Abuja, 28 – Os nigerianos vão às urnas neste sábado para eleger um novo presidente, em uma disputa que deve ser bastante apertada, segundo analistas. Os locais de votação abriram com atraso em muitas regiões, com as autoridades correndo pelo país para entregar as urnas e cédulas, usando até mesmo mulas e camelos em áreas remotas. As ruas da capital, Abuja, ficaram desertas. Somente autoridades eleitorais, observadores independentes, forças de segurança e alguns veículos de imprensa tinham autorização para viajar pelas estradas. Todas as fronteiras terrestres e marítimas foram fechadas por precaução.
Quase 60 milhões de eleitores estão registrados para votar na primeira eleição da Nigéria onde um candidato de oposição tem chances reais de vitória. O atual presidente, Gooluck Jonathan, e o ex-ditador militar Muhammadu Buhari (que ficou no poder entre 1983 e 1985) são os favoritos entre os 14 candidatos que pretendem governar o país mais populoso e rico da África. Buhari foi o primeiro a votar em uma seção eleitoral que abriu com 30 minutos de atraso em Daura, sua cidade natal, no Estado de Kastina, no norte do país.
Já Jonathan chegou cerca de uma hora depois ao seu local de votação, no rico Estado sulino de Bayelsa, onde há grande produção de petróleo. Entretanto, três máquinas recém importadas não conseguiram realizar a leitura da sua impressão digital, nem de sua esposa, e ele teve de voltar duas horas depois, quando acabou votando sem fazer o reconhecimento biométrico. O uso inédito dos aparelhos é uma forma de tentar combater os relatos de fraude que marcaram eleições anteriores.
(Estadão Conteúdo)
“Eu apelo aos nigerianos para que sejam pacientes, não importa o que aconteça, desde que nós possamos realizar uma eleição livre e justa que o mundo inteiro aceite”, afirmou o presidente. Mesmo assim, os eleitores reclamaram da demora no reconhecimento biométrico, que poderia impedir muitas pessoas de votarem. As autoridades têm dito, porém, que todos que estiverem na fila poderão votar, independentemente do horário.
Esta é a oitava eleição na Nigéria desde a independência da Grã-Bretanha, em 1960. Em um país marcado por um histórico de golpes militares e conflitos armados causados por rivalidades políticas, étnicas e religiosas, o pleito é importante para tentar consolidar a democracia. Há grande interesse internacional, até porque o país é o maior destino de investimento estrangeiro direto do continente. Jonathan está no poder desde 2010, quando era vice e assumiu após a morte do então presidente Umaru Yar’Adua.
Recentemente, a economia tem sido prejudicada pela forte queda nos preços do petróleo e o ressurgimento do grupo extremista islâmico Boko Haram. Na sexta-feira, o Exército afirmou que destruiu a sede dos insurgentes e expulsou o grupo de todas as grandes cidades no nordeste do país – o que parece improvável. Críticos dizem que as recentes vitórias militares, após meses de avanço do Boko Haram, são uma forma de iludir os eleitores, mas a campanha do presidente rechaça essas acusações.
Jonathan e Buhari assinaram na última quinta-feira um acordo de paz e prometeram aceitar o resultado das urnas, qualquer que seja ele. Em 2011, quase mil pessoas morreram nos protestos que se seguiram às eleições, nas quais Buhari perdeu para Jonathan. O país, com quase 170 milhões de pessoas, é dividido praticamente pela metade entre cristãos, como Jonathan, que dominam o sul, e muçulmanos, como Buhari, que são maioria no norte. Fonte: Associated Press.