O indigenista Bruno Pereira, morto perto da Terra Indígena Vale do Javari junto com o jornalista britânico Dom Phillips, classificou a gestão do governo Jair Bolsonaro (PL) como “a administração do caos”.
A declaração foi feita em entrevista à Folha de S. Paulo, no dia 22 de abril, duas semanas antes de ele desaparecer na Amazônia. O jornal o procurou para comentar sobre os riscos enfrentados pelos indígenas isolados, o que é a sua especialidade.
“O primeiro passo era começar a ter equipes para localização de isolados bem formadas, estruturadas e com metas claras de atuação. Não tem isso hoje. Temos uma deficiência histórica e nesse governo é proibido querer resolver problemas”, afirmou.
Na sua avaliação, “o Estado sempre foi muito importante na política de proteção dos índios isolados”, tendo o Brasil sido “vanguardista, no mundo, na América”, com uma política pública que “foi muito copiada”, mas que “hoje está na mão de pessoas com interesse, que a gente sabe que não é proteger os isolados”.
Bruno também disse que, “num contexto para além dos índios isolados, o presidente não demarcou um centímetro como ele prometeu”. E completou: “O presidente da Funai [Fundação Nacional do Índio, onde era servidor concursado], o [Marcelo] Xavier, está lá para isso. É a administração do caos. Não sei, não [suspiro]. Difícil, cansativo, perigoso. Vamos simbora”.
Em outro trecho, a Folha questionou Bruno sobre sua licença da Funai e a perseguição que sofria. “Eu vim para a resistência e estou sendo perseguido desde então até hoje. Estão abrindo processo contra mim. Minha aliança é muito maior com os índios que com o Estado e a Funai. Não estou preocupado.”
“Eu não recebo, mas continuo servidor público. Posso ficar até seis anos nela [licença]. Sou concursado. Acho que eles acharam que iam se livrar. Ninguém achava que ia sair a licença, e eles deram. Saiu, eu me silencio, vou para sombra e vou costurar essas articulações no país inteiro com um monte de gente”, acrescentou.
De acordo com o indigenista, ele é vítima denúncia devido a suposto “conflito de interesse por estar atuando na atividade privada indígena”. Para ele, esse tipo de perseguição reflete “o perfil autoritário dessa gestão”.