BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou em rede social nesta terça-feira (3), véspera do julgamento do habeas corpus impetrado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no STF (Supremo Tribunal Federal), que repudia “a impunidade”.
Ele escreveu que o Exército está ainda “atento às suas missões institucionais”, sem detalhar o que pretendeu dizer com a expressão.
O general fez duas postagens na noite desta terça-feira (3). Na segunda, afirmou: “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.
Na primeira postagem, o general escreveu: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”.
Quarenta e cinco minutos depois das postagens, os comentários tinham cerca de 4.500 “curtidas”. O comandante do Exército tem 118 mil seguidores no Twitter.
As afirmações do general surgem em um momento de tensão social e política, com protestos ocorridos ou marcados em várias partes do país contra e a favor de Lula.
Em resposta ao general, o comandante militar da Amazônia até o mês passado, general Antonio Miotto, afirmou: “Comandante! Estamos juntos na mesma trincheira! Pensamos da mesma forma! Brasil acima de tudo! Aço!”.
O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, reproduziu o comentário do general no Twitter com um emoji (ícone usado em trocas de mensagens) de aplauso.
Em nota, o Ministério da Defesa afirmou que o comandante do Exército “mantém a coerência e o equilíbrio demonstrados em toda sua gestão, reafirmando o compromisso da Força Terrestre com os preceitos constitucionais, sem jamais esquecer a origem de seus quadros que é o povo brasileiro”.
Segundo a nota, o general “manifesta sua preocupação com os valores e com o legado que queremos deixar para as futuras gerações. É uma mensagem de confiança e estímulo à concórdia”.
O Palácio do Planalto não se manifestou sobre as declarações do general. Procurada, a assessoria de imprensa do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, afirmou que ele não costuma comentar declarações.
O chefe do Estado Maior do Exército, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou à reportagem que a fala de Villas Bôas é a opinião da corporação. ” Se o comandante do Exército se manifestou, essa é a opinião do Exército”, disse.
General desde 2011, Villas Bôas, de 66 anos, assumiu em 2015 o comando do Exército. Ele enfrenta uma doença degenerativa grave, com perda de mobilidade. Já é visto em cadeira de rodas e também tem problemas respiratórios. O militar não diz o nome da enfermidade.
OUTRAS DECLARAÇÕES
Com as afirmações na rede social, Villas Bôas subiu o tom em relação ao discurso público que vinha fazendo até então. Em uma palestra a uma loja maçônica em março do ano passado, por exemplo, o comandante disse que o Brasil “é um país já uma sociedade sofisticada, com sistema de freios e contrapesos, com as instituições bem ou mal funcionando, que dispensa a sociedade de ser tutelada” e que sua proposta era que as Forças Armadas fossem “protagonistas silenciosos”.
Na ocasião, ele manifestou o desejo de que “a sociedade identifique sempre como garantia que os problemas não ultrapassarão determinados limites para que o país tenha garantida a segurança da população e garantido o avanço de, mais cedo ou mais tarde, nós solucionarmos esses problemas e reencontrarmos o caminho do desenvolvimento”.
Villas Bôas não explicou quais seriam os “determinados limites”.
As declarações de Villas Bôas encontram eco em afirmações feitas no ano passado pelo general Antonio Hamilton Mourão, que passou para a reserva em fevereiro.
Quando estava ativa, Mourão disse, durante uma palestra a uma loja maçônica do Distrito Federal em setembro de 2017, que as Forças Armadas poderiam “impor uma solução” caso o Judiciário não solucionasse “o problema político”. Na época ele não foi punido por Villas Bôas, que contemporizou as declarações do colega de farda.