista.
Autoritarismo
Para o também professor da UFG e cientista político Guilherme Carvalho, se trata de uma atitude autoritária e antidemocrática, mesmo estando dentro do ponto de vista formal. “Há como se jogar dentro da Constituição e também não ser democrático. Isso é bem perceptível e essa perspectiva se adensa ainda mais se você parar para pensar que a autonomia universitária é o espelhamento da democracia liberal no interior da Universidade. Na verdade, um dos redutos de espaços democráticos que se tem para fora dos ritos formais de uma eleição”, elucidou.
“De modo geral, o desrespeito a uma decisão da maioria, uma decisão tomada em grupo, em um espaço público como é a Universidade, nada mais é do que um desrespeito à própria democracia. Então, apesar de se valer de instrumentos constitucionais, foi sem dúvida nenhuma uma das atitudes mais autoritárias contra a educação que nós assistimos nos últimos anos de governo Bolsonaro”, acrescentou o profissional.