O terremoto de magnitude 7,1 que atingiu a Cidade do México e mais quatro Estados na tarde desta terça-feira (19) e provocou a morte de ao menos 120 pessoas até o momento traz de volta à lembrança o grande sismo que devastou a capital mexicana neste mesmo dia, em 1985.
Eram 7h19 quando um grande abalo de 8,1 graus -com epicentro no mar de Michoacán, no oceano Pacífico- fez com que muitos prédios e casas da capital desmoronassem.
As equipes de resgate tinham dificuldade para encontrar as pessoas devido à quantidade de escombros. Para piorar a situação, no dia seguinte, outro tremor, desta vez com magnitude de 7,3, fez com que mais edifícios desmoronassem e mais pessoas morressem ou fossem consideradas desaparecidas.
O fato causou pânico na população, que, dividida entre encontrar algo sob os escombros e se distanciar do perigo, optou pela segunda alternativa, fosse a pé ou em automóveis.
Cerca de 25 brasileiros, sendo 20 integrantes do grupo teatral Ornitorrinco, conseguiram escapar com vida da tragédia, entre eles a atriz Rosi Campos. Eles estavam hospedados no hotel Hilton Continental. “Dos quinze andares do edifício, sobraram apenas cinco. Vai ser difícil esquecer”, afirmou Pedro Pereira da Silva, do grupo teatral. Outros 300 hóspedes não tiveram a mesma sorte.
Ao todo, 93 brasileiros conseguiram deixar o México e chegar ao Brasil no dia seguinte à tragédia. Entre eles estavam o jornalista Dermi Azevedo, que trabalhava na Folha de S.Paulo e estava de férias no país. O Itamaraty informou que não havia brasileiros entre as vítimas.
Além das vidas perdidas, o terremoto de 1985 destruiu um dos mais ricos patrimônios culturais da humanidade, com danos a Catedral, de 1567, e ao Palácio Nacional, a sede do governo, que remete à época da conquista espanhola.
Os hotéis Régis, Principado, Continental e Romano ficaram arrasados. Também foram destruídos mais de 40 murais de Diego Rivera (1886-1957), que ao lado de José Clemente Orozco (1883-1957) e David Alfaro Siqueiros (1896-1974), constituiu o trio mais famoso da pintura mural em todo o mundo, todos eles militantes esquerdistas.
Os dias se passavam e a possibilidade de resgatar pessoas com vida diminuía. Mas o salvamento de um recém-nascido nos escombros de uma maternidade, 55 horas após o terremoto, reacendeu a esperança. Outros 57 bebês também foram retirados de lá, mas muitos não resistiram.
Oitenta horas depois do primeiro tremor, as equipes de regaste tinham conseguido encontrar pouco mais de 400 sobreviventes. O caso mais dramático foi da menina de um ano e meio Jessica Alonso, retirada dos escombros de sua casa na Cidade do México, ao lado do cadáver de sua mãe.
Equipes de diferentes países, como França e EUA, participaram dos salvamentos em toda a cidade. O Brasil foi representado por bombeiros e policiais enviados de São Paulo, com mais de 350 kg de equipamentos.
Na época, especialistas da área da saúde diziam que o fato de haver cadáveres em decomposição em meio aos escombros poderia provocar surtos epidêmicos entre a população, e que seria necessária uma remoção mais rápida de todo aquele concreto. Porém, o presidente do México, Miguel de La Madri, recusava-se a usar dinamite ou qualquer outra medida do tipo enquanto houvesse a possibilidade de resgatar pessoas.
O terremoto que praticamente dizimou a capital Cidade do México matou mais de 10 mil pessoas -há divergências entre autoridades e especialistas, que afirmam que esse número pode ter sido próximo de 40 mil-, feriu cerca de 30 mil, destruiu mais de 400 edifícios e deixou aproximadamente 100 mil desalojados. (Folhapress)